[weglot_switcher]

Psiquiatra Vítor Cotovio afirma que exercício empático do cargo é a “marca de água identitária” de Marcelo

De acordo com o especialista, o atual chefe de Estado utiliza a empatia e os conhecidos “afetos” como “intermediários do exercício do cargo”, mostrando assim que “está lá para os outros”, criando “sentimento de pertença” e também “uma relação de reconhecimento, de valorização daquilo que as pessoas fazem”. 
7 Março 2021, 14h25

A empatia no cargo de Presidente transformou-se na “marca de água identitária” de Marcelo Rebelo de Sousa, homem de consensos e “acelerado”, que no segundo mandato terá como desafio o equilíbrio dos afetos, segundo o psiquiatra Vítor Cotovio.

“É verdade que este exercício empático com o outro é uma marca de água identitária do Presidente Marcelo”, apontou o médico psiquiatra e psicoterapeuta Vítor Cotovio, em declarações à agência Lusa, a dias da tomada de posse para o segundo mandato na terça-feira.

De acordo com o especialista, o atual chefe de Estado utiliza a empatia e os conhecidos “afetos” como “intermediários do exercício do cargo”, mostrando assim que “está lá para os outros”, criando “sentimento de pertença” e também “uma relação de reconhecimento, de valorização daquilo que as pessoas fazem”.

“Para as pessoas no geral, não estou a dizer para todas, é algo que funciona porque, no fundo, o ser humano é ser de relação. E aí o professor Marcelo e o Presidente Marcelo, como obviamente lhe reconhecemos uma inteligência na leitura das coisas, é evidente que também percebe que o ser humano suporta-se na relação com o outro, no encontro com o outro”, considerou.

Apontando esta característica como uma diferença face aos seus antecessores em Belém, Vítor Cotovio ressalvou que existe sempre o risco de as pessoas duvidarem da autenticidade destes afetos, algo que se apresenta como um desafio para Marcelo no segundo mandato.

O psiquiatra lembrou que “foi logo apontado” quando Marcelo não ligou à viúva do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk, que morreu nas instalações do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) do aeroporto de Lisboa, vincando que o Presidente no segundo mandato terá que “calibrar as manifestações de empatia”.

“Quando uma relação empática se automatiza corre-se o risco de a pessoa poder achar ‘bom, mas será que naquele momento ou ali foi uma situação com um enquadramento mais utilitário ou foi um enquadramento autêntico?’. São dúvidas legítimas, mas isso não desvirtua esta marca identitária [do Presidente]”, sustentou.

Para o especialista, Marcelo tem características de temperamento “que são muito dele” e que às vezes o próprio tem “dificuldade em camuflar”: “a aceleração, o querer estar em todo o lado”, as “‘selfies’ atrás umas das outras, aquilo é mais forte que ele, para além de ele saber que aquilo também é uma forma de se aproximar das pessoas”.

Considerando que o atual Presidente não desvirtuou ou caricaturou o cargo, Vítor Cotovio sublinhou que “para Marcelo Rebelo de Sousa a importância está em ser Presidente, mas sê-lo daquela maneira”.

“E eu acho que também será importante para o Presidente Marcelo ser identificado como um Presidente com características diferentes, é a tal autoestima ou narcisismo benigno”, sustentou.

Questionado sobre como conseguirá o chefe de Estado manter os habituais afetos com o distanciamento a que a pandemia da covid-19 obriga, Cotovio afirmou que Marcelo “semeou também para colher”, tendo já um “capital psicossocial” que conseguiu consolidar, mesmo sem as ‘selfies’”.

Vítor Cotovio referiu ainda que Marcelo Rebelo de Sousa “manifesta procurar consensos” e não fraturar, algo que “em tempo de pandemia não é indiferente”.

“Se alguém, que é o alto representante da nação, consegue transmitir uma empatia e consegue transmitir a procura de consensualizar e não de fraturar, de unir em vez de fraturar, neste momento é importante. Porque fratura nós já temos, que é a fratura da ameaça da pandemia e o medo que daí decorre”, sustentou.

Na relação com o Governo, Cotovio considerou que, existindo divergências, elas não são manifestadas, uma vez que a comunicação atual é a do consenso, admitindo que “lá mais para a frente podem aparecer jogadas políticas” de ambos os lados, mas que atualmente nada se sobrepõe ao combate à covid-19.

Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito Presidente da República nas eleições presidenciais de 24 de janeiro passado, com 60,67% dos votos expressos.

A cerimónia de posse do Presidente da República está marcada para as 10:00 da próxima terça-feira, na Assembleia da República, com 50 dos 230 deputados presentes na Sala das Sessões, seis membros do Governo e os convidados limitados “às mais altas precedências do Protocolo do Estado Português”.

A estimativa é que, no total, não estejam mais de 100 pessoas no hemiciclo.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.