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“Super terça-feira” vai definir adversário democrata de Trump nas presidenciais

Está a chegar a “superterça-feira” em que democratas de 14 estados definem quem irá tentar travar a reeleição de Donald Trump. Bernie Sanders lidera.
3 Março 2020, 09h30

Todas as sondagens indicam que a presidência dos Estados Unidos será disputada a 3 de novembro por dois cavalheiros que em comum só têm o facto de serem septuagenários: um multimilionário tão conhecido por um reality show quanto pelos empreendimentos imobiliários, populista e de comportamento errático deverá enfrentar um senador que é um intelectual assumidamente socialista, arauto de um sistema de saúde pública que exclui alternativas privadas e que ao longo dos anos mantém o hábito de ver o lado positivo de regimes como o soviético ou o cubano. Como disse Pete Buttigieg, após participar no debate que opõs, num registo assaz beligerante, os principais candidatos democratas na noite de terça-feira: “Se acharam os últimos quatro anos caóticos, divisivos e extenuantes, imaginem passar a maior parte de 2020 numa disputa entre Bernie Sanders e Donald Trump.”

Estando a recandidatura de Donald Trump praticamente garantida, ainda que alguns pesos-pluma políticos se tenham vindo a apresentar nas primárias republicanas, a “superterça-feira” da próxima semana, 3 de março, tem tudo para ser decisiva para o Partido Democrata, com as últimas sondagens a indicarem um grande avanço do senador Bernie Sanders, cujo confronto direto com o atual ocupante da Casa Branca foi adiado há quatro anos devido ao triunfo de Hillary Clinton nas primárias democratas de 2016.

Tradição sedimentada ao longo das últimas décadas na política norte-americana, a “superterça-feira” consiste na concentração num só dia de votações para eleger delegados às convenções dos dois principais partidos norte-americanos num grande número de estados em simultâneo. Enquanto a disputa entre os republicanos tem laivos de mera formalidade, como acontece sempre no partido a que pertence ao presidente em funções em busca de segundo mandato, os pretendentes democratas jogam tudo por tudo num dia da semana em que 14 dos 50 estados norte-americanos (e o território da Samoa Americana) vão às urnas.

Certo é que as sondagens indicam que Bernie Sanders emergirá dessa noite eleitoral como o líder destacado – ampliando em centenas de delegados a magra vantagem de que dispõe agora, com o relativamente jovem e assumidamente homossexual mayor de SouthBend Pete Buttigieg a suplantar os supostos favoritos Joe Biden e Elizabeth Warren –, tirando partido do seu forte apelo junto do eleitorado latino em estados cheios de delegados a eleger por votantes saudosos do “sí, se puede!” e mobilizados pela contestação ao muro de Trump. Segundo cálculos do mago das sondagens Nate Silver, criador do blogue Fivethirtyeight, bastará ao septuagenário vencer em seis ou sete dos 14 estados para obter uma vantagem considerável na “superterça-feira” que tornará difícil travar a candidatura presidencial com hipóteses de vitória mais à esquerda de que há memória.

Cumprindo-se os cenários previstos é provável que alguns rivais comecem a planear a saída de cena nas duas terças-feiras seguintes. A 10 de março seguem-se mais seis estados, com 365 delegados (125 dos quais no Michigan, um dos tradicionais bastiões democratas que deram a vitória a Trump em 2016), e no dia 17 bastam quatro estados para decidir 577 delegados, pois estão em causa a Florida, o Illinois, o Ohio e o Arizona. E ficará então claro se existe a mais ténue de hipótese de contrariar as estatísticas e suplantar um candidato com propostas encaradas como radicais mesmo por muitos membros do partido pelo qual deseja concorrer (ainda que Bernie Sanders mantenha estatuto de independente noSenado, onde representa oVermont), o que poderia passar pela convergência num centrista como o ex-mayor de Nova Iorque Michael Bloomberg, que foi eleito enquanto republicano, independente e democrata, pelo que enfrenta tantos (ainda que diferentes) anticorpos quanto os que combatem Sanders. Mas tem a vantagem de as primárias só chegarem a Nova Iorque a 28 de abril, com 274 delegados em jogo.

Equilíbrio só em 2008
Olhando para os últimos cinco ciclos presidenciais norte-americanos confirma-se que o vencedor da “superterça-feira” foi sempre quem veio a obter a nomeação na convenção do respetivo partido, como o próprio Sanders confirmou em 2016, quando se ficou por 347 delegados graças a vitórias em quatro estados, alargando o fosso para HillaryClinton, que somou 518 delegados e foi a mais votada em oito estados. Mesmo o relativo equilíbrio entre republicanos foi enganador: DonaldTrump garantiu apenas mais 37 delegados do que Ted Cruz, mas o atual presidente dos Estados Unidos triunfou em sete estados, enquanto o senador doTexas, com três vitórias, beneficiou da quantidade de delegados do seu próprio estado.

Há que recuar a 2008 para encontrar um verdadeiro equilíbrio. Terminado o segundo mandato de George W. Bush, John McCain suplantou Mitt Romney entre os republicanos, mas 13 foi a melhor sorte que Barack Obama conseguiu ao enfrentar Hillary Clinton. O futuro presidente dos Estados Unidos amealhou 847 delegados em 13 vitórias, contra 834 delegados e uma dezena de vitórias para a sua futura secretária de Estado.

Já o maior desequilíbrio ocorreu em 2000, quando o ex-vice-presidente Al Gore venceu todos os 11 estados em disputa na “superterça-feira” dos democratas. Mas depois teve um pesadelo chamado Florida a afastá-lo da Casa Branca.

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