Historicamente, a Europa é um continente de guerras. Diferentes nações, culturas e línguas, lutando por territórios, domínios económicos e imperiais.

Aquilo que alguns países europeus, há 60 anos, na ressaca do fim da Segunda Grande Guerra, decidiram iniciar, foi um projecto revolucionário: tentar começar a unir o que sempre foi separado. Nestes 60 anos, assistimos à queda do muro de Berlim, ao fim do bloco de leste e a um progressivo alargamento da União Europeia, que tem até um subgrupo mais interligado, a Zona Euro.

Aquilo que começou por ser um clube de poucos países ricos interessados em dinamizar o comércio entre si, passou a ser uma união de muitos países, já muito distantes, quer geográfica quer culturalmente, mas que foram alargando os domínios de ligação, do económico ao político e social. Nesse processo, a grande força aglutinadora dessa Europa em construção seria o chamado modelo social europeu, uma social-democracia avançada que combina capitalismo com socialismo num equilíbrio que se provou, até à data, o melhor sistema socioecónomico do mundo.

Porém, os sinais que o séc. XXI têm trazido não são animadores: a convergência entre países europeus, que se conseguiu durante o fim do séc. XX, transmutou-se em processos de divergência, iniciados pelos errados modelos de governação europeus, em especial da Zona Euro, que se afastaram da social-democracia, e potenciados pela crise financeira mundial que gerou a crise das dívidas soberanas.

Ninguém nega que o projecto europeu é difícil, mas começa a ser cada vez mais premente perguntar: é sustentável?

Que não haja ilusões: os povos europeus só quererão ter os benefícios da União (como a livre circulação de pessoas e bens) se os prejuízos não os suplantarem. O cidadão médio de um qualquer país europeu só quererá continuar na União Europeia se sentir que tem ganhos líquidos para a sua vida quotidiana, nomeadamente para o seu rendimento, emprego e qualidade de vida.

Uma Europa que não consiga proporcionar isso à generalidade da sua população está condenada ao fracasso. É que antes de europeus, os povos são das respectivas nacionalidades, e sentirão no apelo nacionalista uma segurança maior do que no apelo a uma prospectiva cidadania europeia próspera.

A única via para se criar um verdadeiro povo europeu é através da convergência real entre os níveis de vida das populações dos diferentes países, mantendo o respeito pelas diferenças culturais e tradições locais. E essa convergência tem que ser presente e contínua, não futura e com enormes retrocessos, como está a ser apanágio deste início de século.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.