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Sistema de ensino atual está “obsoleto e incapaz de se renovar”

“Precisamos de um modelo educacional que não só desenvolva as competências técnicas dos jovens, mas também a sua criatividade”, defende Pedro Santa Clara, fundador da Escola 42, ao Jornal Económico no âmbito do Innovators Forum da Sonae.
8 Novembro 2023, 16h25

O sistema de educação que se ensina nas escolas há várias décadas está obsoleto. A afirmação, que pode ser vista por muitos como polémica, é de Pedro Santa Clara, professor da Nova SBE, fundador da Escola 42 e também director da TUMO Coimbra.

Ao Jornal Económico, no âmbito do Innovators Forum ’23, organizado pela Sonae e com foco no tema da educação, Pedro Santa Clara falou sobre as principais diferenças entre o modelo de ensino público e privado, bem como da convivência do sector com a tecnologia.

Na opinião do fundador da Escola 42, as próximas gerações devem começar a ser preparadas para o mundo tecnológico o mais prontamente possível.

De que forma a educação pode conviver com a tecnologia?

A necessidade de talento no sector de tecnologia é crucial em toda a Europa. Tanto o sector público quanto o privado estão a tentar responder a essa necessidade com medidas corretivas urgentes, como a requalificação de jovens profissionais, a organização de hackathons, o financiamento de incubadoras, a abertura de boot camps… No entanto, só é possível extrair uma quantidade limitada de talento da força de trabalho de forma retroativa. Para além disso, é crucial começar a preparar desde já as próximas gerações para aproveitar as oportunidades das próximas décadas.

Os países que o fizerem hoje serão os mais competitivos amanhã.

Precisamos de um modelo educacional que não só desenvolva as competências técnicas dos jovens, mas também a sua criatividade – incentivando a pensar de novas maneiras e a encontrar soluções inovadoras para problemas; o pensamento crítico – estimulando a análise e a crítica da informação existente; a comunicação – desenvolvendo a compreensão a um nível suficientemente profundo para permitir a partilha com os outros; e a colaboração – apoiando o trabalho em equipa, desenvolvendo a relação com os outros e permitindo alcançar soluções coletivas mais ricas do que a soma das partes.

O que pode aprender a educação com a tecnologia? 

A educação precisa de ter como objetivo capacitar os alunos com competências transversais capazes de acompanhar um mundo em rápida mudança. Através da tecnologia é possível incorporar mais flexibilidade e personalização nos modelos pedagógicos. Existem ferramentas digitais capazes de adaptar os métodos de ensino para atender às necessidades individuais dos alunos, oferecer recursos educacionais inovadores, promover a colaboração e preparar os alunos para o mundo digital em constante evolução. É tirar partido das potencialidades da tecnologia para melhorar a educação dos jovens.

Há escolas que estão a adotar métodos personalizados de ensino. Mais escolas poderão adotar este método? De que forma é que o ensino privado pode potenciar a inovação e adesão à tecnologia no ensino público?

A massificação do sistema de ensino permitiu universalizar a educação. Este modelo iniciou-se no final do séc. XIX com o alargamento da escola obrigatória mas está hoje obsoleto e incapaz de se renovar. Ensaiam-se novos modelos educativos e a tendência para métodos personalizados de ensino está em crescimento.

Um exemplo é o caso do TUMO – um centro de tecnologias criativas que promove um programa educativo totalmente gratuito, inclusivo e inovador, quer no seu formato, quer no seu conteúdo. É um programa complementar ao ensino formal, no qual os estudantes dos 12 aos 18 anos decidem o que vão aprender. Os jovens podem escolher, e combinar, oito áreas de aprendizagem que aliam a criatividade com a tecnologia. Depois de uma fase de exploração das várias áreas, cada um pode escolher as que mais gosta e dar início ao seu percurso de aprendizagem. Esta dimensão de escolha é fundamental: a agência do aluno fomenta a curiosidade, a responsabilidade e a iniciativa que são fundamentais para uma aprendizagem mais profunda.

O percurso de aprendizagem é feito presencialmente no TUMO, ao próprio ritmo e colaborativamente com os colegas. A formação progride à medida que o estudante vai completando um conjunto de atividades modulares com níveis crescentes de dificuldade, à medida do seu interesse e capacidade. Cada aluno é acompanhado ao longo de todo o percurso pela equipa educacional, que dá apoio constante e assegura o desenvolvimento do potencial único de cada um. São realizados workshops práticos ao longo das várias etapas, liderados por especialistas em cada área, e são organizados laboratórios avançados, multidisciplinares, com especialistas convidados que vão trabalhar com os alunos em projetos do mundo real.

O primeiro centro TUMO abriu há um mês em Coimbra. Estamos a partilhar as melhores práticas do modelo do TUMO com escolas públicas e privadas, esperando que possam servir como exemplo e fonte de inspiração para uma transformação profunda no sistema educacional. Isso pode contribuir significativamente para a introdução, e aceitação e difusão de novas tecnologias no ensino.

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