Portugal está “na cauda da Europa no cronograma de desenvolvimento da quinta geração das comunicações móveis” – 5G – e “só há um responsável a quem possa ser assacada a responsabilidade por este atraso, que é o regulador, a Anacom”, acusou o presidente executivo da Altice Portugal, Alexandre Fonseca, durante um encontro informal realizado hoje com os órgãos de comunicação social, na sede da empresa em Lisboa. No entanto, o problema não se resume ao atraso na realização dos leilões das frequências de espetros utilizáveis para o 5G, nem ao facto de ainda não terem sido construídas as infraestruturas para cobertura territorial do 5G. O atraso sai caro a todos, aos operadores, à economia, às empresas e ao país, diz. “Portugal está a perder dezenas de milhões de euros com o atraso no cronograma de desenvolvimento do 5G e o responsável é a Anacom”, considera Alexandre Fonseca.
No 5G são mais os problemas que as soluções. “Há o cronograma de desenvolvimento geográfico do 5G e da migração da TDT, que deixa para último a Madeira e os Açores, há o problema dos leilões das frequências, há a questão da Dense Air, e outras questões que devem ser clarificadas sobre as quais ainda não há respostas certas que sirvam de orientação aos operadores. Tudo se deve à forma lamentável e incipiente como a Anacom tem conduzido este processo”, acusa Alexandre Fonseca.
“Os operadores ainda desconhecem o custo dos leilões das frequências”, adianta Alexandre Fonseca, “orientando-se apenas por estimativas”, face aos valores praticados, por exemplo, no mercado italiano, cujo território é cinco vezes maior que o de Portugal e onde as licenças para o 5G rondaram um valor da ordem dos seis mil milhões de euros e igualmente face ao que foi pago pelo 4G em Portugal, que foi aproximadamente de 900 milhões de euros. “Consideramos que o 5G em Portugal poderá envolver o pagamento de um valor que se situe no intervalo entre os 900 e 1,2 mil milhões de euros”, refere o executivo. “Um preço razoável seria o de 950 milhões de euros”, comenta, considerando que a Altice Portugal aguarda um valor que “permita trazer retorno” para a operação do 5G.
As críticas de Alexandre Fonseca à Anacom não deixaram em branco a situação da cobertura técnica territorial das comunicações móveis em Portugal, que inclui as situações caricatas das pessoas que “têm de subir ao cimo dos montes para fazerem chamadas com telemóveis”. “Esses problemas não se devem aos operadores: o responsável é a Anacom”, refere. Alexandre Fonseca diz que “atualmente há 1,5% dos portugueses que ainda não conseguem fazer uma chamada móvel por falta de cobertura da rede, mas a responsabilidade não pode ser assacada aos operadores, porque este problema tem um único responsável, que é o regulador, a Anacom”.
Ao fim de vários anos a liderar o desenvolvimento tecnológico europeu no sector das telecomunicações móveis, Portugal remete-se agora para a cauda da Europa, quando vários países europeus já têm o 5G em fases muito avançadas de implementação – o mais avançado de todos é a Itália, embora possa cair no exagero de ter “gasto tanto em boas estradas que agora possa não ter dinheiro para os carros”, ironiza Alexandre Fonseca. Além da Itália, também a Finlândia e a Alemanha estão em fases muito avançadas no 5G.
Depois de Portugal ter 4,8 milhões de casas ligadas por fibra ótica (e previsivelmente serão 5,3 milhões em 2020), de terem sido investidos dois mil milhões de euros nas telecomunicações do 4G, a que serão acrescidos mais 400 milhões de euros em 2019, depois do esforço de cobertura de fibra ótica nas freguesias do interior do país (a Altice prepara agora um evento em Castro Daire, na região Viseu Dão-Lafões de cobertura de fibra nesta região), a Altice não se conforma com o atual atraso no processo de introdução do 5G em Portugal.
Alexandre Fonseca diz que o descontentamento sobre a forma como a Anacom tem conduzido este dossiê não para de crescer: “temos o Governo a dar recados graves e incisivos sobre a postura do regulador”; os governos regionais estão “preocupados”; as empresas produtoras de tecnologia “a nível mundial dizem que Portugal está irremediavelmente atrasado”, por isso as conclusões não são boas para a Anacom. Mais: Alexandre Fonseca diz que se estivesse no papel do presidente da Anacom, João Cadete de Matos, “obviamente que me demitiria”, diz.
A questão é tanto mais grave, quanto já há atividade no 5G de fora de Portugal que não pode ser rentabilizada pelos operadores portugueses, e há empresas tecnológicas que desenvolvem soluções que não poderão ser implementadas em clientes específicos, como é o caso da indústria automóvel, das tecnologias de automação e das soluções que utilizam inteligência artificial. Para Alexandre Fonseca, são dezenas de milhões de euros de negócios que se perdem e que o setor português das telecomunicações não pode aproveitar.
Uma das características que diferencia o 5G é a de reduzir significativamente o tempo de latência nas comunicações terminal-antena-terminal, possibilitando menos milisegundos que a latência do 4G, o que é muito relevante na qualidade e no desenvolvimento de projetos como os da condução autónoma, das tecnologias de neurocirurgia efetuadas remotamente – por exemplo, um cirurgião a fazer operações à distância -, além do aumento da densidade de cobertura por quilómetro quadrado, o que é possível graças à instalação de maior número de células retransmissoras – o número de antenas instaladas pode aumentar 20, 30 ou 40 vezes face à cobertura atual, o que implica sempre transmissões mais rigorosas e um acompanhamento técnico de grande fiabilidade, e investimentos muito elevados.
Neste sentido, a Altice Labs conta com o apoio técnico dos seus 700 engenheiros, além do investimento efetuado (86 milhões de euros em inovação, em 2018), com unidades em Aveiro, Viseum Olhão, Ilha Terceira, Ribeira Brava e na área metropolitana de Lisboa, em Oeiras. “Continuamos a apostar no desenvolvimento tecnológico das comunicações móveis e é por isso que entrámos na fase do 4G+, que comporta uma tecnologia superior à do simples 4G”, explica Alexandre Fonseca.
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