O antigo secretário-geral do PS António José Seguro defendeu hoje que Portugal deve ter uma “nova cultura política”, com “critérios institucionais para garantir condições de governabilidade” e em que os compromissos não sejam vistos “como um crime”.
Num almoço-debate organizado pelo International Club of Portugal, num hotel em Lisboa, António José Seguro – que já assumiu que está a ponderar uma candidatura às presidenciais de 2026 -, defendeu que Portugal precisa de um “salto qualitativo” que o coloque “na vanguarda dos países mais desenvolvidos” da Europa.
“Precisamos de nos superar como povo e ser coletivamente melhores, se possível excelentes e bem organizados”, sustentou.
O ex-secretário-geral do PS apresentou “oito metas e objetivos” nacionais para alcançar esse desígnio, entre os quais assegurar que Portugal não depende de fundos europeus para o seu crescimento económico, eliminar a pobreza ou diminuir a dependência energética.
Entre essas metas, António José Seguro abordou o cenário político nacional para salientar que se vivem hoje “novos tempos”, com nove partidos no parlamento e três determinantes para formar maiorias, e observar que, nesse contexto, as “condições de governabilidade deterioram-se”, no sentido de “essas forças políticas serem capazes de criar maiorias positivas para governar o país”.
“Nós temos de encontrar, enquanto é tempo, critérios institucionais – já que porventura na cultura política não há tanta disponibilidade para isso – para garantir que futuros governos estão em condições de fazer neste país aquilo que é necessário”, defendeu, sem especificar o teor desses critérios.
O secretário-geral do PS entre 2011 e 2014 considerou que, em Portugal, “a perspetiva prospetiva não abunda” e defendeu que é necessária uma “nova cultura política”, com “governos de projeto e não de turno”, onde haja uma avaliação das políticas públicas e, sobretudo, onde a palavra chave seja o compromisso entre as diferentes forças políticas.
“Nós vivemos numa cultura de trincheira, onde ninguém fala uns com os outros”, criticou, afirmando que a “democracia vive com escolhas, com opções e visões diferentes” e que, nos casos em que “os problemas são tão graves e não se resolvem governo após governo”, o compromisso “deve ser o íman que junta”.
“É preciso destruir esta ideia de que fazer um pacto, um acordo, é para os fracos, que é um crime, é uma traição. ‘Ah, tu falas com o azul, e tu com o amarelo, e tu com o vermelho, e tu com o encarnado’. Desculpem: a democracia é consenso, não é governar uns contra os outros. Na democracia, há oponentes, não há inimigo”, afirmou.
Depois, no período de perguntas e respostas, António José Seguro foi questionado se era hoje que ia anunciar que seria candidato às eleições presidenciais de 2026, tendo respondido que “ainda não é hoje”.
“E por uma razão muito simples: porque estou mesmo em reflexão. Portanto, não tenho nenhum prazo, mas também não estou à espera de absolutamente mais nada. Estou num processo que se está a desenvolver na minha cabeça”, frisou.
Neste período de perguntas e respostas, em que houve várias perguntas sobre presidenciais e até um anúncio de apoio caso Seguro se candidate, o ex-secretário-geral do PS foi ainda questionado sobre qual é deve ser o perfil do Presidente da República.
“Há muita gente que vai à Constituição para detetar o que um Presidente deve fazer. Eu olho para o país e sinto aquilo que um Presidente tem obrigação de fazer nos próximos tempos”, afirmou, referindo que o atual momento é singular.
“As lideranças políticas têm de ser inspiradores, referenciais de confiança, têm de ser mobilizadoras e tenham que, em determinados momentos, chamar à responsabilidade quem tem o poder para decidir e quem tem responsabilidade de construir”, afirmou, reiterando ainda que precisam de “chamar a atenção para a questão dos compromissos”.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com