As economias têm sofrido grandes mutações nos últimos anos e o setor segurador não foi exceção. As palavras de ordem passaram a ser resiliência e adaptabilidade, num mundo caracterizado por desafios da atração e retenção de talento.

O panorama em 2023

O ano 2023 continuará a ser impactado pelos desafios de 2022, nomeadamente pelos efeitos da inflação e da resposta dos Governos e Bancos Centrais, pelas consequências da Guerra na Ucrânia e outras tensões geopolíticas, bem como pelas alterações climáticas e preocupações ESG. Por outro lado, as famílias vão ser chamadas a aumentar a sua taxa de poupança, enquanto têm de cortar custos, num contexto económico próximo da recessão.

Apesar destes desafios, segundo o Swiss Re Institute que a procura de seguros cresça globalmente a taxas superiores à tendência de longo prazo (3,3% em 2022 e 3,1% em 2023). Neste contexto, fruto dos desafios sérios no Serviço Nacional de Saúde, há que destacar o crescimento da adoção de seguros de saúde em Portugal, com mais de 32% dos portugueses a estar coberta por esta solução.

Qual a rota a seguir neste novo ano? As famílias portuguesas vão ser confrontadas com três grandes tendências:

• Necessidade de acautelar as suas reformas, sendo cada vez mais notória a insustentabilidade financeira do Sistema Público de Pensões. De notar que as taxas de substituição se estão a agravar, pelo que terão de ser as famílias a constituir poupanças de longo prazo para suprir este diferencial;

• Maior procura e exigência por serviços de saúde de qualidade, bem como pelos diversos serviços de Assistência;

• Necessidade de fazer face aos impactos da inflação, o que no setor dos seguros se traduzirá no aumento de custos com sinistros (maiores custos de reconstrução, reparação de veículos ou cuidados de saúde) e consequente necessidade de atualização de prémios e de capitais seguros.

O foco nos clientes tem-se intensificado nos últimos anos, reconhecendo-se que os seus inputs conduzem à definição de melhores produtos, serviços e experiências. Neste sentido, é necessário apostar em proteções mais flexíveis e acessíveis, transparentes e personalizadas.

Para além da inovação de produtos, as seguradoras devem também acelerar a transformação tecnológica através de iniciativas para melhorar a eficiência operacional e a experiência do cliente.

A aposta neste sentido passa por tomar medidas no digital:

• Criar produtos e serviços para satisfazer as exigências de um mundo digital;
• Desenvolver ecossistemas digitais;
• Desenvolver canais de distribuição;
• Redesenhar a cadeia de valor como um conjunto de serviços digitais;
• Ter uma mentalidade digital.

Os clientes de hoje não estão simplesmente à procura de proteção. Procuram uma proteção personalizada com soluções que encaixam no contexto das suas vidas quotidianas, seja na compra de um carro, a planear a reforma ou no arranque de um negócio. Os clientes esperam que as seguradoras vão para além das suas obrigações de transferência de risco e ofereçam soluções de ponta a ponta, cobrindo os riscos para sustentar esses serviços através de plataformas de dados digitais, mais poderosas e eficazes.

Sustentabilidade

É fundamental criar valências positivas para o ambiente. Para isto, a orientação e o compromisso no sentido da sustentabilidade ambiental devem integrar o ADN empresarial. É necessário um pacote político que defenda a preservação e a sustentabilidade do meio ambiente. Mais do que isto, é necessária uma política de sustentabilidade nos serviços financeiros que passa por tomadas de decisão de investimento mais conscientes.

A ameaça crescente das alterações climáticas representa riscos físicos sistémicos e de transição, com implicações diretas para a indústria dos seguros. Para prevenir estes riscos, as seguradoras terão de desenvolver uma compreensão mais profunda dos mesmos, reconstruir os seus modelos de risco e pressupostos de preços, criar produtos e serviços relacionados com a proteção ambiental, e trabalhar com organizações para as ajudar a mitigar riscos climáticos.

Ainda de notar que a cada vez maior imprevisibilidade das situações meteorológicas extremas irá conduzir o Cliente a uma necessidade de prevenção e de garantia dos bens pessoais e de negócio. Os consumidores deverão estar mais atentos e conhecedores das coberturas dos seus seguros, bem como procurar por soluções que garantam as suas necessidades.

Para o grupo geracional nascido entre 1993 e 1998, mais conhecidos como os Zillenials ou geração Z, as necessidades enquanto trabalhadores vão além dos benefícios tradicionais. A sustentabilidade é um tema basilar, mas além disto, procuram uma cultura empresarial e um ambiente de trabalho que se alinhe o melhor possível com os seus valores pessoais. Por isto, consideram fundamental um pacote mais completo de benefícios que vá ao encontro das suas necessidades pessoais, no sentido do bem-estar. Isto é particularmente importante no caso de seguros de vida e seguros de saúde.

A perspetiva financeira

Temos assistido a um grande aumento das taxas de juro nominais como resposta ao aumento da inflação. Prevê-se que estas taxas se mantenham elevadas, em contraste com o verificado nos últimos anos, o que irá impactar as margens das empresas de seguros. Por um lado, a inflação prejudica as rentabilidades do ramo não vida mas, por outro, as taxas de juro elevadas tenderão a ser positivas para as margens financeiras.

2023 para as seguradoras

O setor segurador enfrentará, assim, desafios persistentes nos próximos anos, nomeadamente retornos após o custo do capital e riscos geopolíticos, bem como novos desafios e incertezas, principalmente resultantes de uma inflação elevada e ambientes macroeconómicos voláteis. No entanto, existem razões para otimismo e oportunidades para aqueles que conseguem identificar, investir e capitalizar as suas capacidades distintivas para satisfazer as expectativas dos seus proprietários e partes interessadas. Em última análise, um panorama industrial em mudança pode permitir às seguradoras superar os atuais desafios de desempenho, transformando onde e como geram valor.

É fundamental:
• Construir uma organização orientada para os resultados;
• Construir uma forte capacidade de gestão da mudança;
• Adotar um modelo de entrega ágil.