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Reino Unido vai pedir extensão da data de partida, sem que ninguém saiba para quê

Theresa May deu mais uma semana ao Parlamento para discutir um acordo de saída. E prepara-se para pedir mais tempo. Mas ninguém consegue descortinar para que servirá esse tempo extra.
  • Parliament TV handout via REUTERS
14 Março 2019, 07h42

Depois de ao final da tarde de ontem os deputados britânicos terem fixado que o Reino Unido não poderá sair da União Europeia sem um acordo de princípio com os restantes 27, a primeira-ministra Theresa May vai novamente a Bruxelas para pedir a extensão do dia de partida, que deveria ser a 29 deste mês.

May deu entretanto o prazo de uma semana aos deputados para debaterem o que querem do Brexit – tendo aparentemente retirado a moção que deveria estar hoje em votação (sobre o pedido de extensão).

A votação da moção do governo será marcada para a próxima quarta-feira. Se o acordo for aprovado até então, o governo buscará uma extensão do artigo 50 até 30 de junho. Mas se o acordo não for aprovado, o governo precisará de uma extensão maior, exigindo que o Reino Unido participe das eleições europeias.

May sabe que a União Europeia aceitará essa extensão – para isso convergem todas as indicações sobre a matéria, nomeadamente palavras nesse sentido ditas esta quarta-feira pelo ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. Mas o que May não sabe, nem a União Europeia – como disse Jean-Claude Juncker – é para o que servirá essa extensão.

Nessa matéria, Theresa May foi conclusiva: disse já por várias vezes aos deputados britânicos que o prolongamento do prazo de saída da União não serviria para nada, se – como foi o caso – a Câmara dos Comuns não aceitasse as cirúrgicas alterações ao backstop propostas por Bruxelas no início da semana.

Ora, como os Comuns rejeitaram essas alterações e não é suposto que venham a aceitá-las no futuro – aliás, nem sequer está prevista qualquer outra votação sobre esta matéria no Parlamento – ninguém consegue descobrir para que servirá o adiamento.

May foi ontem muito cáustica sobre a matéria. Chegou mesmo a perguntar aos deputados se, perante a insistência no adiamento da saída, estariam interessados em revogar o artigo 50º do Tratado da União ou se estariam a pensar em promover um segundo referendo ao Brexit. Ou, dito de outra forma, a extensão é pura perda de tempo.

Em princípio, a nova data de saída deverá ser fixada no dia 23 de maio. É o limite máximo: a partir daí (se a extensão fosse mais além), o Reino Unido ver-se-ia forçado a organizar e votar nas eleições parlamentares que se realizam poucos dias depois. E isso seria, para todos os efeitos, elevar o Brexit ao patamar do mais absoluto anacronismo.

Entretanto, entre diversas votações de emendas, acrescentos e apartes, a cobertura do Brexit – a ver pelos principais jornais, os britânicos incluídos – praticamente deixou de ser ‘acompanhável’. Algumas emendas têm ainda força de lei, outras não – a não ser que o governo queira que tenham – o que transforma a sequência de acontecimentos numa nublosa muito pouco descortinável.

Ainda ontem sucedeu mais um desses episódios: os dos jornais mais conceituados do Reino Unido afirmava que a votação na emenda Spelman (uma das várias que esteve ontem em votação), se vencedora, impediria a votação na proposta do governo. Vários jornais europeus apressaram-se a afirmar que o parlamento tinha decidido que o Brexit não seria possível sem acordo. Minutos mais tarde – depois de votada o chamado compromisso Malthouse, que queria estender a saída até às 22h59 do dia 22 de maio! – a proposta do governo acabaria por ser também votada.

Toda esta confusão ameaça repetir-se pelo menos até 23 de maio. Ou talvez 30 de junho. Ou mais lá para a frente.

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