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República da Irlanda pede contenção nas negociações entre Londres e Bruxelas

A Irlanda pediu à União Europeia e ao Reino Unido que diminuam a retórica em torno dos atritos comerciais pós-Brexit, depois de Bruxelas rejeitar exigências de Londres para facilitar o comércio com a Irlanda do Norte. A questão da vacina deixou marcas.
11 Fevereiro 2021, 23h29

A saída do Reino Unido da União Europeia levou a uma interrupção significativa do comércio entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido e está a envenenar as negociações do Brexit – como previam os analistas desde que o referendo de 2016. O assunto da fronteira entre as duas Irlandas nunca ficou resolvido – e uma nublosa fronteira marítima engendrada na altura do governo conservador de Thersa May só resultou em sorridos amarelos dos dois lados da fronteira.

O conflito resulta da insistência da União para que o Reino Unido honre o tratado de retirada que deixou a província britânica da Irlanda do Norte dentro da esfera do mercado único devido à fronteira terrestre com a República da Irlanda.

O ministro britânico do Brexit, Michael Gove, que no mês passado ameaçou que Londres consideraria “todos os instrumentos à sua disposição” se não garantisse as concessões necessárias na Irlanda do Norte, encontrou-se com o vice-presidente da Comissão Europeia, Maros Sefcovic, em Londres esta quinta-feira, mas ainda não há notícia de qualquer desenvolvimento.

Mas o cenário é negro, uma vez que Sefcovic descartou apoiar a maioria das exigências do Reino Unido. Falando ao chegar a Londres para a reunião, Sefcovic disse que a implementação do protocolo é uma “via de duplo sentido” e que as medidas práticas acordadas com o Reino Unido em dezembro devem ser implementadas com urgência.

Sefcovic rejeitou os pedidos por mais tempo, até 1 janeiro de 2023, para que os supermercados britânicos e os seus fornecedores se ajustassem à nova fronteira no Mar da Irlanda para mercadorias enviadas para a Irlanda do Norte do resto do Reino Unido.

O primeiro-ministro irlandês, Micheal Martin, cujo país (Estado-membro da União) tem desempenhado um papel central nas negociações, convocou ambos os lados para “diminuir a retórica”. “Só precisamos de calma, porque, em última análise, queremos que o Reino Unido alinhe a bem com a União Europeia. Queremos um relacionamento harmonioso e sensato”, disse.

O Reino Unido aumentou os esforços para extrair concessões da União sobre os acordos comerciais da Irlanda do Norte desde que a Comissão Europeia procurou, antes de perceber o significado do que pretendia, impedir que as vacinas de covid-19 fossem distribuídas da Irlanda para a Irlanda do Norte. A Comissão voutou rapidamente atrás com a decisão, mas Londres registou o sucedido.

A Comissão citou um défice de vacinas prometidas para a União, mas depois reverteu a medida para invocar o Artigo 16 do protocolo do Brexit para a Irlanda do Norte. “É dececionante que a Comissão não tenha reconhecido o choque e a raiva sentida pela comunidade da Irlanda do Norte pela sua decisão de acionar o Artigo 16 e a necessidade de tomar medidas urgentes para restaurar a confiança”, disse um porta-voz do primeiro-ministro britânico Boris Johnson.

O chamado protocolo da Irlanda do Norte do acordo de divórcio entre o Reino Unido e a União visa preservar a abertura da fronteira irlandesa – um componente crucial do acordo de paz de 1998 que encerrou em grande parte o conflito na Irlanda do Norte.

Por outro lado, metade dos exportadores britânicos para a União está a enfrentar dificuldades acrescidas com o aumento da burocracia derivado do Brexit e a interrupção da fronteira depois de um mês com as novas regras, de acordo com um estudo empresarial.

A Câmara de Comércio Britânica (BCC) disse que 49% dos exportadores sediados no Reino Unido, entre 470 empresas, tiveram problemas com acordos pós-Brexit desde o início do ano, já que as firmas enfrentaram custos acrescidos devido a verificações de fronteira e burocracia.

Pouco mais de um mês após o início do novo relacionamento do Reino Unido com Bruxelas, as associações empresariais alertam que uma ação urgente tanto do governo britânico como da União é necessária para resolver problemas graves com o comércio internacional.

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