O país e o mundo vivem cinco crises simultâneas e muito pouca solidariedade. Vamos começar por esta e falar do que se passa no nosso país. A diferença entre encerrar instalações e suspender atividade é um bom motivo para a Segurança Social deixar milhares de empresas fora do quadro que lhes permitiria solicitar o regime simplificado de lay-off. O mesmo é dizer que serão empresas que vão entrar em incumprimento ao nível dos salários e prestações contributivas.

Depois, o mesmo regime de lay-off que já sofreu mutações – e todas para melhor – continua a deixar de fora as empresas com incidentes nos bancos ou no fisco, mas aquilo que numa primeira análise parece correto, não é. Ora vejamos. Esses milhares de empresas com incidentes continuam a trabalhar, têm viabilidade, mantêm empregos e pagam salários, mas o negócio operacional não chega para tudo, embora continuem a cumprir a função social de manter empregos.

Será correto aproveitar a crise para as matar? Será que a economia tem capacidade para gerar outros empregos para quem agora os perdeu? Não sabemos, mas vamos antecipar que não têm essa capacidade e que vamos ter mais ociosos a solicitar apoios públicos sem contrapartidas. Estamos a semear o joio para colher desgraças.

E será que esses milhares de restaurantes, pastelarias, cabeleireiros ou dentistas com restrições de acesso às ajudas terão algum dia capacidade para voltar à atividade, caso o patrão não seja rico? E será que ao voltaram não terão dez anos de litígios em tribunais perante as demandas de trabalhadores, bancos, fornecedores ou Finanças? Poder-se-á dizer que, num futuro “normal”, haverá uma outra economia, outros gestores e outros empresários e possivelmente outro dinheiro e outros “donos disto tudo”. Mas essa não é a resposta que queremos ouvir.

E para sermos esquemáticos vamos falar de cinco crises: sanitária, económica, política, mental e europeia. Tendo falados das duas primeiras, centremo-nos agora na política. É clara e evidente a desorientação política com decisões contraditórias e uma gestão de acordo com a necessidade de populismos, a que não escapa a oposição quando fala em lucros dos bancos para os próximos dois anos.

Depois teremos a crise mental, que será uma preocupação recorrente para muitos anos e, por último, temos a crise europeia. Claramente, a solidariedade é “poucochinha” e só funciona em tempos de paz e abundância. Tivemos uma Alemanha e uma França a não cederem equipamentos a Itália, ou a recusa de solidariedade ao sul por parte dos países do norte da Europa.

António Costa, o primeiro-ministro português, marcou pontos durante umas horas ao reagir de forma emotiva às declarações do ministro holandês, mas isso já passou e, possivelmente, até foi contraproducente pois vai criar dificuldades ao ministro Centeno que é o interlocutor de todo o processo para os possíveis coronabonds. Aliás, o futuro deste instrumento mostra que estamos numa “europazinha”, onde cada um pensa em si, e onde a mutualização de dívida não é para levar a sério.

Durão Barroso já veio dizer na SIC que tudo irá avançar com negociações. E tudo através de uma solução que pouco interesse despertará aos europeus, tal como disse o general Ramalho Eanes, um militar que na RTP mostrou como fala um líder, algo que não existe entre os políticos de topo nacionais.