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Recessão em Portugal pode conduzir a défice de 4%, estima estudo da EconPol

António Afonso, economista e professor do ISEG, projecta que Portugal deverá registar uma contração de 4,9% no PIB este ano e que o consumo privado deverá cair mais do que na crise financeira de 2008.
1 Abril 2020, 13h00

Uma recessão provocada pelo novo coronavírus poderá levar a um défice entre 3% a 4% do PIB, este ano, segundo um estudo de António Afonso, economista e professor do ISEG, publicado pela EconPol Europe – The European Network for Economic and Fiscal Policy Research, esta quarta-feira.

“Tais desenvolvimentos orçamentais podem implicar uma interrupção e não uma alteração do regime orçamental, como ocorreu algumas vezes no passado em Portugal”, pode ler-se no estudo “Portugal’s GDP, a Note on the 2020 Unknowns”, que assinala que “esta interrupção pode não implicar necessariamente um impacto negativo na sustentabilidade das finanças públicas”.

António Afonso, que já desempenhou funções como economista no Banco Central Europeu, no IGCP e como consultor do Ministério das Finanças, sublinha que o Conselho Europeu permitiu a flexibilização na aplicação das regras da União Europeia para “acomodar gastos excepcionais”, o que terá impacto na contabilização das despesas.

Destaca ainda que o consumo e o investimento privado terá um impacto acentuado nas contas públicas portuguesas, derivado de um corte na despesa das famílias, e por outro lado um aumento da despesa do Estado.

“Um aumento nos desequilíbrios orçamentais é inevitável”, assinala. “Tendo em conta que uma recessão está a formar-se, tanto no mundo como, em particular, nos principais parceiros comerciais de Portugal, é bastante previsível que um declínio no crescimento real ocorra necessariamente em 2020”, acrescenta.

O economista parte de um cenário base, no qual Portugal enfrentará uma queda no PIB de 4,9% este ano, para calcular que um cenário pessimista esta contração poderá ser de 5,8%, e que compara com uma contração de 3,9% no cenário mais otimista.

“É importante ter em mente que, após a crise global e financeira de 2008-2009, as famílias reagiram de fora diferente da expectativa inicial em Portugal”, diz, salientando que os consumidores reduziram o consumo e aumentaram a poupança, apesar da queda de rendimentos. “É bastante provável que ocorra uma redução ainda mais substancial do consumo privado desta vez, dada a incerteza ser mais fundamental e incisiva”, antecipa.

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