No momento em que escrevo esta crónica, está anunciada uma greve geral de jornalistas a 14 de março, convocada pelo Sindicato dos Jornalistas, para protestar contra os baixos salários e a degradação das condições de trabalho.

No momento em que escrevo, sabe-se que a direção do Diário de Notícias (DN) e vários jornalistas receberam cartas de despedimento, após meses de polémica em torno da administração da Global Media.

No momento em que escrevo, sabe-se que a proliferação de desinformação e teorias da conspiração, que disparou em Portugal nos últimos anos, contribuiu para a eleição de 48 deputados de um partido de extrema-direita em Portugal.

É neste contexto político conturbado que o jornalismo continua sob ataque e os jornalistas vivem uma situação de enorme vulnerabilidade e desproteção, face à ganância de administrações que querem cortar custos, incentivando a concentração excessiva dos órgãos de comunicação social nas mãos de um ou dois conglomerados. Mas salários não são meros “custos”. São, sim, um investimento essencial para fortalecer o quarto poder democrático e conferir-lhe a dignidade e respeito que merece.

É fácil falar de fora para quem não sente na pele as vicissitudes diárias de uma carreira no jornalismo. Não tenho a pretensão de achar que sei quais poderiam ser as soluções, mas há problemas que são facilmente identificáveis e reformas muito necessárias que podem ser lançadas, procurando novos modelos de financiamento capazes de conferir uma vida digna a jornalistas.

Sabemos, também, por exemplo, que é essencial uma maior transparência em torno das entidades proprietárias de OCS que, muitas vezes, se escondem por detrás de paraísos fiscais. Este é um setor atacado diariamente pelo uso de softwares intrusivos, por plataformas digitais cada vez mais truculentas e pelos novos desafios da Inteligência Artificial.

Os recentes despedimentos do DN irão ferir de morte uma redação que já estava reduzida ao esqueleto. Falamos de um jornal histórico que anunciou nas suas páginas eventos como a implantação da República, o 25 de Abril ou a adesão de Portugal à CEE. E que há menos de 25 anos atravessava um período áureo e era um dos jornais mais lidos pela população.

Aproveito esta crónica para manifestar a minha solidariedade para com todos os jornalistas que, todos os dias, lutam contra o presente estado do jornalismo, que não para de se agravar, e que no dia 14 estiveram em greve. Precisam de todo o nosso apoio se queremos que a nossa democracia resista aos ventos agrestes que sopram.