Em declarações ao JE, o comentador Francisco Seixas da Costa já o tinha referido: “será interessante ver as movimentações dos talibãs relativas à 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas, onde o representante do Afeganistão pertence ao regime deposto” em agosto. A resposta foi dada esta quarta-feira: o novo regime endereçou uma carta a António Guterres solicitando que a assembleia ouvisse um representante dos talibãs.
Do pouco que se sabe sobre o assunto, apenas está confirmado que o Comité de Credenciação da ONU, que determina quem é reconhecido como representante de um determinado país, não deve tomar uma decisão sobre o Afeganistão antes do fim desta semana de reuniões e intervenções de alto nível. Na prática, isso quer dizer que o representante dos talibãs não será admitido no alinhamento dos chefes de Estado e de governo que têm usado da palavra ao longo da 76ª Assembleia Geral. Uma posição sobre a matéria será por certo avançada mais tarde – uma vez que o assunto não é de molde a ser deixado no esquecimento.
O ministro talibã dos Negócios Estrangeiros, Amir Khan Muttaqi, fez o pedido numa carta enviada a António Guterres na passada segunda-feira, na qual avançava como representante do novo governo Suhail Shaheen e retirava a confiança a Ghulam Isaczai, o embaixador que representa o governo deposto.
Apesar de ser improvável que Shaheen fale à assembleia, é também improvável que o representante talibã não seja aceite, uma vez finda a ronda de intervenções (que acabará na próxima segunda-feira). A aceitação do novo representante na ONU será um passo decisivo para o reconhecimento internacional do novo regime – e a consequente libertação de fundos necessários para a economia afegã.
Citado pela agência Reuters, Guterres disse que o desejo dos talibãs de reconhecimento internacional é a única alavanca que outros países têm para pressionar a formação de governo inclusivo e de respeito pelos direitos humanos no Afeganistão.
De qualquer modo, a Alemanha apressou-se a tomar uma posição: “Agendar um show nas Nações Unidas não vai servir para nada, o que é importante são ações concretas e não apenas palavras, inclusivamente sobre direitos humanos e em particular os direitos das mulheres e sobre um governo inclusivo e distanciado de grupos terroristas”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Heiko Maas, a repórteres presentes no edifício da ONU em Nova Iorque.
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