Se neste momento está cheio de dúvidas, bem-vindo ao clube. Como vai terminar a guerra da Ucrânia e com que sequelas, quem vai ganhar as eleições americanas, quando voltamos a 2% de inflação e a que ritmo vão descer as taxas de juro e até onde são exemplo de questões com grande impacto na nossa vida. A incerteza funciona assim, e não é um drama, apenas exige mais cuidado. É que, como disse Richard Feynman, é melhor viver sem certezas que com certezas erradas.

A primeira grande questão é, claro, se o próximo presidente dos EUA será Biden ou Trump. Ela condiciona a resposta a dezenas de outras questões, por exemplo, qual vai ser política monetária americana – Trump está já a pensar em nomes para substituir Powell, que ele próprio escolheu, mas que não desceu as taxas de juro quando Trump lhe disse para o fazer. Portanto, vai Trump ganhar? As sondagens dizem que sim, embora apenas com uma vantagem de 1,8%.

Mas mais importante, é olhar para as apostas. É que numa sondagem estamos a jogar ‘a feijões’, não há consequências; numa aposta é diferente, arriscamos o que é nosso. Ora, olhando para a Betfair, a maior bolsa de apostas online do Mundo, temos 34,9% para Biden e 47,6% para Trump. Até novembro muita água vai passar debaixo da ponte, mas esperemos que não fique revolta – no dicionário Collins, “troubled water” significa “situação caótica”.

Note-se que a política monetária, junto com a parceria militar, são potencialmente os principais spillovers dos EUA sobre a Europa. Ora, quando escrevo a probabilidade de amanhã a Fed manter as taxas de juro é de 99%; com Trump a governar seria provavelmente 1% – para Trump o banco central é independente enquanto fizer o que ele manda. Isto seria errado, pois a batalha da inflação ainda não está definitivamente ganha.

Não obstante, uma questão subsiste: porque estão os americanos a penalizar Biden quando o produto cresce significativamente, o desemprego está a mínimos de 50 anos, a inflação a cair, mesmo que devagar, e a bolsa bate recordes?

O “The cost of money is part of the cost of living”, do NBER, dá nova resposta a esta dissonância: o custo do crédito (à habitação, ao consumo, etc.), que não está presente nos índices de preços tradicionais, está a ser mais relevante para a confiança dos consumidores e pode explicar três quartos da dissonância. É preciso recuar a Volcker, quando a taxa de juro ultrapassou 20%, para encontrar este nível de preocupação. Claro que isto só muda a questão para: então, o que fazer?