Rui Gomes da Silva, antigo vice-presidente do SL Benfica, considera que a venda de 25% do capital da SAD do Benfica abre caminho para aquele que sempre foi, na opinião deste advogado e candidato às últimas eleições, o verdadeiro objetivo de Luís Filipe Vieira: retirar a Benfica SAD de Bolsa. A partir daí, denuncia este sócio benfiquista, a SAD deixaria de prestar informações sobre negócios relevantes ao mercado.
Que riscos corre o Benfica com esta aquisição de 25% da SAD?
Eu chamar-lhe-ia uma estratégia de meter o Benfica no bolso. Hoje parece evidente apesar de nos últimos anos ter dito que esse era o grande objetivo de Luís Filipe Vieira e daqueles que o acompanhavam. Foi essa uma das razões que me levou a não aceitar continuar no Benfica em 2016. Infelizmente, hoje está-se a provar que tinha toda a razão e que esta estratégia de meter o Benfica no bolso está cada vez mais evidente.
Quer explicar-nos esse raciocínio?
Há uma Oferta Pública de Aquisição, alguém que quer adquirir ações, nomeadamente um empresário norte-americano, por um valor muito acima do mercado e essa oferta resulta de uma estratégia que só pode ter explicação num controlo absoluto. Porquê? Porque para além de coimas a lançar por parte da CMVM, em relação a possíveis irregularidades nesta trapalhada toda que hoje sabemos estava em curso liderada por Luís Filipe Vieira, a CMVM obrigará a que exista uma OPA. Nesse caso, quem estiver à frente do Benfica, e numa estratégia combinada ficarão com mais de 90% do capital da SAD. Ou seja, o Benfica tem 40% das ações, a SGPS do Benfica com cerca de 23,5% e e este investidor norte-americano com 25%. O que significa que a CMVM determinará obrigatoriamente que seja feita uma OPA para que seja adquirida a totalidade dos 23 milhões de ações. Mas anda iria mais à frente. É que se esses 90% de capital fossem conseguidos através de poucas compras de ações a seguir a esta primeira operação, poderia ser lançada uma oferta potestativa nos termos do artigo 194 do Código dos Valores Mobiliários. A partir daí, o Benfica sairia de Bolsa obrigatoriamente.
Que consequências teria essa saída da Benfica SAD de Bolsa?
Depois de tirar a Benfica SAD de Bolsa, vai meter-se, como dizia há pouco, o Benfica no bolso. Passam a controlar o Benfica, deixam de dar informação ao mercado sobre transferências e comissões de negócios relevantes e a partir daí, todos os negócios que aí venham sobre direitos televisivos, streaming e outros estarão sem qualquer controlo do clube, sem controlo dos sócios. Esta era a estratégia que sempre considerei estar em curso, para a qual alertei e que não vi ninguém envolvido nas últimas eleições a ter coragem de falar sobre isto: ou porque não sabem ou porque estão envolvidos numa estratégia semelhante. Hoje sabemos quem assessorava a compra dos tais 25% ao empresário norte-americano. Vamos ver: tendo em conta a forma de atuar dos empresários norte-americanos quando fazem investimentos nesta ordem de valores, não é crível que não tenha ninguém de dentro do Benfica a passar informação. Seria um crime gravíssimo, pelo que não vou ao ponto de imaginar que alguém dentro do Benfica criasse um ‘data room’ (sala de dados virtual) para lhe transferir informação para esse ‘data-room’ para que não houvesse exposição. A ter acontecido isso seria um crime gravíssimo, de uma falta de idoneidade, de traição por parte de alguém que é pago pelo Benfica. Mas a verdade é que poderá ter havido fornecimento de informação que levaria esse empresário norte-americano a agir como agiu, pondo em causa o controle do Benfica sobre esse mesmo negócio, sobre a SAD e o negócio futebol, e partir daí, iria-se a Assembleia Geral pedir aos sócios para que o Benfica abdicasse dos 50% da SAD.
Relativamente a esta operação, o que podemos esperar para os próximos dias?
A partir daqui, começa a ser mais difícil. Só espero que os sócios do Benfica não sejam suscetíveis a serem encantados por este canto de sereia que os leve a acreditar que com algum investidor norte-americano o clube fique mais próximo de ganhar uma Liga dos Campeões, de vencer na Europa ou até de uma hegemonia em Portugal. Está provado que é possível, pela dimensão do Benfica, ter hegemonia em Portugal mesmo com má gestão desportiva. Uma presença na Europa de forma a que o Benfica seja olhado como candidato a uma conquista da Liga dos Campeões não se faz através de jogadas financeiras, mas sim do poder dos sócios e com esta massa imensa.
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