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Rui Rio afasta Bloco Central que “só faz sentido numa situação extremamente grave para Portugal”

Líder social-democrata admitiu que seja preciso descer menos impostos e limitar aumento do investimento público se o crescimento económico abrandar. Negando que o cenário macroeconómico em que se baseia o programa de governo do PSD, disse que “temos lá economistas, bons, mas não são bruxos”.
3 Setembro 2019, 22h30

Rui Rio afastou nesta terça-feira qualquer hipótese de o PSD vir a apoiar um eventual governo minoritário do PS saído das próximas legislativas. “Aquilo que é mais contra-natura é haver Bloco Central, que só faz sentido numa situação extremamente grave para Portugal”, disse o líder social-democrata no programa “Tenho uma Pergunta para Si”, da TVI, garantindo que “não estamos nesse patamar”, ainda que tenha realçado que não sabe o que vai acontecer “daqui a cinco ou seis anos”.

A possibilidade de uma recessão global, potenciada pelo Brexit, pela guerra comercial entre os Estados Unidos e a China e pela desaceleração das economias alemã e italiana, levou o jornalista Pedro Pinto a iniciar a entrevista questionando o otimismo do cenário macroeconómico em que se baseia o programa de governo do PSD. Rio salientou que os sociais-democratas se basearam nas estimativas do Conselho das Finanças Públicas, reafirmando que se o crescimento económico previsto pela entidade independente se verificar haverá uma folga orçamental de 15 mil milhões de euros durante a legislatura, dos quais 25% serão destinados a reduzir impostos e 25% servirão para diminuir a dívida pública.

“Se o crescimento não for aquele, mas um pouco mais reduzido, as medidas de todos os partidos terão de ser alterada”, disse o líder social-democrata, garantindo que “comigo não contam para agravar a dívida pública”, pelo que o investimento público não poderia crescer tanto quando o PSD pretende, tal como os impostos não poderiam descer tanto quanto os 3,7 mil milhões de euros que promete fazer poupar às empresas (através de uma redução de dois pontos percentuais no IRC) e aos particulares (com a redução do IVA nas faturas do gás e eletricidade, mexidas nos escalões intermédios de IRS e abolição do adicional ao IMI, a que chamou “imposto Mortágua”, confessando não perceber como pode ser legal).

Recusando que o cenário macroeconómico esteja desajustado, Rio admitiu que dentro de um ano poderá ser ajustado. “Como diz o João Pinto do FC Porto, as previsões devem fazer-se no fim do jogo”, gracejou, acrescentando que no PSD “não temos lá bruxos”. “Temos lá economistas. Bons, mas não são bruxos”, afirmou.

Rio voltou a prometer “políticas públicas segundo o princípio de que são as empresas a possibilitar, ou não, que Portugal possa ter no futuro melhores empregos e melhores salários”, colocando o foco na promoção das exportações, a que contrapôs o foco no consumo interno do Executivo de António Costa. E salientou que os salários dos funcionários públicos dependem de que as empresas paguem impostos,  acabando por dizer que “vamos fazer o esforço de governar” com as 35 horas semanais que passaram a existir na Função Pública, embora tenha considerado que a medida “ajudou a degradar muito os serviços públicos”.

Questionado sobre os problemas internos sociais-democratas, nomeadamente o “ter deixado de fora das listas de deputados todos os candidatos à liderança do PSD”, Rui Rio disse que integrou vários críticos e respondeu a Pedro Pinto que “nem calcula a quantidade [de potenciais candidatos à liderança do PSD] que há por lá”. Acabou mesmo por criticar a “quantidade de pessoas a berrar que querem ser deputados”, chamando-lhes “alguns poucos que fazem muito barulho”.

Já depois de dizer ao secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, um dos convidados da TVI que lhe fizeram perguntas, que “começa a ficar mais claro o teatro que o Governo montou em torno da questão dos professores”, dizendo-se disposto a negociar uma revisão da carreira “que dignifique a profissão de professor”, Rui Rio preferiu não revelar o que fará se obtiver um mau resultado nas legislativas, como as últimas sondagens indicam. “A 7 de outubro logo se verá o que faço. Agarrado a qualquer coisa nunca estive, muito mais agora, aos 62 anos”, garantiu quem acredita estar “a prestar um serviço público”.

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