A Noruega garante que irá duplicar o seu apoio financeiro à Ucrânia este ano e aumentar os seus gastos em defesa no rescaldo do desinteresse crescente norte-americano na segurança europeia, dando seguimento aos pedidos de outros países nórdicos.
Detentor do maior fundo soberano do mundo, o ‘Statens pensjonsfond’, gerido pelo Norges Bank e com ativos na casa dos 1,8 biliões de euros, a Noruega tem vindo a sofrer pressão dos seus vizinhos escandinavos, a Dinamarca e a Suécia, para aumentar o apoio à Ucrânia. Os noruegueses gastaram, até agora, 3,35 mil milhões de euros no apoio a Kiev, um montante descrito na última quinta-feira como “patético” e “lamentável” pelos editores dos maiores jornais sueco e dinamarquês, citados pelo portal “Euractiv”.
A título de comparação, Estocolmo gastou já 5,41 mil milhões de euros com o apoio à Ucrânia, enquanto Copenhaga alocou 8,05 mil milhões de euros desde a decisão russa de invadir o seu vizinho.
Por sua vez, a Noruega acumulou entre 2022 e 2023 uns estimados 109 mil milhões de euros em receitas relacionadas com o choque energético na Europa na sequência da invasão russa, dado o seu elevado fornecimento de bens energéticos ao bloco europeu. Em 2024, o fundo anunciou lucros recorde de 204 mil milhões de euros.
Perante este cenário, o governo juntou-se à oposição para aumentar os gastos planeados para este ano de 35 mil milhões de coroas (2,97 mil milhões de euros) para 85 mil milhões de coroas (7,22 mil milhões de euros), dada a urgência na ação. O primeiro-ministro Jonas Gahr Stoere descreveu o momento como “o mais sério para a nossa segurança desde a II Guerra Mundial” no parlamento aquando do voto a favor deste aumento da despesa, na quinta-feira, sublinhando a postura e apreensão norueguesas.
Ainda assim, e dado o disparo nas receitas energéticas norueguesas causado pela guerra na Europa, o partido dos Verdes reforçou o pedido para que Oslo aloque mil milhões de coroas (84,99 mil milhões de euros) em apoio à Ucrânia, substancialmente mais do que o montante até agora comprometido. O Partido Conservador, que lidera a oposição e votou a favor do aumento proposto na quinta-feira, também reconheceu que o país deve considerar mais despesa ao longo do ano.
Na prática, o fundo norueguês pode converter parte das suas bonds, começando pelas emitidas fora da UE, em obrigações de defesa europeias, com a condição de que estes fundos sejam aplicados no rearmamento e segurança do continente. Segundo o jornal norueguês ‘Dagens Næringsliv’, cerca de dois terços dos 450 mil milhões de euros em obrigações detidas pelo fundo são de origem extra-UE.
Tal como destacou o político Volodymyr Kabachenko, um dos membros da oposição ucraniana presente no parlamento norueguês aquando da discussão parlamentar em torno do apoio a Kiev, a Noruega é o único país europeu capaz de fornecer um apoio financeiro substancial à Ucrânia sem ter de recorrer a dívida. No entanto, o uso do fundo soberano está limitado na lei.
O país tem, desde 2001, legislação a limitar os gastos provenientes do fundo soberano a 4%, numa primeira fase, e 3% atualmente do seu montante total, um teto que o atual ministro das Finanças e anterior líder da Nato, Jens Stoltenberg, não pretende remover. A discussão interna sobre este limite está a decorrer e deve adensar-se nas próximas semanas.
Simultaneamente, o governo norueguês está a planear aumentar os gastos com a sua defesa e no sector militar. O objetivo é aplicar 3% da despesa do país a defesa e segurança até 2030, sendo que, atualmente, Oslo gasta pouco mais de 2%.
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