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Sell in May and go away?

É um dos adágios mais famosos de Wall Street. Claro que nem sempre as coisas se passam da mesma forma, mas há alguma evidência estatística a suportar a tese.
3 Maio 2019, 00h30

Sell in May and go away? O famoso adágio estava a ser invocado na quinta-feira à tarde pela CNBC e foi acompanhado de uma estatística a la carte: segundo a estação de televisão, 10 mil dólares investidos no índice Dow Jones de maio a outubro desde 1950, valeriam hoje 4.138 dólares; mas se o investidor estivesse no mercado apenas durante os meses de novembro a abril, os mesmos 10 mil dólares ter-se-iam transformado em 2.836. 350 dólares. Claro que esta estatística – que não auditei – acaba por refletir o facto de que grande parte das maiores quedas de sempre das bolsas terem ocorrido a partir de setembro, como aliás voltou a acontecer no ano passado. Relembremos que o máximo de 2018 do Dow Jones foi visto em 3 de outubro.

Este tipo de preocupações percebe-se particularmente no contexto atual. As bolsas têm tido um comportamento fantástico em 2019… até agora. Em Nova Iorque, o Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq estão a valorizar 13%, 16% e 21,5%, respetivamente, e atingiram máximos históricos nos últimos dias. Na Europa, o DAX e o CAC sobem 17%, com o sector automóvel a valorizar mais de 20%. A oriente, o Japão “apenas” sobe 8%, o que contrasta com os 23% de valorização do índice de Xangai. Sucedem-se as operações de entrada em bolsa, com a grande maioria das empresas a proporcionar ganhos a quem foi aos IPO.

O problema é que o contexto económico e político mundial está longe de ser assim tão benigno. As principais economias continuam a dar sinais de desaceleração, embora também sem tornar provável uma recessão. Os resultados das empresas não estão propriamente a sair fantásticos e as previsões de lucros futuros têm sido revistas em baixa. Há algum otimismo em torno do desfecho da “guerra comercial” entre os EUA e a China, mas continua a ser um tema por resolver. Depois de Donald Trump ter dito, a 4 de abril, que um acordo poderia estar pronto em quatro semanas, as partes ficaram de alguma forma comprometidas a apresentar um resultado. Fontes próximas do processo dizem que o entendimento está, de facto, próximo, mas há outra dificuldade: como garantir que o que for acordado será cumprido de forma rigorosa e duradoura. A janela de oportunidade para um acordo útil e duradouro está aberta, mas os riscos de fracasso estão também presentes e o mercado está atento. Ao nível geopolítico, a relação entre a Rússia e os EUA não parece estar a melhorar ainda que se fale pouco do assunto. Não obstante o aparente bom entendimento entre os respetivos presidentes, as tomadas de posição de ambos os países quanto à Venezuela, Turquia e Médio Oriente não auguram nada de bom. E, no entanto, os índices continuam a subir…

Com ou sem intenção, a Fed ter dado o tiro de partida para uma correção das bolsas. Depois de em dezembro a Reserva Federal ter “cedido à pressão” dos mercados, que caíam a pique, e ter sinalizado o fim da subida das taxas de juro, o discurso da passada quarta-feira desiludiu os investidores. Não que a Fed tenha dito que os juros irão voltar a subir, mas os mercados – cientes que este é um bull market de bancos centrais – esperavam algum sinal de que poderia haver um corte de taxas este ano. Jerome Powell, ao ver as bolsas em máximos e a economia dar sinais “mistos”, mas não desesperantes, sentiu-se à vontade para dar a entender que não se deve esperar juros mais baixos com base nos dados atuais. As bolsas não gostaram e pode ser que o adágio se concretize.

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