Num frente-a-frente por meios telemáticos ao qual poderá assistir esta terça-feira, ao meio-dia, nas redes sociais do Jornal Económico e na JE TV, o deputado do PS, Sérgio Sousa Pinto abordou a concentração de riqueza com o ex-vice-presidente do CDS, Adolfo Mesquita Nunes.
Foi numa sala virtual da SEDES que ambos se mostraram de acordo com os problemas da concentração de riqueza e da disparidade de salários entre altos cargos executivos e restantes colaboradores das empresas. “Eu estou de acordo que a questão salarial e a ideia de concentração de riqueza é um problema político grave e ao qual temos de dar resposta”, disse o democrata-cristão, que também abordou o livro que escreveu recentemente, “A Grande Escolha” e que foi, a par do livro “A República à Deriva”, escrito pelo socialista, o pano de fundo deste debate de ideias.
Sérgio Sousa Pinto defendeu que atenta contra a legitimidade do modelo demo-liberal, que “preferimos”, que hajam pessoas que ganhem fortunas “colossais”.
“Não é possível que o Jeff Bezos ou o Elon Musk num ano ganhem 50 mil milhões. Se nós vivemos numa ordem política e numa ordem social que consente que um de nós ganhe 50 mil milhões, estamos a pôr em crise a própria legitimidade fundadora desta ordem. Não é possível explicar aos mais vulneráveis que mais cedo ou mais o liberalismo vai tomar conta deles. Não é possível explicar-lhes que em tese todos nós vamos ganhar 50 mil milhões se formos capazes disso. Isto é uma falácia e ao não ser contrariada vai pôr em crise a legitimidade de todo o modelo económico, social e político que preferimos, que é o demoliberal, um modelo político, democrático e de economia de mercado”, disse o socialista, apontando que só uma intervenção do Estado via política fiscal pode dar uma resposta adequada.
Lembrando que foi a acumulação de riqueza que ajudou a deitar por terra o Império Romano, que descaracterizou o conceito de cidadania e o tornou servo de poder económico, o deputado do PS referiu que “se nós aceitamos uma sociedade com concentração de riqueza que a única coisa que nos promete é a servidão — e eu acho que esse risco existe — nós temos de nos precaver contra ela”.
Atualmente, argumentou, Portugal não tem poder negocial perante “empresas que têm um volume de negócios superior” ao PIB da economia nacional, sinalizando que a resposta (portuguesa) insere-se no contexto da União Europeia, que “é um instrumento que temos à nossa disposição para lidar com essas realidades económicas colossais”.
Consequência da globalização, as grandes multinacionais, tal e qual as gigantes tecnológicas, vão buscar receitas nos mercados onde actuam, que é o mundo inteiro, criando concentração de riqueza. E, neste contexto, a economia portuguesa, não só não se tem sabido adaptar à globalização, como não altera o rumo do seu modelo económico.
“Será que nós, em Portugal, apesar das grandes limitações que nos são impostas pela globalização, estamos a fazer tudo o que nos é possível para libertar o potencial da nossa economia ou será que estamos a aprisionar a nossa economia numa promessa ilusória de prosperidade que nunca se materializa porque não somos capazes de pôr em causa um modelo que não está a correr bem?”, questionou Sérgio Sousa Pinto, frisando que “este modelo não está a correr bem.
De resto, a classe política nacional parece um tanto ou quanto confusa. “Como é possível dizer, desde o partido comunista até ao PSD que somos todos sociais-democratas, quando a Suécia que é social-democrata tem um PIB que é quase três vezes o nosso?”, voltou a questionar o deputado socialista perante a plateia de internautas que o ouviam através do Zoom.
“Queremos ser os sociais-democratas da miséria? Queremos esvair a classe média para distribuir rendas sociais?”, prosseguiu Sérgio Sousa Pinto, para quem “isto é um fracasso colectivo”.
Parte da resposta tem começar por olhar a estrutura da economia nacional e transformá-la: “talvez devamos as reformas que o país precisa para libertar o potencial do país”, sentenciou.
Certo é que o modelo da social-democracia da Escandinávia não teve verdadeiro acolhimento na política nacional. Na opinião de Adolfo Mesquita Nunes, os portugueses não olham para o modelo no seu todo. “Eu acho que o modelo escandinavo é muito mitificado em Portugal porque tem fortes componentes de liberalismo que cá são sempre recusados”.
Para o democrata-cristão, o sistema político e económico em Portugal tende “a olhar para o modelo escandinavo nas suas políticas de redistribuição de riqueza, mas esquece-se olhar “para o modelo que tem de criação de riqueza para a poder distribuir”, concluiu.
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