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Retina pode ser “espelho do cérebro” para diagnosticar Alzheimer precoce, aponta estudo

“A retina poderá funcionar como um biomarcador não invasivo relevante para o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer”, de acordo com um estudo inovador conduzido pela Universidade de Coimbra.
DR
13 Janeiro 2020, 11h53

Já pode ser possível detetar sinais precoces da doença de Alzheimer através da retina. As conclusões são de um novo estudo da da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), que argumenta que esta região poderá funcionar como um biomarcador não invasivo relevante para o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer.

Os cientistas da Universidade de Coimbra realizaram um estudo “longitudinal, único e inovador”, com um modelo animal triplo transgénico da doença de Alzheimer (3×Tg-AD), um tipo que rato, que é o murganho (que possui três genes humanos com mutações associadas a esta doença neurodegenerativa), no qual foram avaliadas em simultâneo as alterações da retina e do córtex visual em quatro tempos diferentes: 4, 8, 12 e 16 meses de idade. Foi também usado um grupo de controlo (murganhos saudáveis).

Durante a investigação, os cientistas pretendiam encontrar respostas para questões como: onde é que surgem as primeiras alterações? No cérebro ou na retina? Onde é que as alterações evoluem mais rapidamente? No cérebro ou na retina? Há alguma relação entre as alterações que ocorrem no cérebro e na retina? Quais são as regiões da retina ou do cérebro que são mais afetadas?

A retina é considerada como um tecido do sistema nervoso central (tem a mesma origem embrionária que o cérebro) e também como uma extensão do cérebro. Por isso, a equipa coordenada por Francisco Ambrósio, explorou o conceito da “retina como um espelho ou janela para o cérebro”, isto é, a retina pode “mostrar” o que acontece no cérebro, no contexto de doença de Alzheimer.

Os resultados, já publicados na “Alzheimers Research & Therapy” uma das principais revistas internacionais na área das Neurociências e da Neurologia Clínica, indicam “a existência de alterações estruturais e funcionais na retina e alterações estruturais no córtex visual do modelo animal 3×Tg-AD. Estas alterações neurais poderão ser usadas como um biomarcador adicional para o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer. Além disso, este trabalho reforça a possibilidade de se usar o olho como uma ferramenta adicional (de modo não invasivo) para o diagnóstico precoce e monitorização terapêutica da doença de Alzheimer”, afirma o principal autor do estudo.

De forma mais simples, notou-se que “a retina, até certo ponto, mimetiza o que acontece no cérebro”. Ou seja, no cérebro há uma redução do volume da estrutura do hipocampo (região do cérebro associada à memória) e do córtex visual e na retina também ocorre uma redução da sua espessura.

“Em todas as fases estudadas [4, 8, 12 e 16 meses], observou-se uma redução da espessura das camadas mais internas da retina, o que se correlaciona com a redução do volume do hipocampo e do córtex visual”, continuou Francisco Ambrósio. “Esta correlação sugere que se poderá utilizar a retina como mais uma ferramenta para o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer”, rematou.

Posteriormente, a equipa, constituída também pelos especialistas Miguel Castelo-Branco, Rui Bernardes e Isabel Santana, realizou estudos com humanos, tendo confirmado “a existência de algumas alterações na retina e uma associação positiva entre as alterações no cérebro e na retina”, refere Francisco Ambrósio. No entanto, adverte, “para uma validação robusta da possibilidade de se usar a retina como biomarcador, é necessário aumentar o número de doentes”

Apesar de este estudo se ter focado na doença de Alzheimer, pode ser alargado a outras patologias, como, por exemplo, doença de Parkinson, esclerose múltipla e esclerose lateral amiotrófica.

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