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Reflexão sobre a escola que temos e a escola que deveríamos ter. “Pensar fora da caixa dentro da escola”

O que se verifica é que a educação está somente centrada no conhecimento, onde a nota serve para avaliar o crescimento global do indivíduo.
25 Julho 2019, 07h15

Nas últimas décadas temos assistido a um desenvolvimento qualitativo e quantitativo da educação em Portugal. É um legado herdado de outras gerações e está certamente ligado a estigmas históricos, como a passagem da ditadura para a democracia, em que os descentes de gerações mais sacrificadas encontram uma oportunidade ímpar de aceder à educação. Já passaram algumas décadas, desde o pós 25 abril de 1974, e da Guerra do Ultramar, e as novas gerações cresceram orientadas para a educação, o que melhorou consideravelmente as competências técnicas e académicas dos portugueses e, consequentemente, isso teve impacto na evolução do país.

Por outro lado, nos últimos anos, vemos que a educação, tal como se conceptualizou, não consegue atingir uma evolução que, em certos momentos, foi muito clara. Para isso têm contribuído as ruturas estratégicas causadas pelas mudanças de governo, assim como tem faltado uma visão do ensino condizente com as necessidades do século XXI. Temos de falar não meramente no conceito escolar, mas também de uma forma mais abrangente. Isto é, não estando somente focados na implementação dos programas educativos que se ficam por meras imagens superficiais da necessária transformação real. Entendemos que a educação melhora a pessoa na consecução dos seus talentos e das suas competências pessoais e sociais, defendendo a implementação de princípios e objetivos que defendam estes fins, para que a escola se enquadre com as necessidades de uma sociedade em constante competitividade, evolução e sedenta de indivíduos empreendedores, criativos e talentosos. Aqui, é precisamente onde encontramos o maior desajuste entre o que pensamos e o que aplicamos, sendo importante refletir sobre o que é defendido na escola – o conhecimento, os valores e as habilidades. O que se verifica é que a educação está somente centrada no conhecimento, onde a nota serve para avaliar o crescimento global do indivíduo.

Felizmente, que existem projetos inovadores no nosso país, liderados por professores que estão preocupados com a evolução da educação e, consequentemente, do país; e que, por sua iniciativa, promovem programas que são aplicados em instituições de ensino convencional e não convencional.

Na passada sexta feira, dia 12 de junho, participámos como oradores no colóquio organizado pela Start UP Madeira, na sala de congressos do Casino da Madeira, intitulado “Pensar fora da Caixa, dentro da escola”. A iniciativa contou com a presença de aproximadamente 320 professores, onde foram apresentados projetos que vamos enquadrar neste artigo e que desenvolvem os valores, o talento, a criatividade, o empreendedorismo e as competências sociais e emocionais. Projetos em que os alunos se sentem totalmente integrados, motivados, se sentem mais autónomos, criativos e responsáveis.

O rs4e foi o projeto que deu o mote à conferência e que desde 2005 é organizado pela Start Up Madeira, “tem como principal objetivo permitir que jovens a frequentar diversos estabelecimentos de ensino secundário, profissional e superior da nossa Região, tenham um primeiro contacto com o fascinante mundo do empreendedorismo, através do conceito “learning by doing”, é desenvolvido em 3 segmentos de Ensino – Ensino Secundário, Ensino Profissional e Ensino Superior, e ao longo das suas 14 edições, já participaram no projeto mais de 22.000 alunos, já foram envolvidos 390 professores”. Este projeto conta com inúmeros casos de sucesso de participantes que desenvolveram um plano de negócio, que foi implementado e que está a ter sucesso no mercado regional, nacional e internacional.

A metodologia Project/Problem-Based Learning, da autoria de Inês Rodrigues,  é “uma abordagem na qual os alunos aplicam os seus conhecimentos e conteúdos, que aprendem da escola, na resolução de problemas reais. O facto de haver uma causa social associada, neste caso uma causa humanitária em África, e o saber que estarão a melhorar a vida de uma comunidade, motiva os alunos e fá-los reconhecer a importância da aprendizagem e da escola. Este tipo de projetos fomenta o desenvolvimento de outras competências para além dos conteúdos lecionados, como os 4Cs: Comunicação, Colaboração, Criatividade e espírito Crítico, assim como as diferentes literacias: ambiental, financeira, cívica ou digital, conduzindo os alunos num processo de desenvolvimento pessoal, o que os torna aptos a enfrentar as exigências do mercado de trabalho no séc. XXI.

Estes projetos têm vindo a ser desenvolvidos em diferentes escolas e ao longo dos últimos oito anos, envolvendo até ao momento 12 turmas do ensino regular e profissional, e cujos projetos (seis) foram implementados em aldeias na Guiné-Bissau e Moçambique, com impacto numa população de cerca de 60.000 pessoas.”

Droide II – tem com coordenadora Elsa Fernandes, Vice reitora da Universidade da Madeira,  e tem como missão  introduzir “Os robôs na Educação Matemática e Informática”, projeto de investigação financiado pela FCT, cujo propósito é compreender como os robôs contribuem para a aprendizagem da matemática e informática. Os cenários de aprendizagem, pluridisciplinares, co-desenhados por professores, investigadores e alunos, utilizando metodologia de projeto, tinham o propósito de envolver os alunos e compromete-los com a sua aprendizagem. Para além destas aprendizagens, aprenderam a ser autónomos, a tomar decisões e a assumir as consequências das suas decisões. Aprenderam que o erro não era uma falha deles, mas que servia para aprender; foram criativos e estiveram envolvidos e felizes a trabalhar sem perguntar “para que é que isto serve?”.

Neste momento, continuamos a trabalhar na mesma linha, construindo cenários de aprendizagem que incluem não apenas a utilização de robôs, mas também realidade aumentada (utilizando Apps existentes ou dando a possibilidade aos alunos de construírem os seus próprios elementos de realidade aumentada), com modelação 3D, e uma série de outras tecnologias digitais que estão à disposição dos educadores. O ‘segredo’ está em ir ao encontro das expetativas dos alunos, auscultando-os e mostrando-lhes que os seus interesses são importantes para nós professores e educadores.

O Projeto Kidstalentum, em que me encontro envolvido como investigador, desde 2009, tem como objetivo potenciar o talento que existe em cada criança, jovem e adulto, desenvolvendo as suas competências intra e interpessoais, para o aumento da sua performance em todas as suas dimensões, privilegiando a natureza como aula e o trabalho experimental como método. Foi fundado em 2009 e tem como públicos alvo preferenciais, crianças e jovens dos três aos 16 anos. Conta com trabalho desenvolvido em IPSS, escolas do 1º e 2º ciclos da Região Autónoma da Madeira e do continente Português. Tem investigações realizadas com resultados bastante significativos no desenvolvimento de competências dos alunos que frequentam os programas.

Estes projetos são de facto diferenciadores e vão ao encontro do que a sociedade do século XXI pede à escola: uma formação assente nos valores, no conhecimento e nas habilidades.

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