Tarifas, tarifas, e mais tarifas. O mundo entrou oficialmente numa guerra de tarifas, um cenário temido por muitos analistas quando Donald Trump foi eleito.
A Europa passou das palavras à ação e respondeu às tarifas impostas por Donald Trump. Para quem tinha dúvidas, a guerra comercial está bem ativa.
As tarifas aduaneiras ou alfandegárias são impostos cobrados sobre produtos comprados a países estrangeiros. A grande questão é que encarecem os produtos, tornando-os mais caros face a bens produzidos a nível nacional ou com origem em outros mercados não sujeitos a tarifas.
Em resposta, o presidente norte-americano ameaçou na semana passada impor uma tarifa de 200% em bebidas alcoólicas dos países da União Europeia como resposta a uma “tarifa nojenta de 50% sobre o whisky” norte-americano.
O setor nacional olha para esta ameaça com apreensão, pois arrisca a penalizar a atividade de muitos produtores: é que o mercado dos EUA vale mais de 100 milhões de euros em vendas, sendo o segundo maior mercado internacional para os produtores portugueses.
“A virem a ser implementadas tarifas ao vinhos, sobretudo na ordem de grandeza que se fala, as nossas exportações seriam fortemente penalizadas, trazendo muitos problemas ao nosso setor vitivinícola”, disse o presidente da ViniPortugal ao JE.
“Nesta altura, estamos muito apreensivos e preocupados com esta ameaça, que muito esperamos que não passe disso”, acrescentou Frederico Falcão.
A ViniPortugal é a associação responsável por promover lá fora a imagem de Portugal enquanto produtor de vinhos.
O responsável deixa um apelo: “apelamos à Comissão Europeia e ao Conselho Europeu que desenvolvam esforços para que o setor vitivinícola nacional e europeu não seja prejudicado nesta disputa comercial”.
Frederico Falcão salienta que os EUA “são o país onde a ViniPortugal mais investe, pelo potencial de crescimento deste mercado”.
Vários produtores nacionais têm revelado nas últimas semanas os seus receios sobre as imposições de tarifas pelos EUA aos vinhos europeus.
“Como todo o setor do vinho português, e europeu, receamos a possibilidade da introdução de tarifas sobre os nossos produtos por parte da administração Trump. Temos vindo a apostar fortemente no mercado norte-americano há já várias décadas. Criámos inclusive, de raiz, na década de 1990, um importador/distribuidor próprio para termos uma plataforma logística e comercial que nos permitisse servir de modo mais eficaz este enorme mercado com muito potencial ainda por explorar”, disse ao JE Rupert Symington, o novo líder da Symington Family Estates, a 8 de março.
“Temos realizado um esforço muito grande na construção e consolidação das nossas marcas nos Estados Unidos, na maior parte dos casos com muito bons resultados e, naturalmente, que será um revés bastante duro para nós se formos alvo de tarifas”, segundo o responsável.
Já Francisco Toscano Rico, presidente da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, disse estar “apreensivo com a introdução de tarifas à importação”, em declarações a 14 de fevereiro.
Por outro lado, os vinhos portugueses “têm preços mais competitivos do que a muitos dos restantes países da UE o que pode colocar Portugal numa posição de vantagem face a esses países embora, num cenário de tarifas só para a UE, colocaria Portugal numa posição muito difícil face aos concorrentes da América latina”, analisou.
A semana passada, a Comissão Europeia anunciou que vai retaliar contra as tarifas impostas pelos EUA ao aço e alumínio europeus.
Washington anunciou novas tarifas que vão afetar mais de 18 mil milhões de euros em exportações europeias para os EUA, juntando-se a outras para um total de 28 mil milhões. Em resposta, Bruxelas impõe tarifas sobre produtos norte-americanos que podem atingir 26 mil milhões de euros.
As medidas entram em vigor em meados de abril.
Ao mesmo tempo, a Comissão Europeia argumenta que está disposta a trabalhar com a administração de Donald Trump para chegar a uma “solução negociada” de forma a “reverter” as medida retaliatórias.
“As relações comerciais entre a União Europeia e os EUA estão entre as maiores do mundo. Trouxeram prosperidade e segurança a milhões de pessoas, tendo criado milhões de postos de trabalho nos dois lados do Atlântico”, disse Ursula von der Leyen na quarta-feira.
“Lamentamos esta medidas. As tarifas são impostos. São maus para o negócio e, pior, para os consumidores. Estas tarifas afetam a cadeia de abastecimento. Trazem incerteza à economia. Os empregos estão em risco. Os preços vão subir. Na Europa e Estados Unidos. A União Europeia deve agir para proteger consumidores e negócios. As contramedidas são fortes, mas proporcionais”, afirmou.
A líder comunitária defendeu que está “sempre disposta a negociar. Acreditamos firmemente que num mundo cheio de incertezas geopolíticas e económicas, não é do nosso interese comum sobrecarregar as nossas economias com tarifas. Estamos dispostos a avançar com um diálogo significativo”.
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