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“Rastreio alargado que existe no futebol pode ser adaptado noutros contextos”, defendem médicos de saúde pública

Protocolo existente no futebol profissional tem permitido que a Liga continue a desenrolar-se num país onde o cenário pandémico é cada mais vez mais preocupante. Em entrevista no programa “Jogo Económico”, da plataforma multimédia JE TV, Gustavo Tato Borges defende rastreios alargados como acontece com os futebolistas.
18 Janeiro 2021, 18h15

O confinamento geral decretado pelo Governo no final da semana passada colocou a prática do desporto profissional numa das exceções de atividades que não irão parar neste período. Essa situação deve-se a um protocolo que, de acordo com a análise de Gustavo Tato Borges, vice-presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, em entrevista ao programa “Jogo Económico”, da plataforma multimédia JE TV, tem sido um exemplo. Este clínico considera que o protocolo do futebol profissional até poderia ser adaptado noutros contextos.

Com a sociedade a confinar, que argumentos tem o futebol para se manter ativo?

A indústria do futebol adaptou-se da melhor forma possível a esta realidade. Foi estabelecido um protocolo de testagem massiva, com periodicidade semanal, tendo em conta que cada todos os agentes têm de ter um teste negativo nas 72 horas anteriores a cada jogo. Além deste rastreio sistemático, há uma determinação de que as pessoas têm que ficar em isolamento de acordo com o resultado dos testes. Portanto, há todo um trabalho feito que permite dizer que nos escalões profissionais do futebol há uma atenção muito cuidada e há um controlo bastante adequado daquilo que são os seus atletas. O nível de risco vai descer substancialmente quando comparado com o nível da comunidade e que vimos foi uma vigilância contínua e que, mesmo com o aparecimento de alguns casos, esses não se disseminaram de forma drástica por outros plantéis. Isso mostra que a implementação da medida foi eficaz, permitiu controlar os surtos dentro dos plantéis e evitou a disseminação de casos. Creio que este protocolo vai-se manter, possivelmente vai ter que ser aumentada a frequência dos testes, mas acredito que estas razões de que falei são suficientes para permitir que o mundo do futebol profissional não pare novamente.

Este protocolo foi delineado num quadro pandémico muito específico. Como deveria ser feito este reforço?

Os casos estão a aumentar desde o início do ano e os casos nos plantéis de futebol têm continuado a surgir mas de forma esporádica se tivermos em conta aquilo que é a circulação natural destes profissionais pelo país no decurso da Liga profissional. Acredito que estes testes são uma boa forma de manter o nível de risco baixo nos profissionais de futebol. Se calhar, vai ser interessante perceber se com o aumento de casos à volta das equipas, se não haverá necessidade de fazer dois testes por semana, um no início da semana e outro 72 horas antes do jogo. Se não haverá a necessidade dos clubes se organizarem e fazerem um estágio alargado para que estejam mais tempo fechados e longe da comunidade. Portanto, um distanciamento mais completo das suas famílias e do resto da comunidade onde estão inseridos de maneira a permitir que nas 72 horas antes do jogo não tenham nenhum contacto de risco. Isto dá mais segurança antes do jogo. Naturalmente, os clubes terão de perceber se têm possibilidade de pôr isto em prática, porque nem todos os clubes têm a mesma capacidade logística dos três grandes e essa é uma condicionante considerável.

Com o país a sofrer recordes diários de infeções, há algo a aprender com o controlo do futebol?

A base deste protocolo tem sido o rastreio sistemático dos seus agentes. A única coisa que podia ser transportada desta realidade desportiva seria a possibilidade de fazer rastreios alargados em determinados locais. Os lares de idosos, por exemplo, já têm um rastreio sistemático; porque não fazer estes rastreios nas escolas, por exemplo, ou a empresas prioritárias? Acima de tudo, seria importante fazer este rastreio com testes rápidos, que são mais baratos e que, cada vez mais, são menos invasivos. Esse alastrar deste programa de vigilância alargado podia ser uma medida efetiva. Aliás, já temos muitas empresas que têm nos seus planos de contingência, e a suportar esses custos eles próprios, a realização de testes rápidos de deteção antigénio para evitar que trabalhadores que venham de férias ou que são considerados indispensáveis, possam ser agentes de infeção. Posso dar o exemplo do que aconteceu aqui em Rabo de Peixe, nos Açores, onde quase sete mil pessoas foram rastreadas em três dias com testes rápidos e isso permitiu, numa primeira fase, conter as infeções.

 

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