“If you pay peanuts, you get monkeys” pode servir de mote para espelhar aquela que foi uma realidade duradoura de grande parte do jornalismo gratuito, praticado através das redes sociais nos últimos anos. Um jornalismo descuidado, fácil, empobrecido e, de quando em vez, verdadeiramente traiçoeiro e desonesto. A consequência de tudo é como diz o mote que lancei: um maior número de leitores macacos (com todo o respeito por ambos), com menos critério, e sem a retenção de informação verdadeiramente válida.

Aí está, o preço do jornalismo gratuito e pouco profissional em todo o seu esplendor. A boa nova é que hoje encontramos alguns indicadores globais de maior relevância que indicam uma mudança de paradigma. Sobretudo no que aos leitores diz respeito.

Através destes indicadores, constatamos que muitos leitores se cansaram das notícias denominadas caça-cliques nos jornais. A tal notícia maioritariamente fácil, normalmente muito sensacionalista, empobrecida e descuidada. Um vício natural que existe por este tipo de notícias e que pode ser cumprido pelas redes sociais noutro tipo de esfera. Longe dos jornais. Cada macaquice no seu galho, já dizia o outro.

Haverá sempre público para o caça-clique, mas, hoje, mais do que nunca, saltam à vista os limites de plataformas como o Facebook, no que ao jornalismo diz respeito.

Em 2017, o jornal britânico “The Guardian” ultrapassou os 500 mil leitores pagos. As receitas digitais aumentaram mais de 15%. As receitas de doações voluntárias e subscrições superaram pela primeira vez na história outras referentes a publicidade no jornal. Paralelamente, e também ao longo do último ano, o “Financial Times” atingiu uma subscrição paga de mais 900 mil leitores, metade das quais eram subscrições digitais. O “New York Times” encontra hoje um crescimento sem precedentes no número de assinantes no digital. Se tivermos em conta a qualidade e dimensão dos jornais referidos, a mensagem e principais conclusões a retirar parecem-me evidentes.

Cada vez mais leitores estão dispostos a pagar para aceder a jornalismo de qualidade. É assim obrigatório que os órgãos jornalísticos que queiram prosperar a longo prazo nesta era, procurem a reconquista deste público. O meio termo entre qualidade e facilidade já não servirá. O respeito e a apreciação que a matéria dos caça-cliques tanto desgastou de forma eficaz, deverá exigir, em sentido oposto, que a qualidade confiável seja paga e bem paga.

O notável e simultaneamente irónico neste novo paradigma, é constatar que o valor social do jornalismo poderá ser exatamente aquilo que representará também a sua salvação económica.

O jornalismo de hoje e de amanhã, com retorno, deverá assentar nalguns objetivos fundamentais: uma qualidade cada vez maior, investigativo, confiável e bem pago. Haverá muito menos players do que ontem (algo que já é uma realidade), mas os que restam, e outros que eventualmente surgirão neste novo espectro, verão a sua esfera de influência alargada. Toda uma nova realidade geopolítica e social o exigirá. Junte-se a isto a realidade paralela da fabricação das chamadas fake news, e os tempos nunca foram tão determinantes e exigentes para estes profissionais.

As pessoas procuram mesmo certo tipo de baluartes da verdade e competência. O preço tem que ser alto. A qualidade do trabalho maior do que nunca. A qualificação, talento e a tecnologia assim o prometem. Resta perceber se o leitor português estará disposto a pagar pelo jornalismo tal qual o leitor francês, inglês e americano. O que me diz, caro leitor?