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Presidente da FFMS alerta para necessidade de informação de qualidade para desenho de políticas públicas

“É muito mais fácil culpar os estrangeiros”, afirmou Gonçalo Saraiva Matias, lembrando as correntes que atribuem a responsabilidade pelo disparo nos custos com habitação no fluxo de estrangeiros que se têm mudado para Portugal e nos investidores ao abrigo dos vistos gold.
4 Outubro 2023, 19h42

O presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos alerta para a dificuldade em tomar medidas eficientes sem diagnósticos corretos, lembrando a falta de números fidedignos sobre várias realidades em Portugal, a começar pela habitação. Para Gonçalo Saraiva Matias, as várias políticas que têm sido mobilizadas nos últimos anos pecam pela falta de estatísticas robustas sobre o assunto, criticando a tendência para culpar cidadãos estrangeiros.

O painel ‘Portugal 2024’ da conferência de sétimo aniversário do Jornal Económico (JE), realizada esta quarta-feira na NOVA SBE, contou com a participação de Gonçalo Saraiva Matias, que defendeu a necessidade de ter informações e estatísticas atualizadas e abrangentes para solucionar os vários problemas estruturais do país.

“É muito mais fácil culpar os estrangeiros”, afirmou, lembrando as correntes que atribuem a responsabilidade pelo disparo nos custos com habitação no fluxo de estrangeiros que se têm mudado para Portugal e nos investidores ao abrigo dos vistos gold.

Na realidade, “os números mostram que é essencialmente um problema de oferta”, dada a falta de construção nova na última década, quando os edifícios construídos foram “seis a sete vezes menos” do que nos dez anos anteriores. Mais, há outras dimensões “que, intuitivamente, nem nos lembraríamos” a afetar este problema, como a preponderância crescente de famílias monoparentais ou pais divorciados.

“Isto aumenta a procura. Não é que haja mais população, porque até perdemos 250 mil pessoas, mas há mais necessidade por habitação”, explica.

A crise na habitação acresce aos vários problemas que afetavam já a população portuguesa, argumenta, sobretudo no que respeita aos rendimentos. Com 1,7 milhões de pessoas em situação de pobreza – um terço delas empregada – e 4 milhões que dependem de transferências sociais, a situação é preocupante, defende Gonçalo Saraiva Matias.

“O elevador social está encravado”, resume. E as perspetivas não são as melhores: com o país a arriscar a perder 3 milhões de pessoas até 2050, a sustentabilidade da economia fica em questão. Por outro lado, com “instituições bloqueadas”, dificilmente o país conseguirá continuar a captar a mão-de-obra qualificada de que tanto necessita, lamenta.

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