Em 2023, os sete maiores bancos portugueses – Caixa Geral de Depósitos, BCP, Novobanco, Santander Totta, BPI, Crédito Agrícola e Banco Montepio – lucraram 4.633,9 milhões de euros, o que compara com os 2.761 milhões de euros que os mesmos sete bancos obtiveram em 2022.
A diferença traduz um aumento de 67,8% que é explicado essencialmente pelo efeito da subida dos juros do crédito que não foi acompanhada por uma subida dos juros nos depósitos ao mesmo ritmo.
Esta receita da margem financeira ascendeu no ano passado nos sete bancos a 10.431,7 milhões de euros e é um marco histórico que não se repetirá em 2024, até porque no quarto trimestre esta receita já começou a descer, o que explica por exemplo que o BCP tenha visto os lucros caírem 16% no 4º trimestre.
A CGD foi a última do Top7 a apresentar os seus números de 2023 e a provar, como diz o ditado, que os últimos são os primeiros, a Caixa lidera o ranking com um lucro de 1.291 milhões de euros, dos quais 1.085 milhões foram gerados no banco em Portugal (+435 milhões que um ano antes).
O CEO da CGD, Paulo Macedo, fez questão de sublinhar que permite um pagamento ao Estado de montante idêntico, de 1.258 milhões de euros (entre os 525 milhões de euros de dividendos, os 529 milhões de impostos pagos ao Estado e os 204 milhões de custos de supervisão). O banco do Estado, entre dividendos pagos em 2023 e a distribuir em 2024, vai distribuir ao acionista mais de 1,2 mil milhões de euros, considerando o dividendo de 713 milhões liquidado em 2023 e o valor previsto para 2024 de 525 milhões.
Apesar de estar no topo do ranking em lucros, a CGD na Rentabilidade dos Capitais Próprios (ROE) está abaixo do Santander em Portugal. Pois o ROE da CGD é de 20,4% (perto da rentabilidade do Novobanco) e abaixo do ROE do Santander Totta que é de 23,4%.
Olhando para este indicador que melhor revela os ganhos da banca há claramente três grupos. Os que têm uma rentabilidade a superar largamente o custo do capital (Santander, CGD e Novobanco), os que têm um ROE que supera moderadamente o custo do capital (BPI e BCP com uma rentabilidade em torno dos 16%) e os que estão abaixo do custo do capital (Crédito Agrícola com um ROE de 13,1% e Banco Montepio com 9,3%). Sendo que, há que explicar, a rentabilidade do Banco Montepio leva em consideração os lucros recorrentes de 144,5 milhões, ou seja, sem o efeito da reclassificação da reserva cambial no valor de 116,1 milhões, na sequência da desconsolidação do Finibanco Angola no 1º semestre de 2023. Porque tendo em conta o resultado líquido efectivo de 28,4 milhões de euros o banco da Associação Mutualista teve um ROE de 1,83%.
A última informação do BCE é de que o custo do capital estava em 13,2% no final do 1º semestre e a estimativa da banca é que está agora entre 12% e 14%. Como as taxas de juro pouco mexeram desde o 1º semestre, o custo do capital não se terá alterado muito.
Olhando para o acumulado dos sete bancos, verifica-se que a margem financeira, que integra o produto bancário, subiu em média (simples) 78%.
A liderar a subida da receita dos juros está a CGD com 103,9% (para 2.865,9 milhões de euros); seguindo-se o Grupo Crédito Agrícola com a margem financeira a crescer 103,8% (para 749,5 milhões). Depois o Santander com uma receita de 1.491 milhões, a subir 90,5% num ano. O Novobanco surge a seguir com uma subida de 82,7% para 1.142,6 milhões e o BPI registou uma subida da margem de 70% para 949 milhões. O Banco Montepio está no fim da tabela dos sete com uma subida da margem financeira de 63,2% para 408 milhões.
Nem sempre a subida da margem financeira acompanha a “par e passo” a subida de lucros. Pois o campeão da subida dos lucros é o BCP (+333,7% para 856 milhões de euros), seguindo-se o Crédito Agrícola com um aumento de 238,1% para 296,8 milhões de lucros. O Santander Totta viu os lucros subirem 57,3% para 894,6 milhões e o BPI registou um aumento dos resultados líquidos de 42% para 524 milhões.
O Novobanco aparece em quinto lugar no ranking do crescimento dos resultados em 2023, pois reportou uma subida dos lucros de 32,5% para 743,1 milhões.
Depois temos o Banco Montepio com lucros de 28,4 milhões de euros (sendo que expurgado o efeito da venda do Finibanco Angola teria tido 144,5 milhões). Os 28,4 milhões efectivamente registados representam uma queda dos lucros de 16,1% face a 2022.
Na demonstração de resultados as receitas de comissões tiveram um comportamento misto que vai desde a queda de 6,9% da CGD (para 564,6 milhões) à subida da receita de comissões do Crédito Agrícola que é de 10,7% (para 153 milhões). O BCP ficou flat.
Esta receita caiu 2,8% no Santander Totta e 1% no BPI. Mas subiu 5,4% no Banco Montepio e 0,9% no Novobanco.
Num ano de inflação a gestão dos custos foi determinante para a eficiência e mais uma vez o Santander Totta liderou com um rácio de cost-to-income de 26,60%. A CGD é o segundo mais eficiente com 28,1%. Segue-se o BCP com 32%; o Novobanco com 33%; o BPI com 38,8%; o Crédito Agrícola com 41,80%; e o Montepio com 50,8%.
O único banco que foi espartano nos custos operacionais foi a CGD que conseguiu uma redução de 15,1%, o que compara com a subida dos custos em todos os bancos (fruto da inflação).
O BPI destacou-se pela negativa com um agravamento de 13,00% dos custos. Na lista dos que viram os custos subir, quem conseguiu conter mais a subida foi o Banco Montepio com uma subida de apenas 3,8%. Pois o BCP registou um agravamento de 8,3%; o Santander 7%; o Novobanco subiu os custos 6,9%; e o Grupo CA 5,1%.
O que nos diz mais a comparação dos números reportados pelos sete maiores bancos portugueses?
A qualidade da carteira de crédito melhorou para a maioria dos bancos. Os dados reportados revelam que os bancos têm no geral rácios de crédito em incumprimento (NPL/NPE) abaixo dos 4%. As excepções aqui são o Novobanco que tem o rácio de NPL em 4,4% e o Grupo Crédito Agrícola que tem um rácio de crédito malparado de 6,2%, acima do referencial pedido pelo regulador europeu que é de 5%.
A CGD que apresentou contas na última sexta-feira confirma esta tendência. “Os ativos não core reduzem 740 milhões em 2023, com a redução acentuada de 620 milhões em crédito non-performing (NPL) e a redução adicional de 120 milhões de euros em imóveis detidos para venda, propriedades de investimento e fundos restruturação”.
O rácio de crédito malparado (Non-Performing Loans) é de 1,65% no consolidado e de 1,5% em Portugal, “o valor mais baixo da banca nacional”, sublinhou a CGD que reportou, em termos de NPE (Non-performing exposures), um rácio de 1,5%. Mas de facto não é assim, porque o BPI tem um rácio de NPE de 1,5%, e também reclama ser “o melhor do setor em Portugal”.
Apesar de estar no topo da tabela em qualidade da carteira de crédito, a CGD não tem o custo do risco de crédito mais baixo, pois reporta um rácio de 0,29% que o banco liderado por Paulo Macedo diz que reflete “uma atitude prudente e preventiva face a riscos potenciais, mas não materializados”.
O banco da lista que tem o mais baixo custo do risco, ou seja que tem menos novas imparidades para o total da carteira de crédito, é o BPI com um custo do risco de 0,16%. Segue-se o Santander Totta com 0,17%. Depois surge a CGD, seguida do Banco Montepio com 0,40%; do BCP com 0,42%; do Novobanco com 0,50% e do Grupo CA com 0,77%.
Em termos de cobertura por imparidades o que se verifica é que a CGD é a mais prudente com 172,2%; depois o BPI com 98%; o Santander com 89,2%; o Novobanco com 84,3%; o BCP com 81,8%; o Montepio com 73,9%; e o Crédito Agrícola no fim da tabela com 53,4%. Isto dá uma medida do risco que permanece na carteira de crédito.
Outra tendência que parece ter vindo para ficar é redução do crédito concedido. Vários factores explicam esta evolução, desde logo a subida das taxas de juro. Mas também o aumento dos requisitos dos bancos e a queda do rendimento com a inflação, no caso das famílias. À excepção do Santander Totta e do BPI onde a carteira crédito sobe em 2023 (3% em ambos) e do Crédito Agrícola (+0,6%), nos outros bancos a evolução é negativa. A maior queda deu-se no Banco Montepio (-2,8%), depois no BCP (-1,6%), na Caixa e no Novobanco, ambos com uma redução de 0,5%.
Também os depósitos registaram uma queda em 2023 na maioria do bancos. Aqui a excepção foi o BCP que regista uma subida de 2,7%.
A maior queda deu-se no Santander Totta (-8,5%). Na conferência de imprensa Manuel Preto, CFO do banco, explicou que os depósitos caíram 8,5% para 35,3 mil milhões de euros, porque houve uma transferência de recursos de clientes para fora do balanço, que por sua vez subiram 11%.
Na CGD e no BPI, a carteira de depósitos recuou 4% em 2023. O volume de depósitos de clientes no BPI caiu 4% para 29,3 mil milhões de euros e na CGD caiu o mesmo para 80,5 mil milhões.
A Caixa explicou que no mercado nacional, os depósitos de clientes diminuíram 3,2% face a dezembro de 2022, “sendo de salientar que no segundo semestre se verificou uma tendência de recuperação com um aumento de cerca de 1.400 milhões de euros”.
“A Caixa manteve a sua posição de liderança tanto nos depósitos totais de clientes, com uma quota de 23,1%, como nos depósitos de particulares onde registou uma quota de 31,5%, em dezembro de 2023”, referiu o banco.
Na CGD os depósitos de clientes assumem um peso fundamental na estrutura de financiamento do Grupo representando 91% do total do passivo consolidado (excluindo passivos não correntes detidos para venda).
Os bancos estão muito capitalizados, é outra conclusão da análise. Os rácios de Common Equity Tier 1 (CET1) situam-se num intervalo entre os 15% e os 23%. O Crédito Agrícola tem um rácio CET1 de 22,4%; a CGD 20,3%; o Novobanco 18,2%; o Santander 16,9%; o Banco Montepio 16%; BCP 15,4%; e o BPI 14,1%.
Os bancos, no geral, vão distribuir dividendos.
Imóveis e fundos de reestruturação o legado que dá “dor de cabeça” à banca
Um dos desígnios dos bancos é a redução dos ativos não core e aqui estão incluídos os imóveis recebidos por recuperação de crédito e a exposição a fundos de recuperação ou de reestruturação.
A CGD reportou uma redução dos ativos não core de 743 milhões de euros em 2023. O que inclui 7 milhões de euros de vendas de propriedades de investimento (tem 11 milhões de euros em carteira em dezembro do ano passado) e a venda de imóveis no valor de 59 milhões (ficou com 232 milhões de euros – exclui Imóveis do extinto Fundo de Pensões no montante de 67 milhões – menos 20,5% que em 2022). Em fundos de reestruturação houve uma redução de 56 milhões (tem 149 milhões de euros em dezembro, sendo que em fevereiro de 2024, houve já um desinvestimento adicional de 14 milhões de euros) e 621 milhões de euros de redução do stock de Non Performing Loans (que está agora em 1.233 milhões).
No BCP a carteira líquida de imóveis recebidos por recuperação reduziu-se 45% entre dezembro de 2022 e dezembro de 2023 para um valor líquido de imparidades de 100 milhões de euros (as imparidades são de 68 milhões).
O banco liderado por Miguel Maya disse que “o valor da carteira, calculado por avaliadores independentes, situa-se 39% acima do respetivo valor contabilístico”. O BCP em 2023 vendeu 820 imóveis (tinha vendido 1.541 imóveis em 2022), tendo o valor de venda excedido o valor contabilístico em 13 milhões.
O BCP reportou ainda uma redução dos fundos de reestruturação de 11% face a 2022, sendo o valor no fim do ano passado de 365 milhões de euros.
O Novobanco revelou por sua vez vendas que permitiram diminuir a exposição a Real Estate para 460 milhões de euros (-25% no acumulado do ano) com ganhos gerados de 35,6 milhões de euros, em termos de valor líquido (NBV).
O valor dos imóveis recebidos em dação no banco liderado por Mark Bourke somava no fim do ano 64 milhões de euros (menos 69% que um ano antes). Acrescem as propriedades de investimento e outras no valor de 396 milhões.
No caso do Santander Portugal a administração, na apresentação de contas disse que dos 700 milhões de euros de imóveis obtidos por recuperação de crédito, que herdaram do Banco Popular, já só restam 20 milhões de euros que se referem a imóveis que ainda não foram vendidos por falta de licenciamento.
No BPI o valor segue sendo muito baixo. O banco detido pelo CaixaBank revelou que em imóveis obtidos por recuperação de créditos, o valor líquido em balanço não ultrapassa o um milhão de euros.
O BPI revelou que só entraram 16 imóveis por recuperações de crédito à habitação nos últimos três anos.
Já o valor líquido em balanço da exposição a fundos de reestruturação somava 14 milhões em dezembro.
O Banco Montepio, por sua vez, revelou uma redução da exposição ao risco imobiliário em 134 milhões (-34% num ano), para um total de 263 milhões, representando 1,5% do ativo líquido (2,1% no final de 2022) e 18,3% dos fundos próprios (29,6% no final de 2022).
Por fim o Crédito Agrícola regista um valor de exposição ao imobiliário de 237,9 milhões, o que traduz uma queda anual de 24,9% (exposição líquida directa e indirecta).
O banco liderado por Licínio Pina revela no comunicado dos resultados que “em 2023, os resultados de outros activos do Grupo CA diminuíram 47,4 milhões de euros face a 2022, de 3,8 milhões para -43,6 milhões de euros no final de 2023, fruto das perdas observadas com imparidades líquidas dos imóveis classificados como activos não correntes detidos para venda (-47,9 milhões de euros em 2023), como consequência da implementação de haircuts em função da antiguidade na carteira de imóveis”.
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