“Ter a lei do nosso lado num momento crucial não é suficiente para garantir a independência de um banco central”, revelou Stanley Fischer, que foi governador do Banco de Israel entre 2005 e 2013 e vice-presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed) durante a presidência de Obama.
Por “momento crucial”, Fischer referia-se à administração Trump que, segundo considerou, pode colocar em causa a independência do banco central norte-americano. “A Fed é um banco central independente, no sentido em que o governo não pode dar ordens sobre medidas de política monetária”, explicou.
No entanto, o ex-vice presidente da Fed reconheceu que “até recentemente, os presidentes percebiam que isto [a independência da Fed] era algo que exigia cuidado”.
A independência do banco central adquire particular relevância quando se pensa que o seu presidente é nomeado para um mandato de quatro anos – e é neste ponto que reside o maior medo de Stanley Fischer. O presidente da Fed é nomeado pelo presidente dos Estados Unidos e depois confirmado pelo Congresso.
“Se o presidente [Trump] for reeleito, a Fed teria outro presidente”, anteviu Stanley Fischer, repetindo o que dissera este domingo, em Israel, à Bloomberg. “Se Trump for reeleito, não nomeará Jerome Powell para um novo mandato à frente da Fed”, noticiou aquele órgão de comunicação.
Em consequência, Fischer apontou uma “política monetária muito diferente” da que tem vindo a ser seguida pelo banco central norte-americano. “As pessoas vão perguntar-se se as medidas de liquidez que foram tomadas na última crise financeira serão tomadas novamente”, frisou. É que, segundo o ex-governador do Banco de Israel, “não existe base legal que diga que essas medidas de liquidez constituem um instrumento permanente do sistema”.
EUA, um país do terceiro do mundo se Trump for reeleito
Fischer terminou o seu discurso com uma “última preocupação”. O Congresso aprovou a limitação dos empréstimos que a Fed pode conceder aos bancos que estão em dificuldades financeiras ou que estão próximos do colapso. “A Fed tem agora muito menos liberdade do que tinha para conceder estes empréstimos”, disse.
Situação que, na próxima crise, poderá reduzir o campo de atuação do banco central norte-americano. Ainda assim, Fischer disse que conhece pessoas “na Fed que dizem que quando chegar a próxima crise, o governo não terá coragem de não dar o dinheiro que pedirmos”. “Grande frase”, reconheceu Stanley Fischer, “mas este governo tem tido muita coragem para fazer coisas que os outros governos nunca fizeram”.
Assim, “há que introduzir um nível de incerteza na forma como se vai lidar com a próxima crise e não é uma boa ideia” pensar que, se a próxima crise acontecer enquanto Trump for presidente, a Fed não terá mesmo margem manobra reduzida para lidar com bancos em dificuldades.
“Durante um almoço, no início da administração Trump, um professor disse-me que a única preocupação que tinha era a reeleição de Donald Trump, porque tornar-nos-emos num país do terceiro mundo”, contou Fischer. “Difícil de acreditar, mas devido ao facto como o governo está a ser gerido, é algo que se deverá considerar com alguma probabilidade”, frisou.
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