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Primeiro distrito moçambicano afetado pelo ciclone Chido com “destruição quase total”

“Logo à entrada foi possível verificar que quase todas as infraestruturas, seja a nível privado, seja as infraestruturas do Governo, estão quase na sua totalidade destruídas, incluindo as casas da população de Mecúfi”, disse à Lusa Hélia Seda, gestora de projetos na Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) portuguesa Helpo em Moçambique, após visitar o distrito.
17 Dezembro 2024, 18h28

O distrito de Mecúfi, ponto de entrada do ciclone Chido em Moçambique, está quase totalmente destruído, com cerca de 76 mil pessoas sem comunicações nem energia, indicaram hoje organizações no terreno.

“Logo à entrada foi possível verificar que quase todas as infraestruturas, seja a nível privado, seja as infraestruturas do Governo, estão quase na sua totalidade destruídas, incluindo as casas da população de Mecúfi”, disse à Lusa Hélia Seda, gestora de projetos na Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) portuguesa Helpo em Moçambique, após visitar o distrito.

Citando o administrador local, Hélia Seda avançou que cerca de 76 mil pessoas foram afetadas pelo ciclone em Mecúfi, um distrito que está sem comunicação, sem corrente elétrica e com necessidades alimentares, de saúde, de infraestruturas e de abrigo.

“Quando fomos lá conversar com o administrador, a primeira necessidade que foi apontada foi a alimentação. Foi possível ver algumas pessoas tirando um pouquinho da comida dos escombros das casas para poder alimentar a sua família, então está uma situação de muita necessidade”, referiu ainda a responsável.

Imagens enviadas hoje à Lusa mostram diversas infraestruturas sem teto, casas de construção precária totalmente destruídas, objetos, roupas e arbustos espalhados por Mecúfi, havendo ainda, segundo a Helpo, vias intransitáveis, lagoas, rios e riachos transbordados.

Apenas uma escola e duas salas de aula resistiram ao ciclone, avançou Hélia Seda, referindo que, juntamente com o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), a Helpo levou kits de higiene e outro material para as famílias afetadas.

“Neste momento toda a ajuda possível é importante (…). Toda população de Mecúfi foi afetada sem distinção”, disse a responsável, acrescentando que mesmo as comunidades e escolas identificadas pelas autoridades como locais seguros para acolhimento não resistiram ao ciclone Chido.

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) alertou para o sistema de saúde crítico no distrito de Mecúfi, com profissionais obrigados a trabalhar numa escola em condições “extremamente precárias”, situação que condiciona a prestação de cuidados eficazes.

“Todo o material médico se perdeu devido à exposição aos elementos. Há uma necessidade urgente de apoio para eliminar de forma segura estes medicamentos estragados, a fim de evitar o risco da sua utilização indevida”, refere a OCHA num documento de atualização de dados sobre os impactos do ciclone Chido em Moçambique, divulgado hoje.

A ONG avançou ainda que a comunidade necessita urgentemente de alimentos, abrigo, apontando também o reabastecimento de medicamentos essenciais e reconstrução dos serviços de saúde como prioridades.

Pelo menos 34 pessoas morreram em Cabo Delgado, Nampula e Niassa, na passagem do ciclone tropical intenso Chido, no domingo, e 35 mil casas foram afetadas, além de 34 unidades sanitárias, segundo novo balanço preliminar divulgado hoje.

De acordo com um relatório do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), o ciclone tropical intenso Chido de escala 3 (1 a 5), que se formou em 05 de dezembro no sudoeste do oceano Indício, entrou no domingo em Moçambique pelo distrito de Mecúfi, “com ventos que rondaram os 260 quilómetros por hora” e chuvas fortes.

Entre os impactos preliminares já contabilizados, até às 18:00 locais (menos duas horas em Lisboa) de segunda-feira, a situação afetou 174.518 pessoas, num total de 34.219 famílias, registaram-se 34 mortos – 28 em Cabo Delgado, três em Nampula e três em Niassa – e 319 feridos, além de 11.744 casas parcialmente destruídas e 23.598 totalmente destruídas.

Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.

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