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Presidente cabo-verdiano propõe pacto de paz para África centrado no património

O Presidente propôs ainda a adoção de uma carta africana do património natural e cultural, com o compromisso de canalizar 1% dos orçamentos nacionais para a sua preservação, garantindo mecanismos de transparência e participação cidadã.
Marisa Cardoso
29 Maio 2025, 18h37

O Presidente cabo-verdiano defendeu na quarta-feira um novo pacto de paz duradouro para África, centrado na valorização do património natural e cultural, numa mensagem aos chefes de Estado e de Governo dos países membros da União Africana.

“Trago-vos uma proposta: a de colocarmos o nosso património, a nossa herança comum, no centro de um novo pacto continental de paz duradouro. É chegado o tempo de agir, de forma conjunta, coordenada e visionária”, afirmou José Maria Neves, numa mensagem transmitida por ocasião do Dia de África, celebrado em 25 de maio.

O Presidente propôs ainda a adoção de uma carta africana do património natural e cultural, com o compromisso de canalizar 1% dos orçamentos nacionais para a sua preservação, garantindo mecanismos de transparência e participação cidadã.

Entre outras medidas, apontou a criação de um fundo africano para os oceanos, financiado por uma taxa simbólica sobre os cargueiros que cruzam águas africanas.

Além disso, sugeriu o reforço do fundo africano do património mundial, com recursos provenientes de 0,5% das receitas do turismo e das indústrias extrativas.

“Neste esforço de valorização do nosso legado comum, a União Africana deve continuar a desempenhar um papel catalisador, promovendo sinergias entre Estados, investigadores, comunidades e agentes culturais. Através de plataformas como a Agenda 2063 e da Carta para o Renascimento Cultural de África, podemos consolidar o tecido institucional e jurídico necessário para transformar o património em pilar de governação, coesão social e identidade continental”, acrescentou.

José Maria Neves alertou para ameaças concretas, como a desflorestação, a perda acelerada de línguas locais e o abandono de patrimónios históricos, como a antiga hidrobase da Aéropostale, na cidade da Praia, “cuja história permanece, ainda hoje, invisível e por contar”.

Apesar dos desafios, destacou sinais encorajadores, como os efeitos positivos da Grande Muralha Verde e o regresso de bens culturais ao Benim, exemplos que demonstram “que o património africano pode ser uma poderosa alavanca para o bem-estar, a reconciliação e a prosperidade”.

Apelou também à criação de uma rede africana de guardiões do património, reunindo líderes tradicionais, cientistas, artistas, jovens e autoridades locais, sublinhando o papel crucial da juventude e da tecnologia na preservação ambiental e cultural.

“Porque o desenvolvimento não se mede apenas em estradas, mas também no sorriso de uma criança que aprende a língua dos seus avós”, afirmou, defendendo que África pode liderar uma nova visão de prosperidade, baseada na harmonia entre povos, cultura e natureza.

“Sentemo-nos, juntos, à sombra da árvore do nosso património comum. Ouçamos o murmúrio dos rios e das gerações que nos precederam. E construamos, com coragem e ternura, uma África onde a paz não seja ausência de guerra, mas presença de beleza, dignidade e alegria partilhada”, concluiu.

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