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Sindika Dokolo: Da pena de prisão à acusação de ‘complot’. Polémicas do empresário e colecionador de arte congolês

Sindika Dokolo, empresário e colecionador de arte congolês, morreu no Dubai, quando praticava mergulho, esta quinta-feira. Para trás ficam alguns episódios polémicos, quase todos relacionados com Isabel dos Santos.
29 Outubro 2020, 23h18

O empresário e colecionador de arte, Sindika Dokolo, tinha 48 anos e nasceu na atual República Democrática do Congo. Em 2002 casou-se em Luanda com Isabel dos Santos, filha do ex-presidente de Angola José Eduardo dos Santos. O empresário envolveu-se em alguns episódios polémicos que, por vezes, coincidiram também com as acusações a Isabel dos Santos no âmbito dos Luanda Leaks.

Sindika, dono de uma das mais importantes coleções de arte contemporânea africana (que conta com três mil obras), era filho de pai congolês e de mãe dinamarquesa, tendo dividido a sua infância entre Bélgica e França. Frequentou o Lycée Saint-Louis-de-Gonzague em Paris, onde concluiu o nível secundário, e licenciou-se em Economia, Comércio e Línguas Estrangeiras na Universidade Pierre e Marie Curie. Em 1995, Sindika decidiu voltar para o antigo Zaire para assumir os negócios de família que totalizavam 17 empresas em atividades tão diversas como banca, pecuária, pesca, exportação de café, imobiliário, transporte de mercadorias, seguros e mineração entre outras.

Condenado a 1 ano de prisão

A 17 de julho de 2017, Sindika Dokolo, empresário e colecionador de arte congolês, e também genro de José Eduardo dos Santos, foi condenado a um ano de prisão, no âmbito de um processo imobiliário. O marido de Isabel dos Santos acusou o Presidente da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, pela condenação, denunciando o caso no Twitter, precisamente depois de inaugurar em Luanda, na quarta-feira, um nova fábrica de cimento do grupo que lidera, a Cimangola. “Quando inauguro uma fábrica de 400 milhões de dólares [cimenteira em Luanda], JKabila [Joseph Kabila] faz-me condenar a um ano de prisão por um bocado de terra. Senhor Kabila! Vai-se perder na sua Justiça”, escreveu Dokolo nesta rede social.

Segundo a imprensa local, Sindika Dokolo foi condenado à revelia por fraude imobiliária por um tribunal de Kinshasa. Noutro tweet, o empresário congolês voltou a atacar a condenação. “Investi 400 milhões de dólares numa fábrica. Querer condenar-me por roubar um milhão [de dólares] não é credível”, publicou.

Congelamento de contas

No início de janeiro de 2020, o congelamento das contas bancárias de Sindika Dokolo em diversas empresas também arrestadas pelo Tribunal Provincial de Luanda, levou o presidente da República Democrática do Congo a alertar para as graves consequências destas medidas. “Pressionado internamente, ele veio exercer aquilo a que em termos de direito internacional, se chama proteção diplomática de um seu cidadão cujos interesses foram afetados por uma decisão de um Estado estrangeiro”, revelou na altura ao Expresso fonte diplomática de Angola.

Investigação por branqueamento de capitais

O semanário “Expresso” noticiou, no início deste ano, que a empresária Isabel dos Santos estava a ser investigada pelas autoridades do Mónaco pelo crime de branqueamento de capitais, tal como o seu pai, o ex-presidente de Angola José Eduardo dos Santos, e o seu marido, o empresário congolês Sindika Dokolo. Segundo o “Expresso”, “as investigações poderão vir a estender-se a outros familiares, amigos e colaboradores mais próximos que, de forma direta ou indireta, com eles estiveram envolvidos em negócios”, sendo citado na notícia um oficial dos serviços de investigação criminal de Angola que acompanha o caso em colaboração com a Interpol. A investigação das autoridades do Mónaco foi motivadas pela deteção de quantias elevadas depositadas em instituições financeiras no principado.

Sindika acusa Rui Pinto e João Lourenço de complot

A 19 de janeiro deste ano, e em pleno escândalo do Luanda Leaks, Sindika Dokolo saiu em defesa de Isabel dos Santos e acusou o ‘hacker’ português de ser o braço armado do ‘complot’, em declarações ao RFI. Além de Rui Pinto, Dokolo defendeu que João Lourenço, presidente de Angola, e Manuel Vicente, antigo vice-presidente de Angola, também faziam parte deste ‘complot’ dos Luanda Papers. O Luanda Leaks é uma investigação de um consórcio internacional de jornalistas de investigação (ICIJ), que sugere que Isabel dos Santos beneficiou de imensas oportunidades derivadas de Eduardo dos Santos, antigo presidente de Angola e pai de Isabel dos Santos, enquanto dirigiu o país, e mostra como Isabel dos Santos construiu fortuna à custa do Estado de angola.

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