Steve Bannon, antigo conselheiro do presidente norte-americano Donald Trump, continua a sua cruzada pelo crescimento da influência da extrema-direita no ambiente político da União Europeia. E a palavra ‘cruzada’ parece aplicar-se de forma cada vez mais cabal aos seus planos. Segundo a imprensa italiana, Bannon tem um novo ‘templo’ a partir do qual quer espalhar a sua ‘palavra’: a Cartuxa de Trisulti (Collepardo), um mosteiro construído em 1204 e inaugurado pelo Papa Inocêncio III no topo de uma montanha a 130 quilómetros a sudeste de Roma.
O monumento religioso vai acolher uma espécie de universidade concebida pelo líder dos círculos ultraconservadores do Vaticano, Benjamin Harnwell, que pretende fornecer apoio ideológico e religioso a uma estratégia de desenvolvimento do extremismo de direita – que alguns jornais insistem em apelidar de populismo. A sede da nova ‘Internacional Populista’ receberá este fim-de-semana a visita de Bannon, do ministro do Interior Matteo Salvini (líder da Liga),e de Giorgia Meloni (líder dos Irmãos da Itália).
Bannon parece obcecado com a ideia de disseminar o populismo de extrema-direita na Europa – não escondendo que tem em vista as eleições para o Parlamento Europeu em maio do próximo ano – e Itália afigura-se como o lugar certo. Foi aí que decidiu instalar a primeira sede fora dos Estados Unidos da Breitbart News, uma publicação por si dirigida.
Bannon deu em junho de 2014 uma conferência incomum no Vaticano, promovida pelo Instituto Dignitatis Humanae (DHI), uma ‘think tank’ católica ultraconservadora dirigida por Benjamin Harnwell e que integra os principais membros da oposição ao Papa Francisco.
O presidente do conselho consultivo da organização é Raymond Burke, líder do movimento de oposição ao Papa e um elo entre a direita religiosa norte-americana, que tem vindo a ganhar poder naquele país, e a Santa Sé. O presidente honorário da DHI é o cardeal Renato Martino, resgatado do recente escândalo Viganò, em que era acusado de estar envolvido nas movimentações sexuais que abalaram a igreja do lado de lá do Atlântico. Harnwell e Bannon preocuparam-se em desmentir o enfoque: “não somos uma organização contra o Papa”, disse Harnwell.
Seja como for, Itália e o mosteiro do século XIII parecem ser o sítio certo para lançar o movimento que Bannon quer estender por toda a Europa – precisamente chamado The Movement – debaixo do qual quer agregar todos os partidos populistas de extrema-direita da Europa antes de maio próximo.
The Movement é uma fundação registada em Bruxelas em 2017 por Mischaël Modrikamen, advogado e membro do Partido Popular Belga, e pretende ser, entre outras coisas, uma réplica do Tea Party norte-americano.
As visitas de Bannon a Itália multiplicaram-se desde as últimas eleições e o norte-americano já anunciou que, a partir de agora, passará entre 80% e 90% do seu tempo na Europa. Os contatos com a Liga intensificaram-se e a sua influência foi visível até em slogans como ‘Primeiro os italianos’, usados nas eleições.
Benjamin Harnwell, citado pelos jornais, afirma que “a Itália pode orientar outros movimentos europeus a partir da sua experiência e iniciativa. Há um cansaço na Europa em seguir sempre o que acontece nos Estados Unidos, mas se algo nasce dentro das fronteiras da Europa, será diferente”.
E define o populismo: “significa duas coisas: uma reação contra a globalização e dar poder ao povo e tirá-lo das elites. Não se trata de ir contra os ricos, mas contra a corrupção do Estado, contra o ‘establishment’. Os pobres não são pobres por causa dos ricos, mas por causa das leis”.
A universidade extremista, financiada por doações privadas – segundo Harnwell – ainda precisará de um ano para arrancar. “Vamos fazer retiros, cursos de formação, cursos educacionais com professores de alta reputação”.
Qualquer semelhança com a génese do Opus Dei não será por certo mera coincidência. Um assunto em desenvolvimento, pelo menos até maio de 2019.
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