Em semana de Orçamento do Estado tem sido a pseudo ameaça dos partidos da esquerda parlamentar de que não aprovam o principal documento de política do país a dominar as notícias. Rui Rio, o líder da oposição parlamentar deu prova de vida ao anunciar com antecipação que iria chumbar a proposta de OE apresentada pelo PS. Aleluia! Rio, líder do PSD e da oposição parlamentar, está vivo e voltou à ribalta.

É possível que Rio tenha sido empurrado por dirigentes com ligações às bases, de que teria de tomar uma decisão e deixar de manter-se no “nim” ou no “talvez”. As bases exigiam que fosse afirmativo: ou sim ou não. A oposição não tem feito o trabalho de contrariar e de propor alternativas, tem feito “seguidismo”. Aliás, Rio já foi “entalado”, como se viu recentemente a propósito da presidência do Tribunal de Contas. O próprio Presidente da República endereçou a Rui Rio a responsabilidade pela escolha, pois por ele e pelo primeiro-ministro teriam escolhido outra personalidade! Tudo muito estranho.

Mas voltando ao Orçamento para 2021, Rio tomou uma iniciativa e fê-lo com antecedência. Conseguiu cativar os eleitores da direita do PSD que estavam a resvalar para o Chega. As últimas sondagens saídas, concretamente as do barómetro CM/Intercampus, dão um PSD abaixo dos 25%, algo grave. Possivelmente, Rio não tomou a iniciativa com agrado. Pelo seu estilo, preferiria deixar andar até ao dia do juízo final, mas foi “encostado às cordas” pelas evidências e teve de reagir, e ainda bem para a democracia.

Do outro lado, temos os partidos à esquerda que Costa tenta atrair, já que a geringonça deixou de funcionar desde há muito tempo. Costa cedeu bastante e, possivelmente, ganhará com as abstenções e o OE acabará por passar. Depois haverá as negociações na especialidade e parte da geringonça pode refazer-se. Teremos de pensar que continuamos perante uma pandemia e que no próximo ano teremos a presidência europeia. Viver em duodécimos não é realizável, mas também não é saudável para a democracia fazer “caixinha” e novas exigências após cada passo da negociação. A esquerda está a negociar como sabe e com uma técnica em que obteve quase sempre vantagens.

E se, a priori, o executivo teria mais dificuldade em manter a popularidade em níveis elevados, a verdade é que António Costa tem conseguido “fazer o pino”. Daqui para a frente tudo dependerá da evolução da economia. O regresso ao confinamento de 30 de outubro a 3 de novembro é uma forma pensada pelo Governo para evitar as reuniões de família ou os ajuntamentos nos cemitérios, mas de resultados duvidosos.

A economia não pode parar porque não há segurança social com capacidade para sustentar um país que não produz e não exporta, e será nesta tecla que irá evoluir a popularidade do PS e do PSD. Se tudo correr muito mal para Costa nas decisões das próximas semanas, Rio terá hipótese de ser alternativa, caso contrário continuará a ver o seu partido perder votos para quem está mais à direita.