A Teia do Banif do jornalista António José Vilela é um livro que procura descortinar a teia de influências que rodeou desde sempre o banco criado por Horácio Roque em 1988. O Banif durou quase 28 anos chegou ao fim em 20 de dezembro de 2015, com uma medida de resolução aplicada pelo Banco de Portugal.
O banco de pequena dimensão é protagonista de vários episódios rocambolescos ao longo da sua história, desde o caso da “venda” de uma participação, em 1994, de 49%, por 150 milhões de dólares ao Estado angolano (que fez um acordo com o advogado Francisco Cruz Martins e com o tenente-coronel António Figueiredo, a que se viria a juntar Eduardo Capelo Morais) cujas ações nunca chegaram a Angola, até à resolução do banco em 2015, passando pela “alegada tentativa” do BES de Ricardo Salgado para tomar conta do Banif. O que faltava em dimensão sobrava-lhe em enredos e António José Vilela explora a versão da investigação policial dos acontecimentos.
O livro começa com um capítulo que se chama “O Plano para dominar o primeiro banco português [por parte de Angola]”, onde é relatado um “testemunho” na tarde de 15 de julho de 2009, “na sede do combate ao crime económico da Polícia Judiciária que ficava a pouco mais de 200 metros do edifício do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), no centro de Lisboa”.
Nesse “testemunho” o inspetor da PJ, Bruno Miguel, começou a registar as declarações do antigo Governador do Banco Nacional de Angola, que se chamava Generoso Hermenegildo de Almeida, sobre a primeira tentativa de Angola comprar um banco português.
A tese do livro é que o Banif foi usado pela elite angolana dos anos 90/2000 para “branquear” dinheiro e como essa prática gerou uma teia de interesses.
O Banif, a par com o Montepio, foi dos bancos “instrumentalizados” por Ricardo Salgado para contornar a limitação da exposição creditícia do BES a um único cliente. O que para o BES era particularmente importante no que toca a financiar as empresas do Grupo Espírito Santo. Isso mesmo relata António José Vilela no livro da editora “Casa das Letras”.
“O financiamento do Banif ia para o Grupo Espírito Santo, primeiro para a falida Espírito Santo Resources e depois para Rioforte. O banco acabou por perder cerca de 120 milhões com a derrocada do GES”, lembra o autor do livro a Teia do Banif.
“Nos primeiros meses da gestão de Jorge Tomé, o BES posicionou-se de imediato como um dos mais importantes aliados do Banif, como de resto já tinha sucedido quando Horácio Roque era vivo”, lê-se no capítulo seis do livro.
António José Vilela lembra a convicção que havia em 2012 de que o BES ia comprar o Banif. Na verdade, o BESI tomou firme o aumento de capital do Banif na altura. Houve um aumento de capital para privados de 400 milhões de euros, e o BES apenas tomou firme 25 milhões de euros. Mas, como a operação foi totalmente colocada, o BES não ficou com nenhuma ação do Banif.
O livro baseia-se em escutas telefónicas gravadas na altura, onde surge o ex-presidente do BES Investimento, José Maria Ricciardi, a alertar o administrador financeiro do BES, Amílcar Morais Pires, para o risco de ficar com 10% ou 15% do Banif, “caso algo falhasse”.
“É um livro escrito com base em centenas de fontes documentais, sobretudo dados de processos crime, emails e registos bancários usados como se fossem peças de um puzzle que no fim revelam a outra história de um banco. Uma história que vai até aos nossos dias, pois a PJ ainda investiga o uso do banco no esquema da Lavajato”, diz-nos António José Vilela.
O Banif acabou por ser alvo de uma medida de resolução depois de uma famosa notícia da TVI de que “o banco ia fechar na segunda-feira”, o que desencadeou o processo de resolução do banco, com os ativos a serem comprados pelo Santander Totta e a Oitante a ficar com os ativos problemáticos.
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