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Reduzir sistemas de aquecimento em 3ºC poderá diminuir dependência de gás russo na Europa

Redução de 3°C no aquecimento de casas e escritório poderá ter um efeito duplamente positivo na diminuição da dependência do gás russo e nas metas climáticas. Quem o diz é Josep Borrel, Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança.
11 Março 2022, 10h30

Numa altura em que o conflito no leste da Europa faz repensar o funcionamento das cadeias de abastecimento europeias, principalmente no que às energias diz respeito, Josep Borrel, Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, afirma que uma das soluções no imediato poderá passar por reduzir os sistemas de aquecimento em 3ºC.

Para interpretar as afirmações de Borrel, a Selectra fez as contas e explica de que forma é que a medida afetaria o mercado energético.

A dependência de gás natural da Rússia na Europa é bastante elevada, ao fornecer cerca de 40% do gás consumido no velho continente, embora a dependência do gás russo seja significativamente diferente entre países. Alguns como é o caso da Eslováquia, Letónia, ou República Checa, dependem completamente da Rússia para suprir as suas necessidades, enquanto outros, como Espanha, França ou Portugal importam este recurso maioritariamente de países como a Noruega, Argélia ou EUA.

Especificamente no caso português, a dependência do gás proveniente da Rússia é muito baixa. A Nigéria é o principal fornecedor (cerca de 50%), seguida pelos Estados Unidos (33%) que juntos, possibilitam que o armazenamento de gás natural em Portugal seja atualmente o mais elevado da Europa em termos percentuais. Por esse motivo, se a Rússia decidir cortar o fornecimento de gás na Europa, Portugal não seria um dos países mais afetados por esta medida.

Ainda assim, os mercados europeus estão interligados, ou seja, o aumento dos preços do gás, provocado pelo conflito na Ucrânia, acaba por ter um efeito em cadeia e afeta países menos dependentes da Rússia, como é o caso de Portugal.

Impacto da redução de 3°C no aquecimento das habitações europeias

Em primeiro lugar, deve-se ter em conta que o consumo de gás natural por indivíduos na UE é de cerca de 4.791.387 TJ (terajoules) e que 75% deste valor é utilizado pelos europeus para aquecerem as suas casas. No entanto, segundo as estimativas da Selectra, uma simples redução de 3ºC na temperatura de cada habitação, iria permitir uma poupança total de energia de cerca de 21%, o que, feitas as contas, resolveria 11,6% do problema da dependência europeia do gás russo.

Impacto de uma redução de 3°C no aquecimento das PME

Já no sector terciário, o consumo de gás natural na União Europeia é de 2,006,985 TJ. Se seguirmos a mesma lógica do cenário doméstico europeu e assumirmos que 75% deste valor é exclusivamente destinado ao aquecimento de lojas e escritórios, uma diminuição de 3°C nas instalações do sector terciário poderia resultar em pelo menos 21% de poupança de energia. O que quer dizer que, se todas as lojas e escritórios aquecidos a gás na Europa reduzissem a sua temperatura de aquecimento em 3°C, o consumo cairia para os 316100,1 TJ e 4,9% do problema da dependência europeia do gás russo seria resolvido.

Europa pode reduzir em 16,5% as importações de gás russo

Caso a Europa una esforços e baixe o seu termóstato em cerca de 3%, tanto em casa como no escritório, conseguiria reduzir as importações de gás russo em até 16,5%. No entanto, esta medida pode ser posta em causa devido a dois fatores: Em primeiro lugar, porque a contribuição das famílias que apenas utilizam eletricidade para se aquecerem, deve ser incluída. E em segundo lugar, porque uma redução de 7% no termóstato parece ser um valor cada vez mais contestado: isto porque em edifícios bem isolados, que são cada vez mais comuns, este valor consegue ser mais elevado e a poupança é assim mais significativa.

Apesar de se apresentar como uma medida difícil de promover, pela diminuição de conforto que iria causar aos cidadãos, seria um esforço que possibilitaria que as sanções ocidentais à Rússia fossem realmente eficazes, e que iria beneficiar igualmente o meio ambiente. Isto porque os 1.070.743,6 TJ poupados representam 61,9 milhões de toneladas de emissões de CO2 por ano, ou 1,5% das emissões totais da UE em 2019.

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