A moção de censura a Theresa May é um problema grave?
Só em parte. É grave do ponto de vista político porque a moção – avançada pelo líder do Partido Trabalhista poucos momentos depois de ser conhecida a derrota do acordo de Theresa May – só faz sentido no quadro da clamorosa derrota averbada na Câmara dos Comuns pela primeira-ministra. Mas nada indica que a moção saia vitoriosa: os unionistas irlandeses (parceiros do governo, mas que votaram contra o acordo) já disseram que não votarão favoravelmente a moção de censura. Muitos conservadores que estiveram contra o acordo também já disseram que não votam favoravelmente. O caso mais paradigmático é o de Boris Johnson – antigo ministro, um dos primeiros a abandonar Theresa May, uma das vozes mais contrárias ao acordo do Brexit tal como ele está e putativo candidato à sucessão de May – que já disse que votará ‘não’ à moção de censura (ou de não confiança, como lhe chama Jeremy Corbyn, o seu autor).
Se a moção de censura for derrotada, quais serão as consequências?
Na prática, apenas uma: não haverá eleições antecipadas.
A derrota foi muito dura?
Não era fácil ser mais dura. As projeções menos otimistas (ou mais, dependendo do ponto de vista) anunciavam que a diferença entre os votos a favor do acordo apresentado por Theresa May e os votos contra poderia chegar aos 130. Afinal, chegou aos 230. Mas o número mais incrível é, apesar de tudo, outro: 118 deputados conservadores votaram contra o acordo – o que quer dizer que apenas 67% do seu próprio grupo parlamentar alinhou ao lado da primeira-ministra.
O que se segue?
A apresentação por parte de Theresa May de uma espécie de memorando em que tentará alinhar os próximos passos do Brexit, nomeadamente no que tem a ver com a União Europeia. Se não estiver já feito, esse documento deverá ser entregue na Câmara dos Comuns no dia 21 de janeiro, segunda-feira. Independentemente do que lá vier escrito, o presidente dos organismos da União Europeia deverão convocar para muito brevemente uma cimeira de chefes de Estado e de governo dos 27.
Para o que servirá essa cimeira?
Muito provavelmente para os 27 jurarem a sua fidelidade ao acordo que Theresa May tem nas mãos e para exortarem os britânicos a aceitá-lo.
Poderá ser encontrada uma saída que permita um acordo?
Não. A questão é tão simples quando isto: o que está verdadeiramente a impedir o Brexit é a questão da fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. Como está mais que evidenciado, nem a União Europeia, nem o governo de Theresa May, nem os seus opositores conservadores que querem um Brexit duro, nem os trabalhistas britânicos têm uma solução para o problema. E não têm porque não há nenhum documento (comum ou não) que, no final de mais de dois anos de conversações entre Londres e Bruxelas, lance um vislumbre de solução que possa ser discutida entre todas as partes. Essa solução simplesmente não existe. A única coisa que existe acordada entre Londres e Bruxelas é que as duas capitais têm dois anos para encontrarem uma solução para o assunto, tendo acordado previamente que podem estender esse prazo se até lá não a tiverem encontrado. Ou, dito de outra forma: não há uma única pessoa nos 28 países da União que saiba como resolver o problema. E é por isso que o Brexit está completamente bloqueado.
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