Numa altura em que se observa um contexto económico de elevadas taxas de juro como consequência de uma elevada inflação, uma questão que se põe é relativa à sua durabilidade. Por outras palavras, durante quanto tempo mais irá durar este cenário que vivemos?

A verdade é que, apesar de nem os bancos centrais saberem qual é a melhor altura de parar a subida das suas taxas de juro diretoras, já se discute entre economistas se voltaremos a um contexto de taxas de juros baixas como aquela que vivemos durante a última década. E isto leva-nos necessariamente ao conceito de estagnação secular.

A ideia de estagnação secular na economia global questiona se a inflação, e por isso um contexto de elevadas taxas de juro, está realmente superada. A estagnação secular é caracterizada pela baixa estrutural procura privada, que requer taxas de juros muito baixas para a sustentar e atingir então o seu potencial de produção.

Apesar deste contexto de elevadas taxas de juro nominais, aquilo que realmente importa observar são as taxas de juro reais – ajustadas à inflação. Desde meados da década de 1980, as taxas de juros reais têm caído constantemente e são inferiores às taxas de crescimento da economia.

Embora a inflação recente tenha levado a um aumento temporário nas taxas de juros, as taxas reais ainda estão surpreendentemente baixas, indicando uma tendência de queda contínua. Olivier Blanchard, ex-economista chefe do FMI, enfatiza que este declínio nas taxas de juros reais não é resultado apenas de eventos específicos, como a crise financeira global ou a crise da Covid-19, mas sim de uma tendência subjacente que permanece. São então fatores estruturais que justificam as baixas taxas de juro reais.

Existem então dois principais fatores estruturais apontados por economistas como justificação para este facto:

Fatores que afetam a poupança: uma população cada vez mais envelhecida e o aumento das rendas ou empréstimos bancários são forças importantes por trás do crescimento da poupança que não se espera que se altere;

Fatores que influenciam a preferência dos investidores por ativos seguros: a procura por ativos seguros é impulsionada por regulamentações que exigem que instituições financeiras mantenham uma proporção maior de ativos líquidos.

Estes fatores estruturais provavelmente continuarão a influenciar as taxas de juros no futuro.

Depois existem também razões de conjuntura e, mais especificamente relacionadas com o investimento, que podem vir a influenciar positivamente um novo contexto de baixas taxas juro. Mesmo com a possibilidade de um aumento nos gastos de defesa devido à geopolítica, investimentos verdes relacionados à luta contra o aquecimento global e uma maior proporção de riqueza mantida em ativos líquidos e seguros, acredita-se que seria necessário um boom de investimento incomum para reverter a tendência de taxas de juros baixas.

Apesar do atual episódio inflacionário, todos estes fatores contribuirão, provavelmente, para que as taxas de juro voltem para níveis mais baixos. A tendência de queda das taxas de juro reais mostra, acima de tudo, uma necessidade da própria economia – ela não “aguenta” taxas de juro reais altas! E com a queda da inflação que já acontece e que se espera que continue, a única forma de não sufocar a economia mais do que ela precisa, é eventualmente baixar as suas taxas de juro nominais.

Assim, aos poucos, iremos aproximarmo-nos novamente do contexto de baixas taxas de juro que vivemos anteriormente. Remetendo à pergunta inicial, mas quando? Talvez mais cedo do que tarde.