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“Receitas e talento”. Como pode a Liga portuguesa seguir os ‘passos’ da melhor Liga do mundo?

O Jornal Económico falou com Rick Parry, o ‘pai’ da Premier League, sobre quais os segredos do sucesso do melhor campeonato de futebol do mundo. Este dirigente esteve em Portugal para inaugurar a primeira formação executiva dirigida a CEO’s, gestores e dirigentes, promovida pela Federação Portuguesa de Futebol.
  • Cristina Bernardo
12 Janeiro 2018, 18h20

Rick Parry, o criador da Premier League, esteve hoje na Cidade do Futebol em Oeiras no âmbito do início da primeira Formação Executiva de Líderes em Gestão do Futebol, promovida à cerimónia de abertura e dar a sua aula do primeiro módulo.

Em entrevista ao Jornal Económico, Rick Parry falou sobre os desafios que uma Liga como a portuguesa tem de enfrentar para atingir um nível onde seja possível atrair receitas e talento.

Que conselhos daria aos dirigentes do futebol português para que se caminhasse para uma Liga portuguesa à semelhança da Premier League: com bom futebol e excelentes receitas?

Para já, considero que seria arrogante da minha parte dizer aos portugueses que estão ligados ao dirigismo desportivo aquilo que deveriam fazer no sentido de criar um ‘produto’ desse nível. Temos clubes portugueses que tem um excelente ‘pedigree’ e uma história de grande sucesso. Para além de que o historial e o presente da Seleção portuguesa é fantástico com a presença consecutiva em várias fases finais de Mundiais e Europeus, e claro, com a conquista do Campeonato da Europa em 2016. Gostava muito que a minha seleção (seleção inglesa) tivesse um percurso semelhante.

Quais são os fatores diferenciadores?

Por outro lado, creio que temos de realistas porque existem dois fatores que ditam o sucesso da Premier League: o primeiro passa pelo facto de ter uma gestão de excelência, e aí creio que temos um modelo que pode, sem dúvida, ser inspirador para outras ligas de futebol ao nível mundial. Desde os primórdios da Premier League, em 1990, que foi adotado um modelo corporativo onde foi sempre dada a primazia à transparência e eficiência, qualidades que quando são bem geridas são uma excelente plataforma para iniciar e desenvolver qualquer projeto. O outro fator que ditou o sucesso da Premier League foi o crescimento exponencial da Sky Television cujo acordo com a Premier League chegou a ser considerado o mais benéfico no que concerne ao desporto europeu, sem mencionar claro os ganhos que daí resultaram tanto para os clubes da Premier League como a própria Sky Television. Tem sido fantástico para todos.

Mas se não se tiver um conceito definido e acima de tudo o potencial para criar receitas, criar um conceito destes sem um destes fatores é um enorme desafio.

Receitas e talento são fundamentais?

Diria que o maior desafio, não apenas para Portugal mas para países como a Holanda, a Escócia, é a capacidade de atrair receitas mas também de atrair talento, ou seja, os melhores jogadores. O mais importante, creio que passa por não cair na tentação de tentar imitar a Premier League mas sim de criar algo em que o futebol português possa ser evidenciado e que possa mostrar os seus pontos fortes.

Em Inglaterra, temos vindo a atrair muitos talentos e os melhores treinadores mas, no fim, tudo se resume a onze jogadores de cada lado do campo. Nem todos os clubes podem ser o Manchester City ou o Chelsea FC, por isso, cada clube deve manter-se fiel à sua filosofia e ser gerido de forma a evidenciar os seus pontos fortes.

Temos o exemplo da Bélgica por exemplo: a Premier League e outros campeonatos está repleta de jogadores internacionais da Bélgica como o De Bruyne, Courtois, Hazard que, atualmente, é uma das grandes seleções mundiais. Mas se formos comparar com este talento com aquilo a que se resume a Liga de futebol na Bélgica, e à capacidade que o Anderlecht e o Standard de Liège têm para competir a nível europeu, temos um desequilíbrio enorme.

Rick Parry, de consultor a ‘pai’ da Premier League

É um dos docentes da formação. Foi consultor na Ernst & Young, cargo que deixou ao ser contratado pela Federação Inglesa de Futebol para prestar aconselhamento na criação da Premier League (1990), acabando por se tornar o primeiro Diretor-Geral da liga em 1991 e permaneceu nessa função até 1997 quando deixou a organização para se tornar Diretor Geral do Liverpool FC. No Liverpool ganhou dez troféus, incluindo a Liga de Campeões da UEFA, em 2005. Desde que deixou o Liverpool em 2009 desenvolveu uma série de projetos de consultoria em futebol em diversos países (América do Norte e Médio e Extremo Oriente) e foi conselheiro da Comissão Especial para a Cultura, Meios de Comunicação e Desporto do Governo do Reino Unido na análise da governação do Futebol. Na atualidade é membro da comissão de Investigação do Órgão de Controlo Financeiro dos Clubes da UEFA.

FPF traz ‘estrelas’ do dirigismo desportivo a Portugal

A Federação Portuguesa de Futebol, através da Portugal Football School, criou a primeira formação executiva dirigida a CEO’s, gestores e dirigentes das mais proeminentes federações e clubes nacionais e internacionais de futebol. A formação irá decorrer entre janeiro e novembro de 2018, trará a Portugal algumas das figuras mais proeminentes do dirigismo desportivo e do mundo académico, das áreas de governança, liderança positiva, direito e finanças, inovação e empreendedorismo, digital media, branding e marketing, ciência e medicina do futebol.O conteúdo programático foi elaborado pela Portugal Football School em parceria com a Nova School of Business and Economics, o Centre de Droit et d’Économie du Sport e a Loughborough London University.

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