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Rei da rádio conservadora dos Estados Unidos morre aos 70 anos

Seguido por milhões de ouvintes em todos os cantos dos Estados Unidos, Rush Limbaugh recebera a medalha presidencial da liberdade por iniciativa de Donald Trump, a quem muitas vezes defendeu com o mesmo ímpeto com que atacava os adversários políticos. “Tirando ditadores corruptos, nunca ninguém ganhou tanto dinheiro com a política”, escreveu acerca dele a revista “Vanity Fair”.
Rush Limbaugh
17 Fevereiro 2021, 19h05

O autor de programas de rádio e comentador político norte-americano Rush Limbaugh, amado por milhões de ouvintes conservadores e detestado por milhões de liberais (no sentido que essa palavra tem nos Estados Unidos), morreu nesta quarta-feira, aos 70 anos, vítima de cancro do pulmão. A notícia foi confirmada pela quarta mulher de uma das figuras mediáticas mais controversas do outro lado do Atlântico, recorrendo aos microfones do famoso programa radiofónico do marido acabado de falecer para lhe chamar “maior do que a própria vida” e “para sempre o melhor de todos os tempos”.

Tamanha devoção a Limbaugh era partilhada, entre outros, pelo anterior presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que lhe atribuiu a medalha presidencial da liberdade no discurso do estado da Nação de 4 de fevereiro de 2020. A distinção foi entregue pela então primeira dama, Melania Trump, dias depois de o radialista ter descoberto a doença quando já se encontrava em estado terminal.

Numa entrevista à Fox News, o ex-presidente, que no sábado viu o Senado absolvê-lo do processo de impeachment iniciado pela maioria democrata na Câmara dos Representantes por apelo à insurreição na invasão do Capitólio por centenas dos seus apoiantes, dedicou algumas palavras ao rei da rádio conservadora. “Era um homem fantástico e tinha um talento fantástico. Quer gostassem ou não dele, as pessoas respeitavam-no”, disse Donald Trump, que conheceu Limbaugh em 2016, aquando do arranque da campanha presidencial que o levaria à Casa Branca. “Ele esteve comigo desde o início”, acrescentou.

Inimigo declarado do multimilionário George Soros, do movimento Black Lives Matter, dos ativistas Antifa e de praticamente todo o Partido Democrata, Limbaugh iniciou-se na rádio na década de 1970, deixando para trás estudos universitários para os quais nunca encontrara a devida motivação. Demorou a encontrar o sucesso e a fórmula que o tornaria famoso, percorrendo várias cidades de diversos estados norte-americanos até aproveitar a mudança de regras na comunicação social norte-americana para começar a fazer emissões assumidamente tendenciosas e sem qualquer intenção de mostrar “o outro lado” da discussão.

Passando de Sacramento, na Califórnia, para Nova Iorque precisamente a tempo da convenção republicana que escolheu o vice-presidente George Bush como sucessor de Ronald Reagan na Casa Branca, Rush Limbaugh distinguiu-se pela defesa da primeira Guerra do Iraque lançada pelo pai do futuro presidente George W. Bush. Dedicar-se-ia também a dinamitar o presidente seguinte, o democrata Bill Clinton, mobilizando o eleitorado para a “revolução republicana”, com a conquista do controlo do Senado e da Câmara dos Representantes nas intercalares de 1994. Era algo que o Partido Republicano não conseguia há 40 anos, e os congressistas não hesitaram em admitir o contributo do “The Rush Limbaugh Show”, transmitido por estações de todo o país desde 1988.

Tão influente junto do eleitorado republicano quanto empenhado em fazer-se valer da sua popularidade, ao ponto de amealhar uma fortuna pessoal que chegou a ser avaliado em 500 milhões de dólares – “tirando ditadores corruptos, nunca ninguém ganhou tanto dinheiro na política”, fez notar a revista “Vanity Fair” num perfil que lhe dedicou em 2009 -, o rei da rádio conservadora nunca teve medo de desagradar. Ao longo das décadas sucederam-se episódios em que manifestou racismo – chegou a dizer que todos os retratos-robô de criminosos negros publicados nos jornais eram parecidos com o reverendo Jesse Jackson, putativo candidato presidencial pelo Partido Democrata -, homofobia, sexismo e intolerância generalizada a opiniões contrárias.

Pediu desculpa algumas vezes pelo que considerava serem “palavras lamentáveis”, como aquelas que dedicou às vítimas da sida quando a “doença de Rock Hudson” incidia sobretudo na comunidade homossexual ou quando alegou que o ator Michael J. Fox exagerava o impacto da doença de Parkinson, mas nem a passagem dos anos nem a mudança para a mais pacata Palm Springs, na Florida, conseguiram atenuar um registo assente na conflitualidade extrema.

Entre os mais recentes “ódios de estimação” de Limbaugh encontravam-se a adolescente sueca e ativista ambientalista Greta Thunberg, dizendo que o autismo lhe permitia “mentir sobre as alterações climáticas”, e a congressista democrata Alexandria Ocasio-Cortez, que garantiu ter ficado “nauseada” pela atribuição da medalha presidencial da liberdade ao autor de programas de rádio. Entre as últimas polémicas que protagonizou distinguiram-se a comparação da Covid-19 e “uma simples gripe” e a repetição de teorias da conspiração que punham a administração Trump como estando a ser armadilhada por forças ocultas embrenhadas no aparelho federal.

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