As rescisões por mútuo acordo, as RMAs na gíria dos ‘entendidos’, muitas vezes chegam silenciosamente, quase sussurradas, como um convite para uma vida melhor, um bilhete para um futuro sem chefes, clientes, ou mesmo colegas. Em suma, uma espécie de paraíso terreno. Era bom, porventura, que assim fosse. A realidade, porém, nem sempre é assim. Muitas vezes, o trabalhador que optou pela RMA não leva muito tempo a arrepender-se da sua decisão, mal preparada e pior pensada.

Note-se, fique claro, que não tenho qualquer obstáculo de princípio, ou filosófico, relativamente às RMAs, ou reformas antecipadas, se essa for a genuína vontade das partes.

As RMAs não podem ser, em circunstância alguma, uma saída para o trabalhador bancário à laia de escapatória milagrosa porque se sente saturado, deprimido ou, muito simplesmente, exausto. Estes são sintomas que, porventura, indiciam a necessidade de se recorrer a tratamento médico, ou de outra natureza, mas não devem ser em caso algum o gatilho para uma RMA.

A aceitação de uma proposta desta natureza não pode ser também uma circunstância em que o bancário fica envergonhado por ter sido ‘convidado’ a colocar um ponto final no contrato de trabalho. Uma RMA deve ser um processo que culmina numa decisão plenamente informada e no qual se fizeram previamente as perguntas mais relevantes: qual o plano alternativo para a carreira profissional futura? Como ficam os equilíbrios familiares? Qual o impacto de uma decisão deste tipo na saúde, na educação, na habitação ou na valorização social?

Igualmente relevante, importa que os bancários tenham plena consciência de que se se reformarem fora do sector bancário — ou seja, todos os que aceitem uma RMA e não mais voltem a trabalhar num banco com acordo colectivo de trabalho ou acordo de empresa — vão ter uma pensão muito mais reduzida do que teriam se tivessem ficado no seu banco.

Acresce que as RMAs não podem ser, em caso algum, uma escapatória para administrações bancárias sem rasgo profissional, ou plano de negócio viável. Os bons gestores, os gestores que acrescentam valor às instituições que lideram, regra geral estão empenhados em fazer crescer as suas equipas e não em cortar custos essencialmente no domínio da mão-de-obra.

Numa altura em que as administrações de alguns bancos preparam uma nova vaga de RMAs, entendi ser oportuno lançar uma ampla campanha de informação, de âmbito nacional, junto dos trabalhadores bancários. Em Braga, Coimbra, Faro, Leiria, Lisboa e Porto, nas duas últimas semanas pude verificar o interesse que o tema suscita junto dos bancários, focados que estão em obter informação e esclarecimentos.

Mais importante, pude testemunhar que, mais do que pensar em possíveis RMAs, os bancários sentem um inequívoco orgulho na sua profissão. O seu orgulho é também o meu.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.