Não se ouviu falar, na campanha eleitoral, da economia social. Daquele conjunto de organizações que cuidam (de crianças, de idosos, de famílias, de sem abrigo, de pobres, de imigrantes, de vítimas de violência doméstica…), que nos proporcionam cultura, recreação, atividades desportivas, educação, desenvolvimento local, defesa dos direitos humanos, apoio espiritual, entre outras causas.

Durante a pandemia, a vida de muitas famílias teria sido muito pior sem a retaguarda comprometida e empenhada de muitas destas organizações. Sem o apoio alimentar, sem os lares, sem esta retaguarda, teria sido ainda mais difícil.

São 73.851 as organizações da economia social em Portugal, segundo a última Conta Satélite (dados para 2020), com um peso de 3,2% no VAB nacional e 5,9% do emprego remunerado. São mais de 245 mil as pessoas que este setor emprega. Só a área da saúde e a área dos serviços sociais representam mais de metade deste VAB e 63% do emprego remunerado.

É de sublinhar outro dado em particular: a remuneração média nas entidades da economia social é 85,2% da média nacional. Não é novidade nenhuma que trabalhar neste setor significa ganhar menos do que no setor empresarial e no setor público.

Nem é novidade a exigência que isto representa, para a gestão destas organizações, a atração e a retenção de trabalhadores qualificados. Por muito que quem trabalhe nestas organizações possa usufruir de um salário emocional, que deriva das causas nobres a que se dedicam, esse não põe pão na mesa.

O setor da economia social tem uma longa história, mas se nos focarmos na origem do conceito “economia social”, teremos de recuar apenas até ao século XIX. O livro de Álvaro Garrido, “Cooperação e solidariedade – uma história da economia social”, em reedição, e que tive o prazer de apresentar recentemente, retrata de forma única esta história.

Nele compreendemos o conceito de economia social tal como é definido desde o século XIX, como o cooperativismo e o mutualismo foram forças vivas de mobilização da sociedade civil nesta época, como resistiram à perseguição e subalternização durante o Estado Novo, ensaiando formas de integração enquanto se esmoreciam as capacidades das pessoas de moldar as organizações às suas efetivas necessidades.

Tudo isto sem perder, como pano de fundo, o relevante papel desde épocas anteriores, das organizações da Igreja e das misericórdias, e sem deixar de lançar um olhar sobre o tanto que o setor se desenvolveu nas últimas cinco décadas.

Com um passado tão rico, uma resiliência tão grande, mas também as fragilidades presentes, por um lado, e com necessidades tão prementes e crescentes na sociedade portuguesa hoje, como verão os líderes das estruturas federativas das várias famílias da economia social o futuro destas organizações? E como irão aproveitar este novo ciclo político para ter conversas francas e ações consequentes?