A eletrificação já representa cerca de 20% das vendas de automóveis novos, mas o caminho rumo à descarbonização do setor automóvel tem ainda muitos desafios pela frente, sendo que o Governo terá um papel determinante no que toca a desenvolvimentos nesta matéria.

Os objetivos e metas estabelecidas pela União Europeia, consagradas no Pacto Ecológico Europeu, assumem uma ambição relevante e crucial para o futuro da Europa, que passa por torná-la neutra em carbono até 2050.

Contudo, este é um marco que só é possível alcançar através de um esforço conjunto de vários setores, desde o da energia ao dos transportes, e que deve ser, devidamente, estimulado, quer pelo setor privado, como pelo setor público.

Os incentivos à eletrificação dependem muito daquilo que são as intenções dos respetivos governos de cada estado-membro da União Europeia, sendo, por isso, compreensível que países como a Alemanha e a Dinamarca, que têm apostado em força na transição energética e nos esforços de descarbonização, estejam, de momento, mais próximos de alcançar os objetivos e metas europeias estabelecidas. Ainda assim, a adaptação, vontade e força do setor privado quanto a esta questão será determinante para alcançar a neutralidade carbónica. Por exemplo, a consolidação de parcerias estratégicas entre atores privados, mesmo que vindos de indústrias distintas, serão fatores diferenciadores, que permitirão, com certeza, uma aceleração rumo à descarbonização.

No que diz respeito ao setor automóvel, existe toda uma cadeia de processos, desde a produção à logística, que carece de estímulos e inovações para que se reduzam as emissões de GEE, e é certo que a entreajuda entre setores, indústrias e atores privados e públicos, será uma mais-valia, não só pela evidente redução de emissões, mas também pela estimulação de emprego, criação de novas oportunidades e ofertas de trabalho diversificadas, promovendo assim dinamismo económico a nível nacional e local.

Portugal foi durante muitos anos uma referência a nível europeu no campo da eletrificação. Por exemplo, em 2018 Portugal era dos países europeus com maior peso de matrículas de BEV e PHEV (3,4% do total), só atrás da Noruega e da Holanda.

Com o tempo, Portugal foi sendo ultrapassado por outros países europeus. Isso verificou-se em 2021, apesar da boa performance (cerca de 20% do total), acabámos por ficar atrás da Alemanha e da Áustria, por exemplo, mas com melhor performance face a outros mercados de referência como França, Reino Unido, Espanha, Itália ou Bélgica.

Para que Portugal possa posicionar-se na linha da frente rumo à eletrificação e à descarbonização do setor automóvel, assim como desenvolver políticas de renovação do parque automóvel nacional que sejam favoráveis ao consumidor, é necessário que o Governo garanta a atenção e incentivos devidos para que tal progresso se transforme em realidade, deixando de ser uma mera ambição governativa.

A transição elétrica depende da intervenção do Governo nesta matéria, nomeadamente, no que diz respeito à concessão de incentivos que visam a renovação do parque automóvel nacional, velho com 13 anos de média, mais dois do que a média europeia. Com incentivos para o abate de veículos a combustão, como já acontece em outros países europeus, mas também com investimentos fortes ao nível das infraestruturas, pois de nada nos serve apostar e investir na frota elétrica se não nos são garantidas as condições logísticas para que a mesma possa operar.

O investimento acelerado na infraestrutura de carregamento elétrico tem de passar pela aposta na expansão dos Posto de Carga Rápida. Num estudo de 2021, Portugal tinha 30 veículos por posto de carga, ficando na cauda de Europa, enquanto a Holanda, como referência, contava com quatro veículos por ponto de carga.

Investimentos como este, assim como aqueles que são feitos em canais e plataformas próprias, que possam mitigar a dependência externa relativa a componentes essenciais no setor automóvel, como é o caso das baterias para os veículos elétricos, são algumas das soluções que podem alavancar e consolidar Portugal no que toca ao setor automóvel elétrico.

Portugal deve ser mais próximo do setor automóvel e, consequentemente, do consumidor final, pois as metas da sustentabilidade são um esforço conjunto, que envolve todos os intervenientes, desde quem decide a estratégia a nível nacional, até quem a vai colocar em prática ao investir numa mobilidade de futuro.

Sem os devidos adventos e reparos, Portugal ficará para trás na corrida à eletrificação e descarbonização do setor automóvel.

Ainda assim, acreditamos que esta premissa não está, de todo, condenada a realizar-se, e os fundos europeus que chegam ao país representam também eles uma oportunidade para acelerar esta necessária transição, ainda que, em comparação com outros países europeus, as dotações destinadas ao setor automóvel em Portugal sejam muito reduzidas, sendo por isso necessário que se reformulem essas mesmas verbas. Só dando a devida importância ao sector do automóvel é que Portugal poderá posicionar-se como país pioneiro na corrida à descarbonização, não só no setor automóvel, mas em todas as outras indústrias.