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Quais os desafios que a Cultura da Madeira enfrenta em 2021?

Recentes estudos sobre o património cultural português (2020) concluem que os portugueses são aqueles que, de entre os povos europeus, menos visitam os museus e menos conhecem o seu próprio património artístico e edificado e menos se mostram interessados na sua preservação (2017). Tal razão poderá ser reflexo do estado de domesticação cultural da nossa sociedade pós-moderna, que a pandemia veio acentuar.
11 Janeiro 2021, 07h15

Recentes estudos sobre o património cultural português (2020) concluem que os portugueses são aqueles que, de entre os povos europeus, menos visitam os museus e menos conhecem o seu próprio património artístico e edificado e menos se mostram interessados na sua preservação (2017). Tal razão poderá ser reflexo do estado de domesticação cultural da nossa sociedade pós-moderna, que a pandemia veio acentuar. O entretenimento substituiu-se à Cultura, assumindo-se como uma prática de prazer hedonista, preterindo o desenvolvimento de um espírito crítico sobre a qualidade das transformações culturais e estéticas que acontecem no seio da nossa sociedade.

Novo modelo de desenvolvimento

A Madeira, face à sua realidade ultraperiférica e ao progressivo afastamento dos centros de decisão e poder, vê acentuada não só a dificuldade no acesso aos bens culturais, como também na promoção de artistas regionais no sistema da arte internacional. Agora, a atual crise económica e pandémica, infelizmente, servirá como uma nova justificação para um desinvestimento na Cultura, que dura desde há várias décadas. Urge a redefinição de um novo paradigma de desenvolvimento económico para a Madeira, não estruturado num monoproduto.

Na diversificação da economia, a Cultura poderá desempenhar um papel fundamental. Por isso, é essencial a implementação de uma política de incentivos à fixação de indústrias criativas e apoios à produção artística, que além de acrescentarem valor à (micro) realidade cultural regional, também poderão potenciar um novo modelo de desenvolvimento económico, social e humano.

Defesa e conservação do património

Relacionado com a concretização de um novo modelo de desenvolvimento económico e social deverá estar a defesa e a conservação do património, pois a descaracterização da paisagem natural e do edificado histórico, acentuará a perda de competitividade do destino, uma vez continuamente descaracterizado. A privatização ou a destruição, desde há várias décadas, do património histórico, para transformação em estabelecimentos comerciais e hoteleiros têm vindo a demonstrar a finitude deste modelo e o estado a que está deixado o património, à mercê dos interesses económicos.

Democracia cultural, inclusiva e participativa

Confundir Cultura com atrações turísticas e conceber uma “espetacularização” da Cultura, que responde às necessidades de um modelo de desenvolvimento económico neoliberal esgotado, constitui também um instrumento de dominação e de enquadramento de massas pelas elites que governam. O mito da implementação de políticas de “democratização cultural”, desde há vários anos, constitui um argumento de autoridade do poder para perpetuar a hegemonia dominante. Determinar as práticas culturais e os seus respetivos apoios, instituindo outro mito, o da subsidiodependência, visa justificar o desinvestimento na Cultura e manutenção da hegemonia vigente.

Por isso, a sensibilização para arte e para as expressões artísticas, além de permitir uma desconstrução de mitos, a partir de uma análise crítica da história, possibilita a partilha e a construção cultural colaborativa, reconhecendo a alteridade. A arte pode inferir impactos positivos nas comunidades, constituindo um forte instrumento no processo de construção social identitária. Projetos culturais que atuem na comunidade onde se inserem e possibilitem a participação e inclusão de todos deverão se incentivar. Uma verdadeira educação cultural e artística permite desenvolver a tolerância e o respeito pela diferença. Por isso, a Arte é o melhor instrumento para combater a violência e recusar o ódio e a xenofobia. Exercer uma verdadeira democracia cultural, não só se consubstancia na necessidade de um livre acesso aos bens culturais, como na coragem de desenvolver a crítica em relação à qualidade das transformações estéticas, artísticas, sociais e económicas que acontecem no território que habitamos.

A qualificação e captação de novos públicos para a Cultura e a valorização dos artistas regionais são determinantes na implementação de uma qualquer estratégia para a Cultura. O sucesso das respostas aos desafios do futuro, passarão necessariamente pelo diálogo entre decisores, artistas e público. Porque afinal, todos somos protagonistas neste processo!

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