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“Preços ultra-baixos”: Canadá já vende petróleo a 6,45 dólares por barril

O petróleo canadiano Western Canadian Select caiu para 6,45 dólares por barril. Na Sibéria, o petróleo russo é vendido a menos de 10 dólares e os preços negociados nos mercados chineses também caíram para um dígito, segundo a agência Bloomberg.
  • David M. Parrott/Reuters
31 Março 2020, 13h13

A réstia de esperança que os testes rápidos à Covid-19 propagaram no mercado dos EUA foi suficiente para amortecer a queda das cotações de petróleo durante esta manhã, com as cotações dos futuros do WTI a recuperarem 6,02% às 11h11 de Lisboa, sendo negociados a 21,32 dólares por barril, contra os 20,09 dólares fixados ontem, segunda-feira, no fecho dos mercados.

O ânimo foi diferente, em Londres, na cotação dos futuros de Brent, que ontem fecharam a 26,42 dólares por barril e que hoje, à mesma hora de Lisboa, estavam a ser negociados a 27,30 dólares, o que reflete uma subida de 3,37%. O grande problema é que apesar dos principais índices do sector – as cotações do Brent e do WTI – estarem abaixo dos níveis que viabilizam a indústria petrolífera, os pequenos produtores nem sequer chegam a vender o seu petróleo aos valores negociados para os barris de Brent e de WTI. Segundo a agência Bloomberg, além dos baixos preços negociados para o Wyoming Sweet – que é um dos melhores petróleos extraídos no centro oeste dos EUA –, também o Light Sweet do Dakota do Norte foi negociado a 9,97 dólares por por barril.

No Canadá, o Western Canadian Select caiu para 6,45 dólares por barril. Na Sibéria, o petróleo russo é vendido a menos de 10 dólares e os preços negociados nos mercados chineses também caíram para um dígito, segundo a Bloomberg.

O petróleo continua com preços inferiores a 30 dólares por barril, e a travagem rápida da atividade económica, por efeito da pandemia da Covid-19 não permite perspetivar grandes subidas de cotações durante abril. Pelo contrário. Segundo a agência Bloomberg, “a indústria (do petróleo nos EUA) está a preparar-se para algo que aconteceu nesta escala há 35 anos” e que é o encerramento dos poços de petróleo, porque a sua atividade deixou de fazer sentido económico.

A agência noticiosa refere que a situação da pandemia, da Índia à California, já envolve um número tão elevado de pessoas infetadas que a procura de produtos petrolíferos continua a cair por força do excesso de oferta existente nos mercados internacionais (que não é escoada, porque não há compras em quantidades suficientes para canalizar todo o petróleo disponível para ser vendido). A Bloomberg refere mesmo “o peso de um excesso (de petróleo) sem precedentes”.

No meio da América rural, a agência noticiosa foi encontrar – numa refinaria de petróleo de Coffeyville –, pessoas de idade avançada que recordaram épocas em que os preços do petróleo se aproximaram dos baixos valores a que atualmente estão a ser negociados, como os 1,75 dólares que a pequena refinaria local está disposta a oferecer por cada barril do sweet crude do Wyoming que esta unidade industrial precisa de comprar para “alimentar” a sua atividade de refinação. Este mesmo problema repete-se em vários cantos do mundo, no Canadá, na Rússia, na Índia e na China, em África e na América do Sul.

A Bloomberg quantifica o excesso de oferta de petróleo no mercado – provavelmente majorado pela guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia, que levou os sauditas a bombar ao débito máximo a sua extração de petróleo, inundando os mercados com um excedente de barris de petróleo, muito antes de serem sentidos os efeitos de travagem da economia provocados pela Covid-19 –, com uma ordem de grandeza que já envolverá cerca de 20% do consumo global.

Agora, as consequências no sector petrolífero serão inevitáveis, implicando que muitas unidades de extração, muitos poços onshore e muitas plataformas offshore sejam “desligadas”, isto é, que encerrem atividade enquanto as condições de mercado não absorverem o excedente de petróleo que há em todo o mundo.

No sector petrolífero fala-se agora de “preços ultra-baixos”, o que leva grupos de grande dimensão como a estatal brasileira Petrobras a cortar a produção em 100 mil barris por dia, nas plataformas offshore de alto custo. Segundo a Bloomberg, o gigante das commodities Glencore já está a fechar os seus campos petrolíferos no Chade.

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