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Rivais em silêncio no dia em que o Dragão se despediu do “presidente dos presidentes”

Dia de emoções fortes no Porto com a despedida a Jorge Pinto Pinto da Costa a reunir milhares de pessoas nas ruas e no Estádio do Dragão, rodeado dos títulos mais importantes. Rivais mantiveram-se em silêncio e até Montenegro comentou o silêncio.
18 Fevereiro 2025, 07h00

Em silêncio estavam e em silêncio permaneceram. SL Benfica e Sporting CP foi os únicos dois emblemas da Liga portuguesa que não endereçaram as condolências públicas pela morte de Jorge Nuno Pinto da Costa, o que mereceu a condenação de André Villas-Boas.

Aliás, o presidente do FC Porto também fez questão de cumprir o desejo de Pinto da Costa já que o mais titulado dirigente do futebol mundial expressou o desejo de não ter André Villas-Boas (e outras personalidades) nas suas cerimónias fúnebres.

Logo no sábado, após o regresso da equipa do FC Porto do Algarve, o presidente que destronou Pinto da Costa nas eleições de abril do ano passado lançou uma forte crítica aos rivais

“Perante uma perda tão enorme para a nação portista, não podemos deixar de lamentar que até este momento não tenham sido endereçadas nenhumas condolências, nem a mim de forma pessoal, nem ao FC Porto. Aguardaremos para ver se iremos ter alguma representação institucional ou não dos dois clubes de Lisboa. Se assim for, é o mínimo de todas as formas”, referiu. “Não achamos muito normal este tipo de comportamento [de Benfica e Sporting], que faz esquecer uma pessoa que marcou o futebol nacional e internacional e é uma referência para o FC Porto”, notou.

Primeiro-ministro desvaloriza silêncio de “águias” e “leões”

Luís Montenegro marcou presença esta segunda-feira no funeral de Jorge Nuno Pinto da Costa e questionado sobre o silêncio do SL Benfica e Sporting CP, que não deram as condolências pelo falecimento do dirigente este sábado, desvalorizou o episódio.

“Era um homem culto, que aqui e ali criava alguma fricção, mas independentemente das preferências clubísticas, o povo português aprecia aqueles que dão muito de si. Tenho a certeza que a esmagadora maioria tem apreço pelo trabalho de Pinto da Costa”, referiu à entrada da igreja das Antas, na cidade do Porto, onde decorreram as cerimónias fúnebres.

O chefe de Governo guarda a memória “de alguém que dedicou praticamente toda a vida à promoção do desporto e da excelência no país e no FC Porto. O FC Porto é conhecido em todo o mundo por ser uma fábrica de campeões em todos os escalões e com excelentes desempenhos em todas as provas. Isso deve-se a uma cultura muito alavancada nos últimos cinquenta anos e isso vê-se nos títulos”.

“Pinto da Costa não era apenas um homem do futebol mas das outras modalidades. Foi alguém que promoveu a cidade do Porto e a Região Norte”, referiu.

Homenagem no relvado do “Dragão”

As portas do Estádio do Dragão abriram-se esta segunda-feira para uma última homenagem do FC Porto ao ex-presidente Pinto da Costa, cuja urna foi recebida com comoção por milhares de adeptos, entre a missa e a cremação, no Porto.

Cerca das 13:20, os restos mortais entraram no relvado do recinto para o ponto mais alto de um cortejo fúnebre pleno de aplausos, cânticos e lágrimas da multidão, que se tinha iniciado após uma missa celebrada perante múltiplas personalidades na Igreja das Antas.

À medida que o carro funerário ia descendo a Alameda das Antas, ponto de ligação entre a igreja e o estádio, a multidão acelerava o passo em direção ao Estádio do Dragão, onde outros milhares já se reuniam desde que, às 10:45, o FC Porto confirmou a passagem da urna pelo relvado, tendo aberto portas na bancada central poente e nos topos norte e sul.

A homenagem ainda demorou algum tempo a começar, mas as palavras introdutórias do ‘speaker’ do recinto prenunciariam o fim do silêncio na plateia e a chegada em ovação do caixão, coberto por uma bandeira do FC Porto e transportado a partir do túnel de acesso aos balneários, sob a proximidade de familiares e do cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal e amigo do antigo líder portista.

A expressão “o presidente dos presidentes”, cunhada pelo sucessor André Villas-Boas, predominava nos dois ecrãs do recinto e servia de pano de fundo na bancada nascente, a única sem público, enquanto a urna ia repousando durante quase cinco minutos junto aos principais troféus nacionais e internacionais vencidos pelo FC Porto com Pinto da Costa.

Ausente no funeral, por respeito ao pedido feito em vida pelo seu antecessor, Villas-Boas assistiu à homenagem no estádio, tal como os futebolistas da equipa principal, cumprindo um minuto de silêncio – quebrado pelos ininterruptos cânticos da claque Super Dragões – e outro com prolongados aplausos.

No final do hino do FC Porto, a urna aproximou-se da bancada sul, reservada aos Super Dragões, com diversos adeptos a chegarem até perto do relvado para um último adeus carregado de emoção e pirotecnia, que cobriu o relvado com uma névoa azul e branca.

Os restos mortais de Pinto da Costa permaneceram no relvado cerca de 10 minutos, mas parte da multidão viria a seguir o carro funerário até ao Cemitério do Prado do Repouso, na freguesia portuense do Bonfim, onde o corpo será cremado em cerimónia reservada à família.

Antes da derradeira homenagem do FC Porto, o estádio já estava envolvido por faixas e panos gigantes das claques do clube, bem como milhares de mensagens escritas, coroas de flores, velas, cachecóis, bandeiras e camisolas, sendo transformado desde a noite de sábado num memorial em honra do ex-dirigente, que morreu aos 87 anos, e tornou-se o dirigente mais titulado e antigo do futebol mundial à frente dos ‘dragões’, de 1982 a 2024.

Presidente mais titulado do mundo

Jorge Nuno Pinto da Costa, ex-presidente do FC Porto, clube no qual se estabeleceu como dirigente mais titulado e antigo do futebol mundial entre 1982 e 2024, morreu no sábado aos 87 anos, vítima de cancro.

Pinto da Costa tinha sido diagnosticado com um cancro na próstata em setembro de 2021 e agravou o seu estado de saúde nas últimas semanas, menos de um ano depois da derrota para a presidência do clube frente a André Villas-Boas.

Empossado pela primeira vez em 23 de abril de 1982, seis dias depois de ter sido eleito sem oposição como sucessor de Américo de Sá, o ex-dirigente exerceu funções durante 42 anos e 15 mandatos consecutivos, levando o FC Porto à conquista de 2.591 títulos em 21 modalidades – 69 dos quais no futebol sénior masculino, incluindo sete internacionais.

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