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Preços voltam a “aliviar” depois dos ataques à petrolífera saudita

A Saudi Aramco restabeleceu a produção dos barris de petróleo, após eventos de 14 de setembro. Contudo, os drones abriram “uma porta para que possa acontecer mais vezes”, diz analista.
29 Setembro 2019, 11h00

Os valores do mercado petrolífero voltaram a cair abaixo dos 70 dólares depois da Saudi Aramco ter anunciado na semana passada o restabelecimento da sua produção de barris de petróleo para 11,3 milhões de barris por dia. Após os ataques de 14 de setembro, dos quais foi vítima através de drones nas suas instalações, o preço do petróleo sofreu um aumento de 20%.

Contudo, a Arábia Saudita comprometeu-se de imediato em recuperar a sua produção de barris diários de petróleo, o que levou a uma descida dos preços, algo que veio a suceder ao longo desta semana.

“Os preços a partir daí começaram a aliviar e têm descido todos os dias. Mesmo a Saudi Aramco disse na semana passada que 70% da produção já estava restabelecida”, afirma ao Jornal Económico, Paulo Rosa, economista e senior trader do Banco Carregosa.

Sentimento partilhado por Ricardo Evangelista, analista sénior da ActivTrades. “O preço do crude está praticamente de volta aos níveis pré-ataque”, salientando, contudo que “as exportações diárias de petróleo saudita estão 1,5 milhões abaixo dos níveis normais”, alertando para o facto de que “se os volumes normais de produção não forem restabelecidos em breve, o preço voltará a subir, à medida que o fornecimento começar a escassear”, esclarece.

Por seu turno, Stefan Graber, Head of Commodities Strategy, do Credit Suisse, indica que “os preços têm vindo a recuperar o seu pico inicial mais rapidamente do que o inicialmente previsto”.

Estes ataques causaram ainda prejuízos que levaram a uma redução para metade da produção de petróleo do principal exportador mundial. Tudo isto numa altura em que a Aramco se prepara para uma Oferta Pública Inicial (IPO), integrada num pacote de reformas liderado pelo príncipe herdeiro do rei Salman, o seu filho Mohammed bin Salman, para reduzir a dependência da economia no petróleo. “O ataque dos drones abre aqui uma porta para que possa acontecer mais vezes. Temos de ter sempre em conta a vertente geopolítica do Médio Oriente”, refere Paulo Rosa. Isto porque, os combatentes houthis, (grupo de rebeldes alinhado ao Irão e que tem lutado contra o governo do Iémen e uma coligação liderada pela Arábia Saudita), foram vistos como os responsáveis deste ataque à Saudi Aramco, dado que já tinham sido responsabilizados pelos ataques com drones em agosto, às instalações de liquefação de gás natural de Shaybah (campo petrolífero controlado pela Arábia Saudita).

“A comunidade internacional, com os EUA à cabeça, tem apontado o dedo ao Irão como estando por trás dos ataques à infraestrutura saudita. Tudo vai depender do que acontecer dentro do contexto regional e global. A manutenção das sanções ao Irão ou uma intervenção militar tornam mais provável que, no futuro, surjam novos ataques”, explica Ricardo Evangelista.

Para Stefan Graber do Credit Suisse ”será crucial para a Arábia Saudita demonstrar que pode aumentar a segurança das suas instalações para recuperar a confiança das distribuidoras de energia”.

Na quinta-feira, 25 de setembro foram aplicadas sanções pelos Estados Unidos a algumas entidades chinesas, acusando-as de transferirem petróleo do Irão, algo que o governo chinês negou. “Os EUA querem apertar o cerco a Teerão e não vêem com bons olhos o facto de algumas empresas chinesas continuarem a facilitar e até a comprar petróleo iraniano. Esta poderá vir a ser uma nova frente na guerra comercial entre as duas potências, com potencial para tornar mais provável uma reação militar americana sobre o Irão”, sublinha Ricardo Evangelista da ActivTrades.

Por seu turno Stefan Graber frisa que “a China tem vindo a reduzir drasticamente as suas compras de petróleo iraniano nos últimos meses, mas não totalmente. Se estes últimos desenvolvimentos resultarem num maior crescimento das tensões comerciais e mais tarifas, poderemos ver a atividade industrial global a desacelerar ainda mais”, esclarece.

No entanto, as perspetivas das empresas mundiais ligadas ao gás e petróleo deverão ser de estabilidade entre os próximos 12 a 18 meses, segundo o relatório anual sobre estes setores da agência Moody’s.

“É provável que os custos de produção e os gastos de capital aumentem após a quebra de 2018, mas o setor permanecerá mais eficiente em termos de capital do que era antes da queda do preço do petróleo em 2015“, diz Sven Reinke, vice-presidente sênior da Moody’s.

Poderá todo este panorama afetar Portugal? “Neste momento já estamos nos níveis do início de setembro. Por outro lado, temos um factor que pode agravar o preço dos combustíveis, que é o dólar continuar a valorizar em relação ao euro, ainda que ligeiramente, mas poderá ser por aqui que os preços poderão subir, mas não de uma forma significativa”, refere Paulo Rosa.

Opinião partilhada por Ricardo Evangelista, da ActivTrades. “Portugal importa todo o petróleo que consome, pelo que um aumento dos preços a nível global vai certamente resultar numa subida nos preços dos combustíveis para o consumidor português”.

Stefan Graber acredita que este cenário não afetará Portugal. “Acreditamos que as perspetivas para os mercados do petróleo são bastante reduzidas e esperamos preços ligeiramente mais baixos novamente no próximo ano.

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