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Supertaça de Itália joga-se na Arábia Saudita. Mulheres só podem ir acompanhadas por homens

O encontro disputa-se esta quarta-feira e tem sido marcado por vários protestos de políticos italianos e ativistas dos direitos humanos. Mulheres ficarão isoladas numa bancada com visibilidade reduzida para o relvado.
16 Janeiro 2019, 16h01

A supertaça de Itália que coloca frente-a-frente o AC Milan e a Juventus, de Cristiano Ronaldo, no estádio Cidade Desportiva Rei Abdullah, localizado a 60 quilómetros a norte da cidade de Jeddah, está envolta em polémica e protestos, pelo facto do jogo ser disputado na Arábia Saudita e das mulheres só poderem assistir ao jogo se forem acompanhadas por homens. A decisão foi tomada em 2018, e é válida para a edição deste ano e das próximas três épocas.

No entanto, e apesar de serem acompanhadas por um membro do sexo masculino, as mulheres terão zonas do estádio interditas, podendo apenas comprar bilhetes para as bancadas com menor visibilidade para o relvado. O modelo de venda de bilhetes do estádio saudita é complexo. Por um lado, há um modelo de bilhete para bancadas próximas do terreno de jogo, exclusivo a espetadores ‘individuais’, ou seja homens.

Os restantes bilhetes, a que as mulheres poderão ter acesso, são para zonas do estádio com menor visibilidade para o campo. Contudo, existe ainda a dúvida levantada por Gaetano Micciché, presidente da Serie A, sob se as mulheres vão poder entrar sozinhas no estádio. O que ainda não se percebeu é se para o poderem fazer, não terão de comprar bilhetes mais caros.

Esta regra já levou a que algumas mulheres italianas decidem-se não viajar para a Arábia Saudita, de modo a assistirem ao jogo. Um desses casos é de uma adepta do AC Milan, Maria Luisa Garatti, que vai perder o seu primeiro jogo do clube italiano, em casa ou fora nos últimos anos.

“Eles admitiram que as mulheres sozinhas poderiam ir ao jogo, mas o facto é que eu ainda teria de vê-lo num determinado setor, longe dos meus amigos, com quem não podia cantar e dar apoio ao meu clube”, afirmou a advogada de 49 anos, ao jornal italiano “Corriere della Sera”.

Matteo Salvini, atual ministro do Interior de Itália e militante do partido de extrema-direita Liga Norte, já havia mostrado a sua indignação, através de uma mensagem no Facebook, perante esta decisão. “Que a supertaça italiana se jogue num país islâmico onde as mulheres não podem ir ao estádio se não forem acompanhadas por um homem é uma tristeza, um asco. Este jogo não vejo. Um futuro parecido em Itália para as nossas filhas não quero”.

Este acordo irá dar aos cofres da Serie A, 20 milhões de euros, mais 3,5 milhões para as equipas participantes. Outra polémica a envolver este encontro são os protestos por parte de políticos italianos e ativistas dos direitos humanos, que subiram de tom, após o assassinato em outubro de 2018, do jornalista do “Washington Post”, Jamal Khashoggi, no consulado saudita de Istambul, na Turquia.

Para esta quarta-feira está previsto um protesto na embaixada saudita em Roma, do sindicato dos jornalistas e grupos de direitos humanos da Amnistia Internacional, bem como do sindicato dos jornalistas da televisão pública italiana “RAI”, que irá transmitir a partida, sob o lema ‘um pontapé contra os direitos humanos’.

Num comunicado conjunto estas entidades referem que “sete milhões de euros, é quanto vale o silêncio face às bombas que massacraram civis no Iémen durante quatro anos. Face ao alistamento de crianças-soldado. Face ao assassinato brutal do jornalista Jamal Khashoggi. Face às investigações que apontaram como instigador direto o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Face a um estádio com ‘setores reservados para homens’. Face a um país onde os direitos das mulheres ainda estão esmagados e muitos ativistas estão na prisão”.

Os bilhetes para a partida entre a Juventus e o AC Milan esgotaram em menos de dois dias, com os primeiros 50 mil ingressos a serem vendidos em apenas quatro horas. O encontro está marcado para as 17h30, hora portuguesa.

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