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Professor e ex-deputado. Quem é o novo CEO do SNS?

Álvaro Santos Almeida foi escolhido para liderar direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Para a Ordem dos Médicos, novo CEO do SNS tem um perfil demasiado académico e uma atividade partidária demasiado marcada. Antigo ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, vê escolha do Governo como “mais uma tentativa”.
Álvaro Santos Almeida
22 Janeiro 2025, 07h00

Álvaro Santos Almeida foi o nome escolhido pelo Governo para substituir Gandra D’Almeida na direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS). A ministra Ana Paula Martins destacou o perfil mais vocacionado para a “gestão”, mas também o “conhecimento” e a “sensibilidade para a saúde” do novo CEO do SNS.

Professor na Faculdade de Economia da Universidade do Porto e na Porto Business School, Álvaro Santos Almeida, de 60 anos, nasceu na freguesia da Sé, no Porto, e é doutorado em Economia pela London School of Economics and Political Science. Foi presidente da Entidade Reguladora da Saúde entre 2005 e 2010, tendo assumido depois a liderança da Administração Regional de Saúde do Norte, cargo do qual se demitiu um ano depois, em rota de colisão com o então governo socialista.

Além do percurso na academia e na gestão destes organismos, Álvaro Santos Almeida tem um percurso partidário. Nas eleições autárquicas de 2017, foi cabeça de lista do PSD/PPM à Câmara Municipal do Porto.

Entre 2019 e 2022, foi deputado à Assembleia da República e tornou-se conhecido por ser crítico da atuação da então ministra da Saúde, Marta Temido, no governo de António Costa. No Parlamento, destacou-se em comissões parlamentares ligadas à saúde, mas também a temas como orçamento, finanças, negócios estrangeiros e comunidades portuguesas.

No comunicado da tutela, o novo diretor executivo do SNS é descrito como “especialista em economia e gestão dos serviços de saúde” e foi também quadro superior do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington, nos Estados Unidos.

A ministra justifica a escolha de Álvaro Santos Almeida com a necessidade de reformular a direção executiva do SNS. A reformulação que o Governo diz estar em curso “passa por uma alteração da estrutura orgânica, que será mais simplificada, e das respetivas competências funcionais, visando uma governação menos verticalizada e mais adequada à complexidade das respostas em saúde”.

“Uma escolha defensiva”

Comentando o novo CEO do SNS, o Presidente da República assinalou que o executivo de Luís Montenegro procurou “uma solução o mais segura e forte possível”, alguém com “confiança política do Governo, confiança partidária”, com percurso na “gestão da saúde, já com alguma idade, já com alguma experiência”. “Portanto, é nitidamente uma solução defensiva. Defensiva, para garantir uma estabilização”, resumiu o Chefe de Estado.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, “o problema seguinte é decidir o que fazer ao instituto”, de modo a que “estabilize finalmente uma solução duradoura” para a direção executiva do SNS, que “correu mal até aqui”, reconheceu.

No seu entender, “desde o início da conceção correu mal, porque foi uma ideia que demorou um ano total a ser lançada” e que “quando foi lançada já o Governo [do PS] que tinha lançado já não era Governo”, e quando “entrou um novo Governo [PSD/CDS-PP], logo a seguir sai a figura do presidente para a qual, de alguma maneira, tinha sido concebida também a solução”.

O Chefe de Estado explicou o objetivo com que esta estrutura foi criada. “Para cumprir uma missão, que era precisamente o Ministério ficar protegido, o ministro ou a ministra ficar protegido: definia as grandes linhas políticas, mas depois a gestão era feita pelo instituto, e por uma figura forte ou liderada de uma figura forte que garantia essa gestão”.

Agora, Álvaro Almeida “tem todas as condições políticas de confiança do Governo e dos partidos do Governo para cumprir esta missão”, defendeu o Presidente, assinalando ser preciso “definir para onde é que passa a fronteira entre o que fica para o Ministério, leia-se a ministra, e o que fica para o novo presidente. E só a prática mostrará como é ou como não é. Se correr bem, não é preciso rever a estrutura que está montada, há que aplicá-la.”

“Perfil de gabinete”

Em declarações ao Jornal Económico, o bastonário da Ordem dos Médicos critica a escolha do Governo para liderar a direção executiva do SNS. Salvaguardando que irá colaborar com o novo CEO do SNS, Carlos Cortes entende que o perfil de Álvaro Santos Almeida “não é o desejável” e enumera três motivos.

Em primeiro lugar, Álvaro Santos Almeida, ao contrário do que defendeu a ministra, “não é uma pessoa conhecida no setor porque não tem estado no terreno no SNS”. Apesar de ter dado “alguns toques quando fez parte da ARS [do Norte] e da ERS”, tem um perfil “muito académico, muito de gabinete e pouco prático na intervenção diária do SNS”, diz Carlos Cortes.

Em segundo lugar, apesar dos cargos na ARS e na ERS, e de ter conhecimentos teóricos, estes “não são propriamente suficientes para compreender este setor”.

Por fim, Álvaro Santos Almeida tem uma “atividade muito marcada do ponto de vista político-partidário, o que dá uma conotação desnecessária para o cargo”, aponta Carlos Cortes, aludindo ao facto de Álvaro Santos Almeida ter sido deputado do PSD entre 2019 e 2022 e, antes disso, candidato autárquico, no Porto, em 2017.

No entender do bastonário, para liderar a direção executiva do SNS era preciso “alguém com uma capacidade de intervenção e capaz de dialogar e estabelecer pontes, não só dentro do SNS, mas também fora”, porque o “SNS precisa de um grande consenso entre os vários agentes e partidos políticos”.

A Ordem dos Médicos preferia que o novo CEO do SNS não tivesse uma atividade político-partidária “precisamente para salvaguardar e proteger a direção executiva e a sua intervenção poder atravessar diferentes governos, diferentes ministros”.

“Tentativa e erro”

Já o antigo ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, vê a nomeação de Álvaro Santos Almeida para liderar a direção executiva do SNS como mais uma escolha de “tentativa e erro” para liderar um organismo “que nasceu torto”. “É mais uma tentativa (…) Pode haver aqui um problema de tentativa e erro até acertar, mas é esperar que corra bem”, comentou o ex-ministro em declarações ao JE.

Adalberto Campos Fernandes não critica as características curriculares e pessoais de Álvaro Santos Almeida, mas sim o modelo e a estrutura, e as “trapalhadas” que a têm acompanhado.

Sobre a reformulação da direção executiva que a ministra da Saúde disse estar em curso, o antigo governante do PS afirma: “Em matéria administrativa, o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Vamos ver.” Crítico da arquitetura e do posicionamento da entidade criada pelo anterior Governo do PS, Adalberto Campos Fernandes vê problemas de conflitos nas “competências e funções” da direção executiva.

“Depois é a questão dos protagonistas. Passado um ano, houve alguma estabilidade porque a liderança [de Fernando Araújo] era muito consistente, a partir daí não tem corrido bem”, conclui.

 

 

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