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Presidente de Cabo Verde sobre Luanda Leaks: “Tem a ver com um país muito próximo e irmão, Angola”

As autoridades cabo-verdianas recusam comentar o caso que envolve a fortuna da empresária angolana, mas dizem que têm estado a acompanhar “com interesse” e garantem que “não tem a ver com Cabo Verde diretamente”.
21 Janeiro 2020, 11h10

O Presidente da República de Cabo Verde e o primeiro-ministro cabo-verdiano escusam-se a comentar o caso que envolve a origem da fortuna da empresária angolana Isabel dos Santos, garantindo apenas que estão a acompanhar as investigações “com interesse”.

Um grupo de jornalistas de investigação revelou no domingo mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de “Luanda Leaks”, que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que estarão na origem da fortuna da família.

A empresária, que tem investimentos na área das telecomunicações em Cabo Verde, foi investigada pelos jornalistas depois de o Tribunal Provincial de Luanda ter decretado o arresto preventivo de contas bancárias pessoais da empresária, de Sindika Dokolo e Mário da Silva, além de nove empresas nas quais detêm participações sociais.

As autoridades cabo-verdianas têm vindo a acompanhar o caso pelos meios de comunicação social.

“A gente vai ouvindo as notícias. Claro que nos interessa, porque têm a ver com um país muito próximo e irmão que é Angola, mas, naturalmente, o Presidente da República não pode estar a comentar notícias que têm a ver com fortunas ou com os bens de uma cidadã angolana, mas vamos acompanhando”, disse o chefe do Estado cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, no final da cerimónia de deposição de coroa de flores no monumento de Amílcar Cabral, na Praia, por ocasião da celebração do Dia dos Heróis Nacionais.

Por sua vez, o chefe do Executivo de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, disse que é uma matéria que está sob investigação e que não é algo que interpela o Governo local: “Eu não faço comentários porque este é um trabalho de investigadores, é algo que tem a ver com Angola e não com o Governo de Cabo Verde. Nós vamos acompanhando de uma forma interessada aquilo que se está a avançar. Não tem a ver com Cabo Verde diretamente, tem a ver com os investimentos que ela tem em várias partes do mundo”.

Segundas as informações divulgadas pela agência noticiosa Lusa, o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ), que integra os portugueses “Expresso” e “SIC”, analisou, ao longo de vários meses, 356 gigabytes de dados relativos aos negócios de Isabel dos Santos entre 1980 e 2018, que ajudam a reconstruir o caminho que levou a filha do ex-presidente angolano a tornar-se a mulher mais rica de África.

Durante a investigação, foram identificadas mais de 400 empresas (e respetivas subsidiárias) a que Isabel dos Santos esteve ligada nas últimas três décadas, incluindo 155 sociedades portuguesas e 99 angolanas. As informações recolhidas detalham, por exemplo, um esquema de ocultação montado por Isabel dos Santos na Sonangol, que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares (cerca de 90 milhões de euros) para o Dubai e que, em menos de 24 horas, a conta dessa petrolífera estatal no Eurobic Lisboa, banco do qual é principal acionista, foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária.

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