O presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos alerta para a dificuldade em tomar medidas eficientes sem diagnósticos corretos, lembrando a falta de números fidedignos sobre várias realidades em Portugal, a começar pela habitação. Para Gonçalo Saraiva Matias, as várias políticas que têm sido mobilizadas nos últimos anos pecam pela falta de estatísticas robustas sobre o assunto, criticando a tendência para culpar cidadãos estrangeiros.
O painel ‘Portugal 2024’ da conferência de sétimo aniversário do Jornal Económico (JE), realizada esta quarta-feira na NOVA SBE, contou com a participação de Gonçalo Saraiva Matias, que defendeu a necessidade de ter informações e estatísticas atualizadas e abrangentes para solucionar os vários problemas estruturais do país.
“É muito mais fácil culpar os estrangeiros”, afirmou, lembrando as correntes que atribuem a responsabilidade pelo disparo nos custos com habitação no fluxo de estrangeiros que se têm mudado para Portugal e nos investidores ao abrigo dos vistos gold.
Na realidade, “os números mostram que é essencialmente um problema de oferta”, dada a falta de construção nova na última década, quando os edifícios construídos foram “seis a sete vezes menos” do que nos dez anos anteriores. Mais, há outras dimensões “que, intuitivamente, nem nos lembraríamos” a afetar este problema, como a preponderância crescente de famílias monoparentais ou pais divorciados.
“Isto aumenta a procura. Não é que haja mais população, porque até perdemos 250 mil pessoas, mas há mais necessidade por habitação”, explica.
A crise na habitação acresce aos vários problemas que afetavam já a população portuguesa, argumenta, sobretudo no que respeita aos rendimentos. Com 1,7 milhões de pessoas em situação de pobreza – um terço delas empregada – e 4 milhões que dependem de transferências sociais, a situação é preocupante, defende Gonçalo Saraiva Matias.
“O elevador social está encravado”, resume. E as perspetivas não são as melhores: com o país a arriscar a perder 3 milhões de pessoas até 2050, a sustentabilidade da economia fica em questão. Por outro lado, com “instituições bloqueadas”, dificilmente o país conseguirá continuar a captar a mão-de-obra qualificada de que tanto necessita, lamenta.
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