O plano do vosso grupo é juntar o Banco Comercial do Atlântico (BCA) ao que adquiriram também em Cabo Verde, em 2018, ao Novobanco, segundo o “Nascer do Sol”. Qual é a estratégia se a compra avançar?
Se a aquisição se concretizar, o nosso principal objetivo será fazer uma transição suave. Queremos definir a visão e os objetivos da nova organização e comunicá-los de forma clara e consistente a todos os stakeholders, incluindo colaboradores, clientes, fornecedores, investidores e entidades reguladoras. Temos a ambição de construir um banco forte, combinando o melhor que o iibCV tem para oferecer na vertente da banca comercial com o melhor do BCA na vertente da banca de retalho. Caso o regulador aprove, a intenção seria fundir os dois bancos para formar um único banco com uma base de capital maior, capaz de apoiar o desenvolvimento económico de Cabo Verde, e que seja também um grande agente bancário regional capaz de apoiar os fluxos comerciais regionais nas geografias de língua portuguesa.
Existe de facto um “impasse” no processo de compra e venda do BCA? Deve-se exclusivamente à queda do Governo?
A CGD está a seguir um processo legal que requer a aprovação governamental em Portugal. É inevitável que a natureza complexa destes processos, aliada ao atual contexto político do país, implique atrasos. Continuamos confiantes de que a CGD cumprirá as suas obrigações legais e levará o processo até à sua natural conclusão legal. Em dezembro apresentámos a nossa proposta vinculativa, cumprindo todos os requisitos necessários, pelo que aguardamos com serenidade por uma decisão.
O iib Cabo Verde teve lucros em 2023?
Os nossos resultados serão publicados, conforme exigido por lei, até abril de 2024. O que podemos dizer é que a atividade continuou a ter um desempenho recorde pelo terceiro ano consecutivo, com lucros significativamente mais elevados, um aumento do balanço global e crédito malparado (NPL) inferior a 0,5%, muito abaixo dos padrões internacionais para estruturas de balanço e carteiras de crédito de alta qualidade (NPL acima de 5% refletem instituições financeiras com risco elevado – High NPL Institutions), o que demonstra a nossa saúde financeira. Esperamos igualmente registar um capital regulamentar mais elevado, uma base diversificada de depósitos e de financiamento e uma liquidez substancial, nomeadamente depósitos com o Banco Central de Cabo Verde superiores a 50 milhões de euros.
Há liquidez?
Temos mantido elevados níveis de liquidez para criar valor a partir de oportunidades estratégicas no mercado, bem como para honrar grandes movimentos de dinheiro por parte dos clientes, demonstrando que não estamos reféns da liquidez de nenhuma fonte específica, uma vez que não beneficiamos de qualquer subsidiação por parte de entidades públicas ou privadas. Atualmente, em mercados de pequena dimensão, onde existe uma elevada concentração de depositantes e credores específicos, as boas práticas internacionais recomendam níveis de solvabilidade superiores a 15% e, em 2023, o iibCV deverá manter o nível de solvabilidade mais elevado do mercado, acima dos 40%.
Estão interessados noutro banco, mas em Portugal, de acordo com o “Observador”. Qual?
Estamos sempre atentos a novas oportunidades de negócio que possam ir ao encontro dos nossos objetivos estratégicos. A nossa estratégia tem-se centrado nos mercados emergentes, com conetividade aos mercados internacionais, mantendo o mais elevado nível de conformidade regulamentar e legal em todas as nossas operações. Como tal, enquanto aguardamos pelo desfecho do processo do BCA, continuamos abertos à possibilidade de adquirir uma operação bancária regulada pela UE. Entrámos no processo de licitação para o Efisa e o BPG em Portugal em 2021, mas devido a atrasos provocados pela pandemia, exercemos o nosso direito de não prosseguir com as aquisições e também retirámos a nossa candidatura ao Banco de Portugal.
É esse o entendimento da vossa equipa jurídica?
A Uría Menéndez – Proença de Carvalho, que representa o iibGroup em Portugal, emitiu o seguinte esclarecimento: “O IIB propôs a compra tanto do Banco Efisa como do Banco Português de Gestão e, em ambos os casos, sujeita a longas datas de paragem, após as quais qualquer das partes poderia retirar-se do processo de venda. Ambas as vendas estavam também sujeitas à aprovação do Banco de Portugal. O processo de aquisição e aprovação estendeu-se por um período prolongado, de meados de 2019 a dezembro de 2021, devido em parte à emergência mundial da Covid-19. Como resultado, ambas as vendas não foram concluídas tendo em conta o alongar de ambos os processos e o IIB decidiu não avançar com as aquisições. Posteriormente, o IIB retirou também os seus pedidos de aprovação junto do Banco de Portugal”.
Em relação ao panorama do sector financeiro em Portugal atualmente, que análise faz?
Portugal passou por uma crise financeira muito difícil após a crise financeira global de 2008 e 2009 e era evidente que muitos dos bancos portugueses que operavam naquela altura não eram claramente tão fortes financeiramente como pareciam ser. Então, o sector financeiro em Portugal atravessou um período significativamente difícil que exigiu um apoio governamental significativo, nomeadamente no que diz respeito ao resgate dessas instituições e às subsequentes reestruturações. Penso que existe em Portugal um sector financeiro muito mais robusto e houve igualmente um impulso no sentido da consolidação. Embora possam existir cerca de 35-40 licenças bancárias emitidas em Portugal, com bancos a operar e, provavelmente, 80-85% dos ativos bancários concentrados nas mãos de uns seis bancos. Penso que é uma tendência geral que vemos, de forma mais ampla, em mercados financeiros regulados.
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