A “Betclic”, uma das casas de apostas online portuguesa de maior dimensão, organizou durante a semana um evento, onde foi possível analisar todas as movimentações que são possíveis fazer no mundo das apostas virtuais. Ricardo Domingues, CEO da empresa em entrevista ao “Jornal Económico”, fala do crescimento deste negócio, o problema do match fixing e da representação da “Betclic” no mercado português.
Qual é o tipo de perfil do apostador português?
Eu diria que é um jogador que ainda está aprender a apostar. Este fenónemo das apostas desportivas é um fenómeno ainda relativamente recente, não tem a tradição que tem em outros países, como a Inglaterra. E portanto é um fenómeno ainda relativamente pequeno.
Foram publicados dados na semana passada e existem 900 mil utilizadores, menos de 10% da população portuguesa que já está registado em sites de jogo. Não quer dizer que já tenham apostado, mas pelo menos abriram conta. Nesta fase comparado com outros mercados mais desenvolvidos ainda tem perfil, eu diria de certa forma conservador.
E existe essa perspetiva de crescimento no mercado nacional?
Nós temos de facto essa perspetiva na medida em que vai havendo um conhecimento, o mercado necessariamente vai crescer e esperamos que nos próximos anos o número de apostadores registados necessariamente aumente. Tem a ver com o próprio ciclo do mercado e os apostadores também vão começar a conhecer o próprio produto.
Quando apostam por exemplo, no “Placard” apenas têm quatro tipo de apostas antes do jogo muita gente não sabe, mas é possível apostar durante o jogo. Durante o jogo que nós estivemos a ver (Shangai SIPG – Kashima Antlers) oferecemos 75 tipos de apostas, mas se for um jogo grande e importante, podemos oferecer 150 tipos de apostas diferentes.
É emocionante estar com os amigos e decidir quem é que vai marcar o próximo canto? Quem é que vai marcar o próximo golo? Quantos golos é que vão ser marcados? Ou seja, é possível fazer um grande número de apostas durante o jogo que está a decorrer. Portanto, é expectável que há medida que se conheça o próprio produto que se faça mais uso.
Em relação ao match fixing. De que forma é que a Betclic trabalha para combater esse problema?
Nós fora de Portugal pertencemos a uma associação de jogo online de nível internacional e neste momento existe já uma proximidade com o próprio regulador. Em Portugal, quando nós detetamos padrões de apostas atípicos há uma comunicação para as instituições. A nível nacional o Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ) é o regulador deste setor, mas também a nível internacional com outras instâncias competentes, como a FIFA, UEFA, através desta organização que nós pertencemos que é Associação Europeia de Apostas em Jogos (EGBA na sigla inglesa), mantemos um relacionamento estreito e esta comunicação é de duas vias.
Nós detetamos padrões atipicos de apostas, por exemplo grandes apostas em ligas pequenas, ou uma mulher que faz uma primeira aposta muito grande num jogo atipico. Todo esse tipo de comportamentos levantam alertas. E há partida que levantam alertas nós investigamos, olhamos para a conta, vemos onde é que foi aberta.
Como se fosse um histórico?
Certo. Quando não há histórico é de levantar suspeitas. Nós avaliamos, fazemos uma avaliação de risco, se achamos que existe aqui algum problema comunicamos com a EGBA e a partir daí há comunicação com os outros operadores para ver se eventualmente há o mesmo tipo de padrões, porque normalmente este tipo de operações são concertadas entre vários operadores.
Por exemplo, se fizerem uma aposta de 50 mil euros é muito visível, mas se dividirem por quatro, cinco ou seis acaba por passar mais despercebido. Portanto, nós comunicamos com os outros operadores através da EGBA e chegamos à conclusão se há aqui razão para desconfiar.
Havendo, nós obviamente suspendemos (a aposta) e depois a partir daí os mecanismos legais é que avançam o seu curso natural. Para nós é uma preocupação grande esta questão do fair-play, do jogo sem jogo limpo é extremamente importante, porque existe normalmente uma perceção que a casa de apostas de certa forma está envolvida, quando nós somos o último a saber.
Como assumimos uma posição nós não somos um exchange em que há jogadores dos dois lados e se houver alguém lesado é o jogador, porque os jogadores apostam contra a casa. Portanto, se há um jogador que tem informação privilegiada que viciou um jogo e nós não sabemos, nós estamos a pagar um valor que não deviamos estar a pagar. É uma preocupação grande para nós não só do ponto de vista económico, mas do ponto vista reputacional e do próprio desporto. É importante que no desporto exista fair-play e que não esteja sujeito a este tipo de práticas.
Em Portugal o vício do jogo é real e assumido. Como é que uma casa de apostas lida com esse tipo de situação?
Esse problema muitas vezes é sobrestimado. É um problema que afeta menos de 1% dos jogadores, ou seja um problema que é menos de 1% na realidade não é um problema. Nós somos solidários perante essas famílias que são afetadas por o problema desse vício, se calhar desse e de outros somos sensíveis.
Dizer que isso é um problema é exagerado. É preciso haver mecanismos sociais para lidar com esse tipo de problemas. A maioria dos outros (jogadores) joga de uma forma lúdica que é perfeitamente normal e não paga o justo pelo pecador. É importante que haja aqui essa noção.
Costuma-se falar muito desta questão da relação do jogo e do vício do jogo. É um problema. No nosso site nós somos obviamente regulados nos outros operadores também e as pessoas tem a possibilidade de se auto-excluir durante um período de tempo, ou durante um tempo indeterminado e no relatório do SRIJ vem referido que as auto-exclusões são relativamente pequenas, comparado com o universo global de apostadores. O que nós queremos é ter muitos clientes que apostem cinco euros aqui, cinco euros ali, de uma forma lúdica.
Ao nível do volume de negócios. Anualmente quanto dinheiro é movimentado?
O nosso volume de negócios não posso comunicar porque somos uma entidade privada, mas recentemente comunicámos um valor que também é interessante que é quanto é que já pagámos em prémios só em 2018. E são números expressivos. Nós (Betclic) pagámos este ano 108 milhões de euros em prémios. E desde que temos licença em Portugal, irá fazer em junho três anos, pagámos 467 milhões de euros em prémios. São números já de alguma representatividade.
Comparativamente a outras casas de apostas como é que se definem esses valores?
Existem dados globais do setor. Nós não temos acesso aos dados das outras casas de apostas, mas nós acreditamos que deveremos ser o líder deste setor em Portugal, mas como não temos acesso aos dados dos outros, não sabemos como é que a “torta” se divide. Sabemos a nossa representatividade e depois os outros distribuem o resto, mas nós temos uma boa “fatia” do mercado.
Faz sentido que assim seja porque temos alguma tradição, somos o primeiro operador a obter licença. Temos a melhor app do mercado, isto não dito por nós, mas pelos utilizadores. Vamos às app mais votadas na apple store e nós temos a melhor app deste setor. O nosso produto é de facto superior, portanto o resultado não é de espantar. E queremos chegar mais longe.
Tem ideia de quantos utilizadores se registam diariamente na Betclic?
O que posso partilhar é que no primeiro trimestre registaram-se 89 mil jogadores em Portugal entre todos os operadores. A Betclic a nível global tem mais de oito milhões de jogadores registados.
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